CAPÍTULO 9 – A TERCEIRA LÁGRIMA DA LUA

A terceira lua sangrou.

Não com timidez.

Mas com fúria.

O céu, antes calado, se rasgou em lamentos.

Estrelas caíam como cinzas.

E o deserto inteiro ficou vermelho — não por causa do sol, mas da presença dele.

Ak-Zarel havia despertado.

Nefer ficou em silêncio, observando o céu.

O bracelete em seu pulso agora estava rachado.

A luz que antes o guiava tremia, fraca… como uma vela prestes a apagar.

Iset colocou a mão em seu ombro.

— Está chegando a hora.

— Não. — ele respondeu. — Já chegou.

No coração do deserto, um novo templo havia emergido. Não construído... mas revelado. Como se sempre estivesse ali, enterrado sob os pecados do passado.

Chamavam-no de O Trono da Primeira Noite.

Era para lá que Nefer deveria ir.

Mas não para vencer.

E sim… para decidir.

Porque a guerra já estava em movimento.

Tribos inteiras estavam se curvando diante da sombra de Ak-Zarel, hipnotizadas por promessas de poder e imortalidade.

A cidade de Taben, no leste, queimava.

Os ventos traziam o cheiro de carne e fé morta.

— Eles o seguem como um deus. — disse Iset, olhando o horizonte. — E ele age como um pai que volta para buscar os filhos que o traíram.

— E o que eu sou pra ele? — Nefer perguntou.

Ela não respondeu.

Eles seguiram em silêncio.

Chegaram à beira de uma fenda profunda.

No fundo... o templo.

Dezenas de degraus de pedra negra, cobertos por símbolos que se moviam como serpentes adormecidas.

— Quando você pisar lá dentro… — Iset falou, com a voz embargada — …nada em você vai continuar o mesmo. Ou você o enfrentará... ou o abraçará.

Nefer desceu.

Um a um.

Degraus que cantavam com sua presença.

Ao chegar à porta do templo, ela se abriu sozinha.

Dentro… o frio.

Mas não um frio comum.

Era o tipo de frio que morava dentro dos ossos. Que arrancava memórias e as devorava em silêncio.

E então… ele apareceu.

Ak-Zarel.

Desta vez, não como uma sombra.

Mas como homem.

Vestido com o ouro dos reis e os olhos de um vazio que consumia tudo.

— Você voltou.

— Finalmente, meu filho.

Nefer encarou-o.

O bracelete reagiu. Luz e sombra duelando em sua pele.

— Eu não sou seu.

Ak-Zarel sorriu.

— Ainda não.

Mas será.

Porque mesmo as luzes mais fortes…

são feitas de sombras.