Eu Não Tenho um Complexo de Salvador.

Hã? Eu consegui! Ufa. O minuto mais difícil da minha vida, sem dúvida. O nome da raça também soa legal!

Abro meus olhos e examino meu corpo. A primeira coisa que noto é que os pelos do meu braço sumiram. Com um movimento brusco da minha mão, toco o topo da minha cabeça com grande ansiedade. Ufa. Ainda tenho cabelo na cabeça. Não tenho nada contra caras carecas, de jeito nenhum, mas prefiro ter meu cabelo escuro curto e exuberante. Era uma das minhas melhores características segundo as mulheres.

Flexiono meus músculos. Não sinto muita diferença. Certamente não me tornei um super-humano de nível 100 de repente.

Minhas roupas também não estão ensanguentadas, ao contrário do que eu esperaria após o evento pelo qual acabei de passar. Talvez aquele líquido preto tenha absorvido tudo.

Agora que dei uma olhada melhor no meu corpo, não mudou muita coisa.

No entanto, me sinto um pouco melhor em geral. Pensamentos mais rápidos, mais energia. Sem dor no meu ombro onde costumava doer muito depois de me machucar durante um jogo de basquete.

Minha altura não mudou pelo que posso perceber, provavelmente ainda tenho 185 centímetros (6'1) de altura.

Parece que meu corpo foi reestruturado por aquele processo agonizante.

Se existe um sistema, talvez eu também tenha aquelas telas que acompanham meu progresso com níveis?

"Status!" digo com um tom de comando e imagino a mim mesmo abrindo uma janela de status como a de um RPG.

Algo aparece na minha frente. Instintivamente movo minha mão até ela, e atravessa. Não é uma construção física; provavelmente só eu posso vê-la. Talvez seja uma projeção da minha mente. Também imagino fechá-la, o que funciona, e abri-la novamente apenas com um pensamento, o que, novamente, é um sucesso. Agradeço a tudo que é sagrado por não precisar dizer essas coisas em voz alta...

[Nome: -]

[Raça: Primordial]

[Título: -]

[Nível Primordial: 1. XP 0/100]

[Classe Primária: Plebeu lvl 1]

[Classes Secundárias:

1. -

2. -

3. -]

[Vitalidade: 11]

[Força: 10]

[Agilidade: 10]

[Inteligência: 10]

[Sabedoria: 10]

Por que não tenho um nome? Será que quer que eu decida como me chamar? Não me importo, então.

"Meu nome será Quinlan Noir de agora em diante."

[Nome: Quinlan Noir]

[Raça: Primordial]

[Nível Primordial: 1. XP 0/100]

[Classe Primária: Plebeu lvl 1]

[Classes Secundárias:

1. -

2. -

3. -]

[Vitalidade: 11]

[Força: 10]

[Agilidade: 10]

[Inteligência: 10]

[Sabedoria: 10]

[Pontos de Habilidade Não Utilizados: 0]

[Pontos de Atributo Não Utilizados: 0]

Enquanto estou olhando, percebo que também tenho medidores de Saúde e Mana.

[Pontos de Vida: 110/110]

[Pontos de Mana: 100/100]

Não sei como os pontos de vida funcionam nesta realidade tipo jogo, no entanto. E se eu perder um braço? Ainda regenero para 110 HP depois de um tempo, tenho menos HP máximo, ou meu braço regenera de alguma forma? Há muitas coisas que exigem mais investigação.

Legal. Agora vejamos... Como peço descrições?

Assim que pensei nisso, uma tela adicional apareceu.

[Primordial: Uma raça única que se acredita ser ancestral de todas as outras, os Primordiais são incomparáveis em adaptabilidade. Ganhe três slots de classe adicionais e cada classe ganha experiência a uma taxa 3x maior. Apenas a Classe Primária concede bônus de atributos. Ganhe a estatística 'Nível Primordial' que também recebe a taxa de crescimento aumentada em 3x. Aumente o 'Nível Primordial' para ganhar Pontos de Habilidade e Atributo. Ganhe a habilidade de trocar classes com um simples pensamento.]

Uau.

Isso é um presente inicial e tanto. Não me torna OP desde o início, mas me dá algumas vantagens incríveis a longo prazo. Sou um escalador de fim de jogo, assim como meu estilo de jogo preferido em um certo videogame onde é preciso destruir o Nexus inimigo.

[Plebeu: Classe Inicial]

[Efeito: Pequeno Aumento de Vitalidade]

[Habilidade Base: Nenhuma]

Então é por isso que minha Vitalidade é 11 em vez de 10. Parece que 'Pequeno Aumento' equivale a um bônus de 10%.

Agora a pergunta a fazer é como ganho mais classes? Espero não ter que pagar uma fortuna para alguém me ensinar por anos...

Antes que eu possa me maravilhar mais com as novidades que a vida me jogou, ouço um som estridente.

"Skreee!"

"Kyaaa! Goblins! Pai!!!"

"Estou indo! Esconda-se dentro, Abóbora!"

Ah, cara. Um cenário inicial? Quer que eu mate os goblins e ganhe o favor dos comerciantes viajantes? Talvez eles me deixem viajar com eles até a cidade próxima e me apresentem como o mundo funciona e outras coisas básicas.

Movo-me lentamente pela área arborizada. Não quero que os goblins me peguem; não posso me defender adequadamente apenas com meus punhos. Nem tenho armadura; ainda estou com meu moletom e calças.

Os sons de batidas, gritos e berros estão ficando mais altos. Estou me aproximando.

Diminuo ainda mais meu ritmo e me movo o mais furtivamente possível.

O quê, você achou que eu correria para lá e bancaria o herói? Jogaria fora minha única chance de uma vida pela qual ansiava tão veementemente?

De jeito nenhum.

Não tenho complexo de salvador.

Finalmente chego à cena da ação enquanto espio por trás de uma árvore robusta a uns cem metros de distância. Uma distância confortável e segura.

Bem, os comerciantes não estão vencendo. Um cara está sentado na estrada, apertando as mãos na garganta sangrando. Há um homem ainda lutando contra a dúzia ou mais de goblins. E deixe-me dizer, essas criaturas não são o grupo mais bonito.

"Haaah!" ele grita enquanto avança com uma lança. Ele empala um dos pequenos desgraçados verdes.

O resto ataca-o impiedosamente, batendo, mordendo, arranhando sua pele. Suas armas enferrujadas perfuram sua carne. Ele grita e então cai no chão sem cerimônia. Apenas dois defensores armados para uma carruagem de comerciante? Que pão-duros.

Sim. Aqui está. Duas mulheres estão sendo arrastadas. Claro, elas não estão sendo mortas. Imagino qual delas é 'Abóbora'. Provavelmente a mais jovem. Elas estão gritando e chorando a plenos pulmões. Não há igualdade de gênero neste mundo também. Embora seja muito discutível qual dos dois gêneros tirou a pior sorte. Meu voto é no chamado sexo frágil. Depois de ouvir alguns de seus gritos quase indiscerníveis, agora sei que são a esposa e a filha do primeiro homem que caiu.

Coitado ainda está sentado lá com a garganta cortada, vendo sua vida desmoronar. Ele abre e fecha a boca, mas nada sai além de mais sangue. Ele está ficando muito pálido até que finalmente cai para o lado, sem vida.

Imagino que as mulheres estão sendo levadas porque os goblins precisam de cozinheiras e empregadas, então eles as 'contrataram'. Sim, nada pior vai acontecer com elas. Com certeza.

Cara, mundos de fantasia medieval são bem diferentes.

Sinto-me culpado por não intervir? Sim, um pouco.

Vou perder o sono por isso? Não.

Não tenho arma, nem armadura, nem treinamento. Sou um ninguém de nível um. Não sou ingênuo o suficiente para me considerar o tipo de personagem principal que seria salvo pela armadura do enredo mesmo se cometesse erros.

Não fui enviado aqui por alguma divindade para salvar o mundo ou algo assim. Pelo menos, não fui notificado da minha missão divina. Assim, viverei minha vida como acho melhor, que é sobreviver e me fortalecer de forma inteligente, não pulando em cenários onde tenho poucas chances de sucesso.