Capítulo 78: O Despertar do Véu

O ar ao redor de Ethan parecia pesado. Mesmo depois da dissipação das sombras, uma sensação de incompletude pairava sobre ele. A energia do Fragmento da Memória ainda vibrava dentro de sua mente, mais intensa do que nunca. Ele sentia como se o próprio tempo e espaço ao seu redor estivessem sendo alterados, como se o futuro e o passado estivessem se entrelaçando e se distorcendo em algo que não conseguia controlar.

— Você está bem? — Elyss perguntou, interrompendo seus pensamentos. Ela estava ao seu lado, seus olhos ainda atentos à escuridão ao redor. Sua expressão era de cautela, mas havia também uma preocupação oculta.

Ethan respirou fundo, tentando acalmar os pensamentos que corriam em sua mente. O Fragmento... ele sabia que precisava entender tudo o que estava acontecendo, mas cada fragmento de memória que se formava parecia uma peça de um quebra-cabeça maior, que ainda não conseguia encaixar completamente.

— Estou... — Ethan começou, mas a palavra parecia não ser suficiente para descrever o turbilhão dentro de sua mente. — Sinto que algo está prestes a acontecer. Algo muito maior do que nós dois.

Elyss olhou para a Biblioteca ao redor deles. Ela sempre soubera que aquele lugar era mais do que parecia, mas nunca imaginara que a realidade fosse tão distorcida, tão maligna. O que eles tinham despertado ao tocar o Fragmento? O que aquela figura sombria realmente queria?

— Eu sei. — Elyss respondeu, com a expressão sombria. — A Ordem do Véu não vai deixar isso passar. Eles estão em movimento, e nós só acabamos de tocar a ponta do iceberg. Eles... sabem o que estamos fazendo.

Ethan assentiu, compreendendo a gravidade da situação. Ele não podia se dar ao luxo de hesitar agora. A presença do Fragmento ainda era forte dentro de sua mente, e com ela vinham mais imagens, mais memórias fragmentadas. Ele forçou sua mente a se concentrar, buscando algo concreto, uma resposta que pudesse ajudá-los a entender o que viria a seguir.

De repente, uma sensação de frio percorreu sua espinha. Ele virou-se rapidamente para a direção onde a figura sombria havia desaparecido. Uma onda de energia, tão densa quanto o mais escuro dos pesadelos, se erguia no centro da sala. O Fragmento da Memória brilhava com uma intensidade crescente, seus contornos se distorcendo como se estivesse sendo puxado por uma força externa.

— Não... — Ethan murmurou, percebendo a verdadeira ameaça. A energia do Fragmento estava sendo corrompida. Algo estava interferindo em seu poder. — Elyss, precisamos sair daqui. Agora!

Antes que ele pudesse dar mais um passo, a sala inteira começou a tremer violentamente. Livros caíam das estantes, e o chão se abriu em rachaduras profundas, revelando abismos de pura escuridão. Era como se a própria estrutura da Biblioteca estivesse desmoronando sob o peso de algo maligno.

Mas não era apenas a estrutura que estava desmoronando. A energia que emanava do Fragmento estava agora se espalhando, se conectando com as rachaduras no chão, criando uma rede de energia escura e distorcida que se espalhava rapidamente pela sala.

Elyss agarrou o braço de Ethan, puxando-o para trás enquanto a Biblioteca se tornava um turbilhão de caos.

— O que está acontecendo? — Ela gritou, tentando manter a calma enquanto a escuridão os envolvia. — Isso é... o Véu?

Ethan sentiu a pressão crescente dentro de sua mente, como se o próprio tecido da realidade estivesse se rasgando. Ele se concentrou em sua própria energia, tentando manter o controle, mas era difícil. A presença do Fragmento estava agora completamente conectada ao Véu, e isso significava que eles haviam atraído a atenção de algo muito mais perigoso.

Com um movimento brusco, Ethan usou a energia do Fragmento para criar uma barreira ao redor deles. A luz envolveu-os, mas não por muito tempo. A força das sombras estava crescendo, e a pressão sobre sua mente aumentava a cada segundo.

— Preciso... entender. — Ethan sussurrou, fechando os olhos e tentando acessar o poder do Fragmento de uma forma mais focada. Ele sentia a conexão com o Véu, mas também sentia uma força dentro de si que estava resistindo à corrupção. Ele sabia que, se não fosse cuidadoso, aquilo consumiria tudo.

De repente, uma visão clareou sua mente. Ele viu uma figura sombria, ainda mais imponente que a anterior, envolta em uma capa que parecia absorver a própria luz ao redor. A figura estava de pé em um altar, cercada por símbolos ancestrais que pulsavam com energia negra. No centro, uma esfera brilhava intensamente, uma esfera que Ethan reconheceu como sendo... o Véu.

Ethan compreendeu, então. O Véu não era apenas uma organização ou uma força sombria. Era uma entidade viva, uma força primordial que existia entre as realidades, destinada a manter o equilíbrio, mas ao mesmo tempo, com a capacidade de consumir tudo o que tocava. O Fragmento era a chave para o Véu, e ao tocá-lo, ele havia aberto uma porta que nunca deveria ser aberta.

Ele abriu os olhos, determinado. Eles precisavam impedir que a força do Véu os consumisse, mas como? Ele não sabia como fechar essa porta, nem como lidar com as consequências de suas ações.

Elyss olhou para ele, o medo em seus olhos claramente visível, mas também a determinação.

— O que vamos fazer? — Ela perguntou, a voz tremendo ligeiramente.

— Não temos escolha. — Ethan respondeu, sua voz agora firme. — Precisamos ir até o centro da Biblioteca. Lá, encontramos a chave para parar isso. Se não fizermos, o Véu irá tomar tudo.

Elyss assentiu, e juntos, eles avançaram, tentando se afastar do caos que tomava a sala. Cada passo parecia mais difícil do que o anterior, como se estivessem caminhando contra uma maré invisível de escuridão. Mas não podiam parar agora. O destino do mundo dependia disso.

A medida que avançavam, o chão se abriu ainda mais, e os corredores da Biblioteca pareciam se estender infinitamente, como se o próprio tempo estivesse sendo distorcido. A energia do Véu estava em toda parte, tentando pegá-los, tentando corromper suas mentes e almas.

Mas Ethan não ia permitir. Não enquanto tivesse a força para lutar. Eles chegariam ao centro. Eles fecharam a porta, ou morreriam tentando.