Harin respirou fundo antes de entrar no apartamento que Kyler estava morando. Ele a aguardava chegar. O confronto que estava prestes a ter com ele era inevitável. Depois de tudo o que descobriu, não havia mais espaço para dúvidas ou segredos. A senha do apartamento era a data de nascimento dele. Ao abrir a porta, encontrou Kyler casualmente sentado no sofá, mexendo no celular, como se nada estivesse acontecendo. Mas quando ele levantou os olhos e viu a expressão dela, sua postura mudou imediatamente.
— Precisamos conversar — ela disse, fechando a porta atrás de si.
Kyler observou-a antes de assentir e se endireitar no sofá.
— Eu imaginava que esse momento chegaria. Pode falar.
— Desde que você apareceu na Coreia, eu senti que algo não estava certo. Mas eu tentei ignorar, porque, no fundo, uma parte de mim queria acreditar que você poderia ter mudado. Mas agora eu sei de tudo, Kyler. Sei que a minha mãe está te chantageando. Sei que você foi enviado para arrancar informações sobre mim e sobre meus contratos. Eu quero ouvir da sua boca. A verdade, toda ela. Agora.
Kyler desviou o olhar, pressionando os lábios um no outro. Ele passou a mão pelos cabelos castanhos, visivelmente desconfortável. Então suspirou, derrotado.
— Você quer a verdade? Tudo bem. Vou contar desde o início.
Ele se recostou no sofá, encarando o teto por alguns segundos antes de voltar o olhar para ela.
— Nos reencontramos em um evento em Paris. Você sabe que ela sempre gostou de mim, e incentivava o nosso namoro. Ela não gostou quando anunciamos o término.
Harin apenas ouvia. Aquela mulher estava sempre um passo à frente.
— No começo, foi só uma conversa. Ela queria que eu te convencesse a voltar para Paris. Disse que você estava se recusando a voltar para casa e que precisava de alguém de confiança para trazê-la de volta. Eu disse que não poderia ajudar, que já fazia tempo que não falávamos, que seria impossível você me ouvir. Ela fingiu aceitar. Mas algumas semanas depois...
Ele engoliu em seco antes de continuar.
— Ela apareceu na porta do meu apartamento. E, Harin... ela tinha fotos. Muitas fotos.
— Fotos do quê? — Harin perguntou, sentindo um aperto no peito.
Kyler desviou o olhar novamente, como se sentisse vergonha.
— De mim e do meu namorado.
A revelação pairou no ar, até que Harin finalmente compreendeu o motivo dele. Ele estava passando pelo mesmo que ela. Ela já sabia do seu segredo, foi por isso que tiveram um falso namoro, para diminuir os rumores sobre a sexualidade dele.
— Meu namorado é um cara comum, Harin. Ele não tem nada a ver com esse mundo. Ele leva uma vida tranquila, longe da mídia. Se essas fotos fossem vazadas, ele não aguentaria. A minha família também... Você sabe como eles são. Eu perderia tudo.
Harin sentiu o estômago embrulhar. Sua mãe realmente não tinha limites.
— Ela me chantageou — Kyler continuou. — Disse que, se eu não a ajudasse, entregaria as fotos pessoalmente para os meus pais. Eu não tive escolha. O único jeito de proteger as pessoas que amo era fazer o que ela queria. E tudo o que ela queria era que eu me infiltrasse na sua vida e conseguisse cópias dos contratos que você assinasse. Só isso. Eu não sei qual é o plano dela com esses contratos, eu só sei que preciso das fotos de volta. Então eu aceitei.
Silêncio.
Harin fechou os olhos, tentando controlar a raiva e a frustração. Quando voltou a encará-lo, sua voz saiu firme.
— Você sabe o que isso significa, não sabe?
Kyler assentiu.
— Eu sou um traidor.
— Não — Harin corrigiu. — Você é uma vítima, como eu.
Ele ergueu os olhos, surpreso. Harin continuou:
— Minha mãe sempre foi manipuladora, mas agora ela passou dos limites. Se você quer proteger o seu namorado e eu quero recuperar minha liberdade, então temos que trabalhar juntos. Precisamos enganá-la.
— O que você quer dizer? — Kyler perguntou, visivelmente interessado.
— Você vai continuar fazendo o que ela mandou — Harin explicou. — Vai pegar contratos e entregá-los para ela... Mas eles serão falsos. Eu vou garantir que cada contrato que passar pelas suas mãos esteja cheio de informações falsas. Assim, descobriremos o que ela quer fazer com eles e podemos sabotá-la antes que ela tenha a chance de me prejudicar.
Kyler a encarou, absorvendo cada palavra.
— Isso é arriscado — ele murmurou, quase como se estivesse gostando da ideia.
— E você tem outra opção? — Harin retrucou.
Ele riu pelo nariz e balançou a cabeça.
— Não. Nenhuma. E quer saber? Eu gosto disso. Finalmente, posso fazer alguma coisa para ferrar com aquela mulher ao invés de apenas obedecer.
Harin assentiu, satisfeita.
— Ótimo. Agora precisamos ser cuidadosos. Você vai agir normalmente, continuar com essa farsa como se nada tivesse acontecido. Vai manter contato com ela e seguir as instruções como antes. Só que agora, você estará do meu lado.
Kyler estendeu a mão para ela.
— Temos um acordo, então?
Harin apertou a mão dele com firmeza.
— Temos um acordo.
Por um breve momento, um entendimento silencioso se estabeleceu entre os dois. Ambos foram vítimas da mesma pessoa. Ambos perderam coisas preciosas por causa dela. Mas agora, juntos, eles tinham uma chance de virar o jogo.
Harin sabia que aquilo era só o começo e sentiu que estava no controle.
E dessa vez, sua mãe não veria isso chegando.