flutuando

Harin estava no escritório da sua mansão, sentada atrás da grande mesa de mogno, os dedos distraidamente tocando a borda de um copo com água enquanto Woobin gesticulava entusiasmado à sua frente. O empresário falava animadamente sobre o fechamento do contrato com o dono da boate que haviam visitado recentemente, um magnata da indústria dos cosméticos que queria Harin como rosto de sua nova campanha. Era uma oportunidade incrível, uma oportunidade que alavancaria ainda mais sua carreira na Coreia.

No entanto, apesar do entusiasmo evidente de Woobin, Harin mal prestava atenção. Seus olhos estavam fixos em um ponto indefinido da mesa, e sua mente, longe dali. Os últimos dias tinham sido uma avalanche de sentimentos conflitantes. Por mais que tentasse manter o foco no trabalho e nos estudos, sua cabeça estava sempre em outro lugar... ou melhor, em outra pessoa.

— Você poderia, por favor, voltar para o planeta Terra? — Woobin interrompeu sua fala, cruzando os braços sobre o peito. — Estou há horas conversando com você, mas vejo que estou aqui sozinho.

Harin piscou algumas vezes, tentando assimilar o que ele dizia, mas apenas conseguiu murmurar:

— Me desculpa. O que você dizia?

Woobin suspirou, claramente frustrado.

— O que diabos você tem esses últimos dias? Parece que anda no mundo da lua. Como se estivesse com os pensamentos sobrecarregados.

— Não tenho nada. — Harin respondeu rapidamente, mas até mesmo ela percebeu a falta de convicção em sua voz.

Ele a encarou desconfiado, recostando-se na cadeira à sua frente.

— É o excesso de estudos que está tirando sua concentração?

— Não. Estou indo bem. — respondeu com um leve encolher de ombros.

— Se não é isso, então o que mais poderia ser? Você está muito diferente, Harin. Nem precisa mais da minha ajuda. Sempre que venho atrás de você, está com aquela sua amiga... como é mesmo o nome dela?

— Daehyn. — Harin respondeu, o nome deslizando suavemente de seus lábios.

Woobin arqueou uma sobrancelha, notando o brilho involuntário no olhar da pupila.

— Vocês andam muito juntas ultimamente. Eu soube que ela é filha da sua advogada.

— Sim. Ela é. Nós nos tornamos próximas — disse de maneira neutra, mas não conseguiu evitar um pequeno sorriso ao falar dela. — É bom ter outra pessoa comigo além de você. Assim, sobra mais espaço para você viver sua própria vida. Isso não é bom?

Woobin soltou uma risada curta.

— Só é bom se para você for também. Você nunca foi um estorvo para mim, sabe disso.

— Eu sei. — ela respondeu, mas sua mente ainda estava distante.

O que Woobin não sabia, era que Harin tinha se apaixonado por Daehyn. E que vivia perdida em pensamentos por causa dela, passava grande parte do dia relembrando os momentos que compartilhavam. Os olhares furtivos, os toques casuais que se prolongavam um pouco mais do que o necessário, a forma como Daehyn corava quando era provocada.

Ela nunca tinha sentido um sentimento tão forte por alguém antes. Por isso, tudo parecia tão confuso e irresistível. Era como se Daehyn tivesse invadido seu mundo de forma avassaladora, preenchendo espaços que Harin nem sabia que estavam vazios.

— Você gosta dela, não gosta? — Woobin perguntou repentinamente, interrompendo seus pensamentos.

Harin arregalou os olhos, o coração disparando com a pergunta direta.

— O quê? Do que você está falando? — tentou disfarçar, mas seu tom defensivo apenas confirmou as suspeitas de Woobin.

— Harin, por favor. Eu te conheço melhor do que ninguém. Já te vi interessada em algumas pessoas antes, mas nunca te vi assim... tão distante e perdida nos próprios pensamentos. Você está gostando dessa garota.

Harin desviou o olhar, mordendo o lábio inferior. Queria negar, dizer que ele estava vendo coisas onde não existiam, mas sabia que seria inútil. Woobin a conhecia bem demais para ser enganado.

— Eu... — ela hesitou, soltando um suspiro pesado. — Eu não sei. Quer dizer, eu nunca senti isso antes. É diferente.

Woobin observou a amiga antes de sorrir de canto.

— Diferente... mas bom, certo?

Ela assentiu lentamente, um pequeno sorriso brincando em seus lábios.

— Sim. Muito bom.

— Então qual é o problema? — ele inclinou-se para frente, apoiando os cotovelos na mesa. — Se te faz feliz, por que você parece tão inquieta?

Harin mordeu o lábio novamente, lutando para encontrar as palavras certas. Como poderia explicar o medo que sentia? O medo do julgamento, das consequências, de sua mãe, que já a ameaçava há tempo suficiente para saber que qualquer deslize poderia ser fatal para sua carreira.

— O problema é que a felicidade nem sempre vem sem consequências. — respondeu, a voz mais baixa do que pretendia. — Principalmente, para mim.

Woobin suspirou, entendendo o que ela queria dizer.

— Você tem medo da repercussão disso?

Harin assentiu.

— Não é só sobre mim. É sobre ela também. Não quero que Daehyn seja prejudicada por algo que ainda nem sabemos onde vai dar.

— Você já falou com ela sobre isso? — perguntou, limpando os óculos.

— Ainda não. — Harin admitiu. — Eu não quero assustá-la. E também... não quero estragar o que temos agora.

Woobin ficou em silêncio antes de dar um sorriso tranquilizador.

— Olha, eu não sou especialista em relacionamentos, mas sei que você nunca se permitiu sentir nada parecido antes. Não jogue fora um relacionamento que pode ser incrível por medo do que pode acontecer. Se tem uma coisa que aprendi é que, se vale a pena, você precisa lutar por isso.

Harin suspirou, absorvendo as palavras do amigo. Ele estava certo. Sempre esteve. E talvez fosse hora de finalmente enfrentar o que sentia... e decidir o que faria com isso.

— Obrigada, Woobin. — disse, sincera.

— Sempre. Agora, podemos voltar a falar de trabalho? Ou você vai continuar flutuando?

Ela riu e pegou os documentos à sua frente.

— Okay, okay. Pode continuar. Estou ouvindo agora.

Mas, no fundo, Harin sabia que a única coisa que realmente queria ouvir era a risada doce de Daehyn mais uma vez.