O telefone de Harin vibrou sobre a mesa. Quando viu o nome na tela, seu estômago revirou. Era sua advogada. Ela atendeu imediatamente.
J. Harin: Alô? — Sua voz saiu firme, mas por dentro estava apreensiva.
Sra. Kim: Senhorita Joo Harin, espero não estar interrompendo nada importante — a voz da senhora Kim era calma, porém carregada de autoridade.
J. Harin: Não, de forma alguma. Algum problema? — Harin tentou soar natural, mas sua intuição já gritava que tinha alguma coisa errada.
Sra. Kim: Recebi algumas ligações hoje pela manhã de contratantes importantes. Eles relataram ter recebido cópias falsificadas de contratos assinados em seu nome. Há um padrão estranho, tentativas de transferir a sede desses contratos para Paris. Você sabe de algo sobre isso? — O tom dela era analítico, mas sem acusações.
Harin gelou. Seu coração começou a martelar no peito. Sua mãe tinha mordido a isca.
J. Harin: Eu... tenho uma suspeita, mas preciso falar com a senhora pessoalmente — respondeu Harin, sua mente já formulando um plano.
Sra. Kim: Estarei no escritório pelo resto do dia. Se puder vir, ficarei grata. Isso não é algo que pode ser ignorado.
J. Harin: Eu entendo. Estarei aí em breve.
Assim que desligou, Harin sentiu a necessidade de se preparar mentalmente para a conversa. Sua mãe não se contentava em controlar sua vida pessoal, agora estava manipulando até seus negócios. Mas ela não ficaria de braços cruzados. Ela sabia que sua mãe iria tentar usar aqueles contratos em benefício próprio.
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O escritório Kim Advocacia ficava no centro de Seul, um prédio moderno e imponente. Ao chegar, Harin foi recebida com profissionalismo e conduzida até a sala da senhora Kim. A advogada, elegantemente vestida, estava sentada atrás de uma grande mesa.
— Sente-se, Harin — ela indicou a cadeira à sua frente.
Harin obedeceu e respirou fundo antes de começar.
— Senhora Kim, antes de qualquer coisa, quero agradecer por me chamar para esclarecer isso. Sei que deve ter sido um choque.
— Eu só quero entender o que está acontecendo. Contratos falsificados são uma violação séria.
Harin assentiu e finalmente contou tudo. Falou sobre a mãe obsessiva, sobre como ela tentou forçá-la a voltar para Paris, como a chantageou, como instalou câmeras em sua casa sem seu consentimento e, finalmente, sobre Kyler e sua função como espião involuntário.
A advogada escutava em silêncio, analisando cada palavra. Quando Harin terminou, seus olhos estavam cheios de compreensão, mas também de seriedade.
— Sua mãe não está apenas tentando controlar você. Ela está cometendo crimes. Usar sua imagem e falsificar documentos em seu nome é grave. Você já pensou em tomar medidas legais contra ela? — perguntou a senhora Kim, cruzando as mãos sobre a mesa.
Harin hesitou. Processar sua própria mãe era um passo gigantesco. Mas, ao mesmo tempo, se ela não fizesse nada, nunca teria paz.
— O que exatamente poderia ser feito? — perguntou com um misto de medo e esperança.
— Podemos solicitar uma medida protetiva. Isso impediria qualquer tentativa dela de se aproximar de você ou de tomar decisões em seu nome. Você teria o controle total sobre sua vida e contratos sem interferências externas.
A ideia parecia tentadora, mas também assustadora. Significava romper de vez com sua mãe. Mas talvez fosse a única saída.
— Eu preciso pensar — murmurou, sentindo o peso da decisão.
— Compreendo. Mas pense rápido, Harin. Quanto mais tempo você demora, mais poder ela terá sobre sua vida.
Harin assentiu, sentindo que estava em um ponto sem retorno. Agradeceu à senhora Kim e saiu do escritório. Mas, ao cruzar a recepção, seu coração disparou. Daehyn estava ali, segurando alguns documentos, mas sua atenção estava totalmente voltada para ela. Seus olhos se estreitaram ao perceber a expressão preocupada de Harin.
— O que você está fazendo aqui? — perguntou Daehyn, sua voz carregada de curiosidade e preocupação.
Harin pensou em contar a verdade, expor tudo de uma vez. Mas antes que pudesse responder, a senhora Kim apareceu atrás dela.
— Ah, Daehyn, você chegou. Harin já estava de saída.
— O que aconteceu? — Daehyn fixou os olhos em sua mãe, esperando uma resposta.
A advogada suspirou e colocou uma mão leve no ombro da filha.
— Harin está lidando com alguns problemas pessoais. Não cabe a mim entrar em detalhes.
O olhar de Daehyn voltou para Harin, desta vez com mais intensidade.
— Se precisar de alguma coisa... — disse ela, a voz mais suave do que esperava.
Harin quis responder que precisava dela mais do que nunca. Mas, ao invés disso, apenas assentiu antes de sair. Sua mente estava tomada pela confusão e pela certeza de que sua mãe nunca desistiria facilmente. E agora, Daehyn estava começando a notar que algo estava acontecendo.
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A noite estava fria quando Harin ouviu batidas desesperadas na porta da mansão. Seus olhos se estreitaram em confusão ao perceber que era Kyler. Ele estava ofegante, os cabelos bagunçados e o rosto pálido. Ela abriu a porta e ele entrou apressado, fechando-a rapidamente atrás de si.
— O que aconteceu? — Harin perguntou, seu coração acelerando.
Kyler passou a mão pelos cabelos e olhou para ela com uma expressão que misturava medo e exaustão.
— Sua mãe descobriu sobre os contratos. E não foi da melhor forma.
O estômago de Harin revirou. Ela sabia que esse momento chegaria, mas não esperava que fosse tão rápido. Suas mãos instintivamente apertaram os pulsos.
— Como ela descobriu?
— Eu não sei exatamente. Mas ela me confrontou. Estava fora de si. Me acusou de traição, gritou comigo, exigiu respostas. Eu tentei me fazer de desentendido, como se também tivesse sido enganado, mas não sei se ela acreditou completamente.
Harin conhecia a mãe e sabia que quando ela perdia o controle, coisas ruins aconteciam.
— Isso significa que ela sabe que eu estou por trás disso — Harin murmurou, sentindo a tensão pesar sobre seus ombros.
— Sim. E por isso eu vim te avisar. Tome muito cuidado, Harin. Ela não vai deixar isso passar.
A respiração de Harin ficou entrecortada. Ela sabia que sua mãe era implacável, mas a ideia de que agora tudo estava exposto e que ela poderia agir de forma mais extrema a deixava ainda mais apreensiva.
Kyler olhou para ela por um longo momento, sua expressão suavizando um pouco.
— Eu também vim para me despedir.
Os olhos de Harin se arregalaram levemente.
— O quê?
— Eu volto para Paris ainda essa noite. Sua mãe não precisa mais de mim. Agora que ela sabe que você está ciente de tudo, minha presença aqui não tem mais sentido. Eu estou livre, de certa forma.
Harin sentiu um misto de alívio e tristeza. Por mais que tivesse motivos para odiá-lo, Kyler havia se tornado um aliado inesperado. E, de alguma forma, ela sabia que ele também era uma vítima das manipulações de sua mãe.
— Eu... — Harin procurou as palavras certas. — Obrigada por me avisar. E por tudo.
Kyler sorriu de lado, um sorriso cansado, quase melancólico.
— Eu deveria ser o último a receber sua gratidão, depois de tudo que fiz.
Ela balançou a cabeça.
— Você teve seus motivos. Sei que foi forçado. E no final, você escolheu me ajudar.
Kyler respirou fundo, parecendo aliviado por ouvir aquilo. Ele estendeu a mão para ela.
— Cuide-se, Harin.
Ela olhou para sua mão, e a apertou de volta.
— Você também. Espero que você possa viver em paz agora.
Kyler assentiu e, sem dizer mais nada, virou-se e saiu pela porta. Harin o observou desaparecer na noite, sentindo que um ciclo tinha sido fechado. Ela sabia que nunca mais veria Kyler Samuels novamente.