indiferença

O carro preto e luxuoso parou bem em frente aos portões da Academia Seonhwa, atraindo imediatamente a atenção dos alunos e, principalmente, dos paparazzi que aguardavam ansiosamente por uma foto exclusiva. Kyler saiu primeiro, ajeitando os óculos escuros e contornando o veículo para abrir a porta do passageiro. Harin revirou os olhos antes de descer, sentindo o peso dos olhares curiosos e dos flashes das câmeras disparando sem cessar.

— Vamos? — Kyler sorriu, oferecendo a mão para ajudá-la a sair.

Ela aceitou por pura formalidade.

— Você está adorando isso, não está?

— Com toda certeza! Os paparazzis aqui... são mais fervorosos do que em Paris.

Ao erguer os olhos, seu coração se apertou ao ver Daehyn chegando naquele exato momento. A garota parou ao vê-los juntos, seu olhar fixo por um breve segundo antes de desviar como se nada tivesse acontecido. Sem uma palavra, sem um gesto, Daehyn apenas passou por eles, ignorando completamente sua presença. Mas Harin viu. Viu o aperto de seus punhos, a maneira como seus ombros enrijeceram, a forma como seus passos se tornaram ligeiramente mais apressados. Era como se Daehyn estivesse fugindo, como se não quisesse permitir que a dor transparecesse em seu rosto.

Aquela reação fez Harin se sentir doente.

Kyler manteve a expressão impassível, alheio à troca silenciosa entre as duas. Ele colocou uma das mãos nas costas de Harin e a guiou em direção à entrada da escola. Os murmúrios, os cochichos, os olhares de surpresa e admiração não passaram despercebidos. Para todos ali, Kyler era o namorado perfeito, o príncipe encantado que qualquer garota sonharia em ter ao lado. Para Harin, ele era apenas um fantasma do passado que agora servia como escudo para protegê-la da verdade.

Assim que entrou na sala de aula, a comoção foi instantânea.

— Meu Deus, Harin! Você e Kyler estão mesmo juntos de novo? — uma colega praticamente gritou.

— Como é beijá-lo? Ele parece tão perfeito! — outra garota suspirou.

— Vocês são o casal mais lindo da Coreia! — acrescentou alguém no fundo da sala.

Harin forçou um sorriso, tentando esconder o incômodo que sentia com aquele alvoroço. Em meio àquela euforia coletiva, apenas uma pessoa se manteve completamente indiferente. Daehyn estava sentada no canto, folheando um livro que claramente não estava lendo. Seu semblante fechado, sua postura rígida. Era como se Harin tivesse voltado no tempo, para quando eram apenas duas desconhecidas dividindo o mesmo espaço, trocando olhares carregados de desprezo e desinteresse. Mas agora, as lembranças do que tinham vivido naquele curto espaço de tempo, tornava aquela indiferença ainda mais dolorosa.

O dia passou como um borrão. A cada tentativa de Harin de chamar a atenção de Daehyn, ela era recebida com um silêncio ensurdecedor. Quando cruzavam os corredores, Daehyn simplesmente desviava o olhar. Durante o almoço, sentou-se longe de seu grupo habitual, evitando qualquer contato visual. No treinamento, sequer corrigiu um de seus movimentos, como costumava fazer antes.

Aquela distância forçada estava acabando com Harin.

No final do dia, quando a última aula terminou, Harin não conseguiu mais se segurar. Esperou até que a sala estivesse quase vazia antes de se aproximar de Daehyn, que ainda guardava seus livros na mochila.

— Você vai continuar me ignorando? — sua voz soou mais frágil do que gostaria.

Daehyn não ergueu os olhos.

— Eu não estou te ignorando — respondeu, sem emoção.

— Você está, sim. Você mal olha para mim. Mal fala comigo. O que eu fiz para merecer isso?

Dessa vez, Daehyn a encarou. Seus olhos estavam sombrios, carregados de uma raiva velada.

— O que você fez? — ela soltou um riso baixo. — Você realmente quer que eu responda essa pergunta, Harin?

O peito de Harin apertou. Ela queria explicar, queria dizer que tudo aquilo não passava de uma mentira, que Kyler não significava nada para ela, mas as palavras ficaram presas em sua garganta. Como poderia contar a verdade sem colocar Daehyn em perigo? Como poderia se abrir sem trazer ainda mais problemas para ambas?

Antes que pudesse responder, Daehyn terminou de arrumar suas coisas e passou por ela sem dizer mais nada, saindo da sala e deixando Harin sozinha, sentindo o peso esmagador de suas próprias escolhas.

Mas Harin não desistiu, ela foi atrás dela. Assim que Daehyn atravessou o pátio, ouviu alguém chamá-la.

— Daehyn, espera! — Harin surgiu, correndo até ela. O coração de Daehyn pulou uma batida antes de se endurecer novamente. Ela não ia ceder. Não dessa vez. Ignorou a garota e continuou andando.

— Daehyn, por favor, me escuta! — Harin insistiu, alcançando-a e segurando seu braço. Daehyn virou-se bruscamente, tirando a mão dela de cima de si.

— O que você quer falar comigo? — sua voz saiu dura, carregada de rancor. — Depois de tudo que disse, depois de me tratar como se eu fosse nada?

Harin suspirou, seu olhar refletia desespero. — culpa? Tristeza? Medo?

— Não é isso... Eu... — Harin começou, mas Daehyn a interrompeu com um riso seco.

— O que foi? Mudou de ideia? Se arrependeu? — cruzou os braços, mantendo o tom ácido. — Ou quer me humilhar mais um pouco? Não cansou de exibir o seu namorado? Você acha que o meu coração é de pedra?

Harin apertou os punhos ao lado do corpo. Daehyn estava lançando tantas perguntas. E nenhuma delas, ela poderia responder.

— Você não entende...

— E nem quero entender, Harin! — Daehyn rebateu, os olhos queimando de raiva e dor. — Foi você quem me afastou, foi você quem disse que eu devia esquecer o que aconteceu. Então parabéns, você conseguiu! Eu superei. Agora me deixe em paz.

Aquela era uma mentira descarada, mas Daehyn não ia dar o gostinho de demonstrar sua dor.

Harin mordeu o lábio inferior, seus olhos brilhavam com alguma emoção que ela tentava esconder. Ela parecia prestes a dizer a verdade, mas então desistiu, desviando o olhar. Daehyn percebeu que ela não falaria. Mas não importava mais. Não queria mais tentar entender.

— Adeus, Harin. — Daehyn virou-se sem esperar resposta e caminhou até o carro, entrando rapidamente. Seu peito estava apertado, a respiração irregular. Assim que o veículo arrancou, ela se permitiu fechar os olhos, lutando contra as lágrimas.

Harin permaneceu parada no estacionamento, observando o carro desaparecer. O nó em sua garganta ficou ainda mais apertado. Ela queria dizer a verdade, queria contar tudo, mas não podia.