uma trégua

A saída da escola Mirae estava caótica. O barulho das câmeras disparando sem parar se misturava aos gritos dos repórteres e curiosos que se aglomeravam para capturar um vislumbre de Joo Harin. As manchetes já estavam em todos os portais de notícias: "Kyler Samuels volta para Paris: fim do romance com Joo Harin?".

Ela nem teve chance de respirar. Assim que pisou fora dos portões, flashes cegantes a atingiram. Perguntas foram atiradas como dardos venenosos:

— Harin, por que Kyler foi embora tão repentinamente?

— É verdade que foi um término conturbado?

— Como você se sente com o fim do relacionamento pela segunda vez?

— Isso tem a ver com os contratos fraudulentos?

A última pergunta fez seu estômago revirar. Como eles sabiam? Seu coração disparou, mas ela manteve a expressão neutra. Não poderia dar margem para especulações ainda maiores. Ela tentou seguir em frente, ignorando os repórteres, mas a multidão se apertava ao seu redor.

— Eu não vou conseguir sair por aqui — murmurou para si mesma.

Seu olhar varreu a área, procurando uma rota de fuga. Foi quando notou um segurança de sua agência acenando discretamente para ela perto de um corredor lateral. Harin reconheceu a oportunidade e, sem pensar duas vezes, deu meia-volta e correu na direção dos fundos da escola.

O beco atrás do prédio estava vazio. Somente um carro preto aguardava, silencioso, como se estivesse à espreita. Mas, antes que pudesse processar o perigo, a porta do carro se abriu. Uma figura que ela não esperava ver ali desceu rapidamente.

— Entra no carro agora, Harin — a voz fria e calculada de sua mãe cortou o silêncio.

O choque a paralisou.

— O que... o que você está fazendo aqui? — Harin gaguejou, tentando recuar, mas sua mãe foi mais rápida. Ela agarrou seu braço com força, puxando-a em direção ao veículo. — Me solta! — Harin se debateu, mas a mulher tinha mais força do que aparentava.

— Você fez papel de idiota! — a mãe dela sibilou entre dentes. — Acha que pode me enganar? Que pode escapar do que eu planejei para você? Agora chega de palhaçada. Você vem comigo!

A porta do carro estava aberta. Harin tentou se soltar, mas a mãe a empurrou com força para dentro, fechando a porta atrás dela antes que pudesse escapar. O motorista já estava pronto para arrancar.

O pânico tomou conta dela. Sua respiração ficou entrecortada. Sua mãe sentou-se ao lado, ordenando ao motorista que desse a partida.

Foi quando um vulto apareceu bem em frente ao carro, forçando o motorista a pisar no freio.

Daehyn.

Harin piscou, atordoada. Daehyn estava ali, de pé, com os olhos cravados na mãe dela, cheia de determinação. A tensão era palpável.

— O que você pensa que está fazendo? — a mãe de Harin rosnou, saindo do carro furiosa.

Daehyn permaneceu imóvel, o celular levantado, gravando tudo.

— Tentativa de sequestro é crime — disse com firmeza. — Eu estou gravando e, se você não a soltar agora, eu chamo a polícia.

A mãe de Harin riu, mas seus olhos estavam cheios de veneno.

— Você não tem ideia no que está se metendo, garota.

— Sei exatamente — Daehyn rebateu. — Harin não quer ir com você. Você não pode forçá-la.

A mãe de Harin olhou para a filha dentro do carro e depois para Daehyn. Por um momento, parecia considerar suas opções. Então, forçou um sorriso gelado e se inclinou levemente na direção de Daehyn.

— Você vai pagar caro por isso — disse em um tom baixo e ameaçador. — Pode esperar as consequências.

Ela entrou novamente no carro e mandou o motorista ir embora, deixando Harin para trás.

Harin ainda estava em choque quando Daehyn segurou sua mão. Ela tinha presenciado toda a cena.

— Você está bem? — A voz dela agora era mais suave, preocupada.

Harin assentiu lentamente, mas sua expressão estava distante. Daehyn percebeu e a guiou até um banco próximo, onde se sentaram. O silêncio se prolongou por um momento até Daehyn quebrá-lo.

— O que está acontecendo, Harin? — perguntou, olhando-a nos olhos. — Eu já vi muita coisa estranha ao seu redor, mas agora está claro que algo realmente sério está acontecendo. Sua mãe... ela não pode te tratar assim.

Harin apertou as mãos no colo, os olhos baixos.

— Não quero falar sobre isso — disse, quase num sussurro.

Daehyn franziu o cenho.

— Você não precisa lidar com isso sozinha. Se tem alguma coisa acontecendo, me conta. Eu posso ajudar.

Harin levantou o olhar, os olhos brilhando com uma mistura de medo e raiva.

— Eu só... eu só quero esquecer isso, pelo menos por hoje. — Sua voz falhou.

Daehyn respirou fundo, contendo a frustração. Não queria pressioná-la, mas não podia ignorar o que tinha acabado de presenciar.

— Tudo bem — disse, finalmente. — Mas se precisar de mim, eu estou aqui. Sempre.

— Obrigada.

Para quebrar o gelo, Daehyn esqueceu que estava com raiva de Harin, pelo menos naquele momento, e disse em voz alta o que estava pensando.

— Que droga hein, você fica linda até quase sequestrada por sua mãe louca — Harin soltou uma risada, sendo acompanhada por Daehyn.

— Você não está mais com raiva de mim?

— Estou. Mas vou dar uma trégua só por hoje. Você é tão linda que me faz esquecer de como respirar.

O silêncio voltou a reinar entre as duas, mas desta vez era um silêncio carregado de empatia. Uma trégua, por uma noite.