Daehyn já estava se preparando para sair quando o celular de Harin vibrou mais uma vez sobre a mesa. O nome "MÃE" brilhava na tela, e a atmosfera do quarto mudou instantaneamente. O sorriso que antes adornava o rosto de Harin desapareceu, dando lugar a uma expressão tensa. Ela hesitou antes de atender.
— Alô? — Sua voz saiu contida, quase temerosa.
Daehyn fingiu não prestar atenção, mas os músculos de Harin enrijecendo e o olhar fixo no chão diziam tudo. A conversa do outro lado parecia dura, carregada de exigências ou cobranças. O olhar de Harin se tornou distante, e suas mãos apertaram a borda do cobertor como se fosse a única coisa mantendo-a no lugar.
— Eu já disse que estou fazendo o meu melhor... — murmurou Harin, sua voz vacilando.
Daehyn parou de calçar os sapatos e olhou para a garota. O silêncio denso preencheu a sala, apenas quebrado pela voz abafada do outro lado da linha. De repente, Harin balançou a cabeça e desligou abruptamente. O celular caiu no sofá quando sua respiração começou a acelerar descontroladamente.
— Merda... — Harin sussurrou, levando as mãos ao peito. Sua respiração ficou mais curta, rápida e irregular. Seus olhos arregalaram-se, a visão começando a embaçar. Seu corpo parecia não responder, e a pressão em seu peito aumentava como se estivesse sendo esmagada.
Daehyn percebeu imediatamente. Aproximou-se e ajoelhou-se ao lado dela, tocando de leve seu ombro.
— Harin, respira devagar — sua voz era firme, mas surpreendentemente suave.
Harin tentou falar, mas o nó na garganta era forte demais. Seu corpo tremia, e o desespero era visível em seu olhar. Ela sentia que ia sufocar.
— Ei, olha pra mim. — Daehyn segurou seu rosto com cuidado, forçando Harin a focar nela. — Respira comigo. Inspira... — Ela demonstrou, puxando o ar lenta e profundamente. — Agora solta devagar.
Harin tentou imitar, mas seu peito ainda doía. Daehyn, então, segurou uma das mãos dela e apertou levemente.
— Você está segura. Aqui não tem nada te ameaçando. É só você e eu. Se concentra na minha voz.
O toque e as palavras trouxeram um fiapo de lucidez para Harin. Ela tentou novamente acompanhar a respiração de Daehyn. Aos poucos, os tremores diminuíram, e sua visão ficou menos turva. As lágrimas escorriam pelo seu rosto, mas a sensação esmagadora foi se dissipando.
Quando finalmente conseguiu respirar sem sentir que ia desmoronar, Harin soltou um soluço trêmulo. Daehyn não disse nada, apenas ficou ali, segurando sua mão e garantindo que ela não estivesse sozinha.
— Eu... odeio me sentir assim — Harin confessou, sua voz falhando.
— Eu sei — respondeu Daehyn. — Mas isso não te torna fraca.
Houve um silêncio. Harin respirou fundo e fechou os olhos por um momento. Quando os abriu, encontrou o olhar de Daehyn, ela não via apenas frieza ali. Via preocupação. Cuidado.
— Obrigada por ficar — Harin murmurou.
Daehyn apertou sua mão uma última vez antes de soltá-la.
— Tudo bem.
Harin sentiu seu coração apertar, mas dessa vez não por medo ou ansiedade. Era uma sensação estranha.
O silêncio pairava sobre o ambiente, interrompido apenas pela respiração entrecortada da garota, que aos poucos voltava ao ritmo normal. Daehyn ainda estava ao seu lado, sentada no chão, observando-a com atenção para garantir que ela estivesse bem. Depois de alguns minutos, Harin passou as mãos pelo rosto, exausta, mas visivelmente mais calma.
— Você quer um copo d'água? — Daehyn perguntou, com a voz mais suave do que de costume.
Harin assentiu, e Daehyn rapidamente se levantou para pegar a água. Ao retornar, ela entregou o copo para Harin, que bebeu alguns goles antes de apoiar a cabeça no encosto do sofá.
— Obrigada — murmurou Harin, encarando um ponto fixo na parede.
Daehyn acabou quebrando o silêncio.
— Quem era? — perguntou, referindo-se à ligação que havia desencadeado a crise. — Quem estava do outro lado da linha para te deixar assim?
Harin segurou o copo com mais força, ponderando se deveria responder. No fim, soltou um suspiro cansado e decidiu confiar em Daehyn.
— Minha mãe. — Sua voz saiu mais baixa, quase relutante. — Nossa relação nunca foi boa. Eu cresci tentando agradá-la, tentando ser a filha perfeita, mas nada nunca foi o suficiente. Ela sempre me cobrava mais, sempre queria mais... Até que chegou um ponto em que eu não aguentei mais e vim embora. Vim para cá para tentar viver minha própria vida sem a sombra dela me controlando.
Daehyn ficou em silêncio, absorvendo as palavras. Ela sabia o que era viver sob a pressão de alguém que espera algo de você, algo que talvez você nunca consiga alcançar.
— Deve ter sido difícil — Daehyn disse, sincera.
Harin soltou uma risada sem humor.
— Foi. Ainda é. Ela nunca desiste. Sempre tenta me puxar de volta, me fazer sentir que sou ingrata por tentar ser independente. — Ela passou a mão pelos cabelos, frustrada. — Mas eu não vou voltar. Não posso.
Daehyn assentiu, compreendendo mais do que gostaria de admitir.
— Eu te entendo — disse, desviando o olhar. — Meu pai... Ele sempre me cobrou muito. Sempre esperou que eu fosse a melhor, que eu me igualasse à número um da escola Seonhwa. Nunca importou o quanto eu me esforçasse, sempre havia algo a melhorar, algo a superar. Eu me tornei obcecada com isso. Mas, sinceramente? Eu estou cansada. Estou farta de ser assim. Só depois que fui morar com a minha mãe as coisas começaram a melhorar um pouco.
Harin olhou para Daehyn com uma expressão suave, como se estivesse vendo-a sob uma nova perspectiva.
— Eu nunca imaginei que você passava por isso também — admitiu. — Agora entendo porque é tão obssecada por seus estudos.
Daehyn deu um pequeno sorriso.
— Ninguém imagina. Eu faço questão de não demonstrar. Não sou uma pessoa muito legal.
As duas ficaram em silêncio, absorvendo tudo o que haviam compartilhado. De alguma forma, essa troca de segredos e medos parecia ter criado um novo tipo de conexão entre elas. Naquela noite, ambas tiveram uma outra percepção uma da outra.
Daehyn estava ajoelhada no chão, ainda segurando a mão de Harin, sentindo o resquício de tensão que ainda restava no corpo dela.
Aos poucos, a tempestade emocional que tinha se formado dentro dela parecia dar lugar a um sentimento suave, tênue, mas ainda assim intenso.
Foi nesse instante que Harin realmente olhou para Daehyn. Não apenas viu sua presença ali, mas enxergou além da fachada de frieza e controle que ela sempre carregava. O coração de Harin apertou de uma forma diferente, uma sensação nova e indefinível. Sem pensar muito, sem calcular as consequências, apenas movida pelo impulso daquele momento íntimo, ela se inclinou e depositou um beijo suave nos lábios de Daehyn.
Foi um toque breve, hesitante, mas carregado de luxúria.
Os olhos de Daehyn se arregalaram no momento em que sentiu o calor dos lábios de Harin contra os seus. A surpresa foi avassaladora, mas antes que pudesse processar, seu corpo respondeu por conta própria. Ela retribuiu o beijo, fechando os olhos, sentindo um calor inexplicável se espalhar por seu peito.
No entanto, assim que os lábios de Harin se afastaram, a realidade atingiu Daehyn como uma onda gelada. O que acabara de acontecer? Seu coração batia de maneira descompassada, e sua mente gritava em negação. Como alguém como Harin, que parecia perfeita e sempre rodeada de atenção, poderia ter feito isso? Como ela poderia querer alguma coisa dela?
— Me desculpe... — A voz de Harin quebrou o silêncio, carregada de incerteza.
Daehyn piscou algumas vezes, como se tentasse se ancorar de volta à realidade. Ela sentia o olhar ansioso de Harin sobre si, esperando uma reação. Mas Daehyn não sabia o que dizer. Não sabia o que sentir.
— Está tudo bem — foi tudo o que conseguiu murmurar, sua voz soando distante até para si mesma.
Sem esperar mais, ela se levantou abruptamente, pegando sua bolsa e indo em direção à saída. Precisava sair dali. Precisava de ar. Seu peito parecia pesado, e sua mente, um turbilhão de pensamentos desconexos. Sentiu Harin dar um passo à frente, talvez para impedi-la de ir tão rápido, mas parou.
— Daehyn... — a voz de Harin soou baixa, quase como um pedido.
Mas Daehyn não olhou para trás. Apenas saiu, fechando a porta suavemente atrás de si.
O caminho para casa pareceu durar uma eternidade. Sua mente repetia aquele momento incessantemente, como se tentasse encontrar uma explicação que simplesmente não fazia sentido. Seu coração ainda estava acelerado, mas não sabia se era pelo beijo ou pelo pavor que sentia ao pensar nele.
"Ela não pode ter me beijado de propósito." Esse pensamento martelava sua cabeça. "Foi um erro. Um impulso. Isso não significa nada."
Ela não era digna do amor de ninguém. Nunca tinha sido. E não poderia se permitir pensar que alguém como Harin poderia querer esse tipo de relacionamento com ela. Era mais fácil negar, esquecer, fingir que aquilo nunca aconteceu.
E foi exatamente isso que decidiu fazer.