me desculpa

O auditório estava cheio. Murmúrios baixos ecoavam pelo espaço enquanto as pessoas encontravam seus assentos. No palco, Riyeon revisava suas anotações, os olhos varrendo as primeiras fileiras. Entre elas, Harin e Daehyn.

Harin sentou-se ao lado de Daehyn sem pensar muito. Fora algo automático, instintivo. Mas, desde que seus olhos pousaram na figura ao seu lado, sua respiração se tornou irregular. Sentia o coração acelerado, não por empolgação, mas por uma inquietação que não conseguia explicar. Ou talvez conseguisse. O peso dos dias, das noites insones, das lembranças e arrependimentos acumulava-se sobre seus ombros.

Daehyn não olhou diretamente para Harin, mas percebeu sua presença assim que ela se sentou. Sentiu a energia dela, um tipo de peso silencioso que se espalhava como um campo de força. Não havia necessidade de palavras para entender que algo não estava certo. Ela não precisava perguntar. Apenas sabia.

Um movimento quase imperceptível.

Harin deslizou sua mão devagar sobre a cadeira, até que seus dedos encontraram os de Daehyn. O toque foi leve, como se estivesse pedindo permissão sem voz, sem olhar, sem explicações. Apenas um gesto tímido.

Daehyn podia ter recuado. Podia ter se afastado, como havia se acostumado a fazer desde o término. Mas não o fez. Porque, naquele momento, não importava o que tinha acontecido. Não importava o quanto ainda estivesse machucada. Importava apenas que Harin precisava daquilo.

Então, sem desviar os olhos do palco, Daehyn entrelaçou os dedos nos dela.

O mundo ao redor desapareceu. O barulho se tornou um ruído distante. O aperto das mãos era quente, acolhedor. Um momento que parecia mais intenso do que qualquer palavra poderia expressar. Harin fechou os olhos, engolindo em seco, sentindo um alívio dolorido tomar conta de seu peito. Era como se aquele toque segurasse seus pedaços e os impedisse de cair.

— Obrigada — sussurrou Harin, quase inaudível.

Daehyn fechou os olhos, sua voz baixa, mas firme:

— Não precisa agradecer.

Elas ficaram em silêncio, sentindo o calor da presença uma da outra. O aperto nos dedos de Harin aumentou levemente.

— Eu sinto sua falta — Harin confessou, sem olhar para Daehyn.

Daehyn respirou fundo. O peso daquelas palavras era avassalador. Ela queria dizer que também sentia falta, que as lembranças ainda a assombravam. Mas não podia. Não ainda.

— Só... assista à palestra — respondeu Daehyn, desviando o olhar para o palco.

Harin assentiu, apertando um pouco mais os dedos dela antes de relaxar a mão. O silêncio voltou a reinar entre elas, mas algo tinha mudado. Algo tênue, mas presente.

A palestra começou, mas para elas, o tempo tinha parado.

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A chuva caía forte, formando pequenos rios pelas ruas escuras. Daehyn encostou-se à parede de vidro da escola Mirae, observando as gotas escorrendo como se o mundo tivesse desacelerado. Suspirou baixinho, cruzando os braços.

— Isso parece cena de dorama — murmurou para si mesma.

— Quem fala sozinha assim deve estar apaixonada — a voz conhecida soou ao seu lado.

Daehyn virou-se e encontrou Harin ali, segurando um guarda-chuva, o olhar brincalhão, mas carregado de um sentimento mais profundo. O coração de Daehyn bateu mais forte, um reflexo involuntário da presença dela.

— Só estou presa aqui por causa da chuva — respondeu, desviando o olhar para a rua molhada.

— Então deixa que eu te levo — Harin ofereceu, apontando para o carro estacionado do outro lado da rua, seu motorista a aguardava.

Por alguns segundos, Daehyn pensou em recusar. Mas a ideia de esperar sozinha, enquanto a chuva castigava a cidade, não parecia atraente. Respirou fundo antes de aceitar com um aceno.

O motorista dirigia pelas ruas encharcadas, os faróis refletindo nas poças espalhadas pelo asfalto. O silêncio preenchia o espaço entre elas, apenas o som da chuva e o ruído baixo do motor preenchiam o ambiente. Harin permaneceu em silêncio no banco de trás, o olhar fixo na estrada através da janela.

— Me desculpa — soltou de repente, sem esperar uma resposta.

Daehyn não reagiu de imediato. Apenas continuou olhando pela janela, observando os pingos desenharem padrões na superfície fria do vidro. O perdão não vinha fácil, mas a dor também não era mais tão cortante quanto antes. Ela apenas escutou, sem prometer nada.

O carro parou em frente à casa de Daehyn. Sem dizer nada, ela abriu a porta e saiu. A chuva caiu sobre seus cabelos, molhando suas roupas em segundos. Harin permaneceu dentro do carro, os olhos presos na cena diante dela.

Daehyn, sob a chuva, parecia uma visão impossível de ignorar. A pele iluminada pelos postes de luz, os fios molhados grudando no rosto, os lábios entreabertos como se quisesse falar, mas desistisse no último momento. Um sorriso quase imperceptível curvou os lábios de Harin, carregado de algo melancólico.

Perder Daehyn doía mais do que imaginava.

Ela a viu se afastar, cada passo afundando um pouco mais em sua própria saudade. Não importava quantas tempestades viessem, Harin sabia que nada poderia trazê-la de volta.