Daehyn acordou na manhã seguinte no seu horário habitual. O quarto ainda estava em penumbra, com as cortinas fechadas, e o ambiente silencioso. Ela se sentou na cama, piscando algumas vezes para se acostumar com a luz fraca que entrava pela fresta da cortina. Ao seu lado, Harin dormia tranquilamente, seu rosto sereno e respiração suave. Daehyn pensou um pouco, mas acabou se inclinando levemente para conferir sua temperatura. Encostou de leve a mão na testa da jovem e sentiu que o calor excessivo havia diminuído. O medicamento tinha feito efeito, e Harin estava menos febril.
Satisfeita com a melhora, Daehyn se levantou sem fazer barulho e saiu do quarto, indo até o banheiro onde havia deixado seu uniforme na noite anterior. Após se arrumar rapidamente, penteou o cabelo e pegou o celular para solicitar um café da manhã para Harin. Escolheu algo leve, que fosse fácil de comer, e antes de sair, voltou ao quarto para se despedir.
— Prometa que vai tomar os remédios na hora certa e se alimentar — disse Daehyn, com firmeza.
Harin, que acabava de acordar, sorriu ao ouvir o tom quase autoritário da outra. Seu olhar carregava algo próximo da diversão.
— Eu não sabia que você era tão cuidadosa assim — comentou, sua voz ainda rouca pelo sono.
— Estou apenas cumprindo ordens — Daehyn rebateu, virando o rosto.
— Sei... — murmurou Harin, ainda com um sorriso preguiçoso. — Tudo bem. Eu estou me sentindo mais disposta. Vou fazer tudo certo.
— Ótimo.
Harin a acompanhou até a porta, ainda envolta no cobertor. Daehyn, sem saber ao certo como se despedir, fez apenas um aceno de cabeça, já se virando para ir embora. No entanto, antes que pudesse sair, a voz de Harin a chamou:
— Daehyn.
Ela parou e virou o rosto levemente.
— Hmm?
Harin sorriu, dessa vez sem qualquer provocação.
— Obrigada por cuidar de mim.
Daehyn percebeu que era um agradecimento sincero. A maneira como Harin a olhava a fez desviar o olhar por um segundo antes de responder:
— Não precisa agradecer.
Houve um breve silêncio, até que Harin falou novamente, em um tom casual:
— Se quiser passar aqui mais tarde, sinta-se convidada.
Daehyn apenas assentiu levemente antes de sair, fechando a porta atrás de si. O motorista de Harin já a aguardava na entrada do condomínio para levá-la à escola.
O caminho até a academia Seonhwa foi silencioso. Daehyn estava perdida em pensamentos, lembrando-se da noite anterior e de como, sem perceber, acabara cuidando de Harin. Foi algo instintivo, mas agora, à luz do dia, parecia um pouco estranho. Nunca se imaginou fazendo algo assim por alguém que não fosse sua mãe ou alguém muito próximo.
Ao chegar à escola, desceu do carro e percebeu que algumas pessoas observavam, curiosas. No entanto, ninguém comentou nada diretamente. Apenas Anya e Riyeon, que estavam mais afastadas, trocaram um olhar cúmplice.
— Interessante — murmurou Anya, inclinando a cabeça levemente.
— Bastante — concordou Riyeon, com um pequeno sorriso no canto dos lábios.
As duas assistiram enquanto Daehyn caminhava para dentro do prédio, como se nada tivesse acontecido, mas elas sabiam que algo estava fora do eixo.
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Dentro da sala de aula, o ambiente estava carregado de murmúrios. Algumas alunas questionavam o professor sobre notícias de Harin, mas ele não tinha informações sobre sua melhora. Sem pensar, Daehyn interveio:
— Ela já se sente melhor.
As alunas voltaram-se para ela, surpresas.
— Como você sabe disso? — perguntou uma delas, com curiosidade evidente.
Daehyn ficou sem resposta, o rosto corando levemente. Riyeon percebeu o desconforto e interveio rapidamente:
— Fui eu quem disse a ela. Harin me avisou mais cedo.
A explicação de Riyeon pareceu satisfazer a curiosidade das alunas, mas ela notou o desconcerto de Daehyn, o que apenas aumentou sua própria curiosidade.
Ao final da aula, Daehyn decidiu não assistir à aula extra. Em vez disso, comprou algumas sobremesas e dirigiu-se à mansão de Harin, desejando saber como ela estava.
Ao chegar, foi recebida pelo empresário de Harin, sentindo-se um pouco sem jeito. Ele percebeu a animação de Harin com a visita e decidiu deixá-las a sós, contente por ver que Harin fizera uma amiga.
Harin, surpresa e contente com a visita, sorriu intrigada.
— Não esperava te ver tão cedo.
— Achei que poderia gostar de uma companhia — respondeu Daehyn, entregando as sobremesas.
Harin aceitou o presente com um sorriso genuíno, sentindo-se aquecida pela consideração inesperada. Pegou uma das embalagens e abriu, analisando a sobremesa com interesse antes de pegar um pedaço com o garfo.
— Parece delicioso — comentou, provando e fechando os olhos, apreciando o sabor.
Daehyn observou, satisfeita por ter acertado na escolha. Ela se sentou na poltrona em frente a Harin, pegando sua própria sobremesa, mas sem tanto entusiasmo. Seu olhar vagava pela sala espaçosa, elegante e organizada demais. Era estranho estar ali, mas ao mesmo tempo, parecia menos incômodo do que deveria.
— Você realmente veio só para me ver? — perguntou Harin, brincando com a colher entre os dedos.
Daehyn hesitou antes de responder.
— Já que estava por perto... pensei em passar para saber se você estava bem.
Harin arqueou uma sobrancelha, como se não acreditasse completamente, mas não insistiu.
— Hm, entendo. Então, aproveitando que você está aqui... o que acha da ideia de Jiwon se tornar minha assistente na escola?
Daehyn franziu o cenho, pegando um pedaço da sobremesa e mastigando devagar.
— Assistente?
— Sim — Harin sorriu. — Ela é muito boa em dispersar multidões. Ninguém quer ficar no caminho dela, então achei que poderia ser útil.
Daehyn sentiu um incômodo inexplicável com aquela ideia. Era verdade que Jiwon tinha uma presença forte e uma personalidade imponente, mas algo naquela decisão a incomodava. Ela mesma não entendia por quê.
— Hm... — murmurou, sem saber como responder.
Harin percebeu a expressão dela e inclinou levemente a cabeça, observando-a com atenção.
— Você não gostou da ideia?
— Eu...
Daehyn desviou o olhar, tentando encontrar uma razão lógica para o que sentia, mas nada fazia sentido. Por que aquilo a incomodava tanto?
— Eu só... não esperava por isso — respondeu finalmente.
Harin manteve o olhar sobre ela por um momento mais longo do que o necessário, como se tentasse ler seus pensamentos.
— Interessante... — disse em um tom que fazia Daehyn se sentir ainda mais desconfortável.
A atmosfera entre as duas mudou sutilmente, tornando-se carregada de algo que Daehyn não conseguia definir. Era apenas sobre Jiwon? Ou havia algo mais ali, algo que ela ainda não compreendia?
Para aliviar a tensão que nem sabia por que existia, Daehyn desviou o foco.
— Enfim... vai mesmo fazer isso?
Harin sorriu de leve, deixando a colher cair no prato e se recostando no sofá.
— Sim. Mas, quem sabe... às vezes, mudanças podem ser inesperadas.
Daehyn não soube dizer se aquilo era apenas uma observação casual ou se Harin estava sugerindo algo mais. Mas uma coisa era certa: aquela visita, que deveria ter sido simples, agora parecia ter levantado ainda mais perguntas dentro dela.