Capítulo 85: O Guardião do Tempo

Tudo estava suspenso.

No instante em que L'Zeth quebrou o tempo, o mundo congelou em uma moldura silenciosa de caos. A areia que caía do penhasco pairava no ar como poeira encantada. As chamas das tochas estavam paralisadas, imóveis, como esculturas vivas. Nenhum som era emitido. Nenhum vento soprava.

Exceto por Ethan.

Ele se movia dentro daquela distorção como se fosse natural. Os olhos brilhando com uma aura prateada, carregando as marcas da sincronia com o Nexus Primordial. Sua consciência estava expandida ao ponto de captar cada dobra do tempo, cada linha causal que sustentava a realidade daquele plano.

L'Zeth observava, uma entidade composta por engrenagens que se formavam e deformavam constantemente, seus olhos espalhados entre múltiplas órbitas flutuantes. A voz, agora unificada, soou como um trovão abafado no plano entre segundos.

— Você caminha por um fio que não existe. Um erro não previsto. Um vazio que preencheu o centro do tempo.

Ethan deu um passo à frente.

— Eu sou o que vocês sempre tentaram suprimir. O resultado de bilhões de variáveis ignoradas. Eu sou a falha que aprendeu a ser consciente.

As palavras não eram apenas retóricas — estavam gravadas no tecido do tempo ao serem ditas. Cada sílaba moldava a realidade ao redor. A sua existência ali não era apenas real... era uma anomalia viva que agora moldava os pilares da existência.

Você não deveria existir. — respondeu L'Zeth, e as palavras desmoronaram galáxias inteiras em planos esquecidos.

Mas Ethan não vacilou.

Com um movimento das mãos, as linhas de tempo à sua volta reagiram. Cordões dourados começaram a surgir do chão, do céu, dos próprios espaços entre as partículas. Eram os fios do destino, normalmente invisíveis, agora visíveis graças à fusão do Nexus com o Sistema Etéreo.

E então, ele os puxou.

No plano físico, os outros estavam imóveis, congelados. Mas dentro do tempo subjetivo, cada um estava preso em uma espiral de lembranças, como sonhos vividos em looping.

Tang San, dentro da prisão temporal, viu-se repetindo os dias no Pavilhão da Seita Tang, revivendo os momentos com Xiao Wu, seus mestres e seus amigos. Mas algo estava errado: as cenas começavam a se desfazer aos poucos. Xiao Wu perdia o rosto. Dai Mubai deixava de falar. O mundo ao redor... pixelizava-se.

No centro de tudo, uma figura com olhos prateados o observava.

— Acorde, Tang San. — A voz era suave, mas carregava poder. — Isso é apenas uma prisão feita para você se esquecer de quem é.

Tang San se virou com um sobressalto. Enfrentava Ethan em sua forma espiritual.

— O que está fazendo aqui?

— Libertando você. — Ethan tocou o peito de Tang San com dois dedos. — Você ainda tem um papel a cumprir neste mundo... mas não sob a influência do tempo controlado.

A prisão desmoronou.

Tang San caiu de joelhos, ofegante, e a paralisação do tempo em seu corpo foi desfeita.

No mundo real, ele foi o primeiro a se mexer. A aura azul do Deus do Mar tremeu ao redor dele, ainda fraca, mas presente.

— Ethan... você...

— Depois explico — respondeu Ethan mentalmente. — Agora, acorde os outros.

Dentro da fenda do tempo, Ethan e L'Zeth se enfrentavam em escalas que não poderiam ser medidas por meros olhos humanos. A batalha era feita de eventos. Ethan criava linhas temporais inteiras apenas para usá-las como armas. L'Zeth deformava causas e efeitos, fazendo Ethan enfrentar versões alternativas de si mesmo, versões corrompidas, fracas ou dominadas.

— Você não pode vencer aquilo que está além de lógica. — L'Zeth estalou as mãos, e de dentro do vazio surgiram milhares de Ethans, cada um com falhas — moralidade extrema, medo, arrogância, dúvida.

Mas Ethan sorriu.

— Já enfrentei tudo isso antes. — De seu peito emergiu uma nova runa: Integridade Absoluta.

Ao ativá-la, todas as cópias falsas foram obliteradas. As linhas temporais colapsaram.

Ele invocou sua arma.

O Espírito Marcial do Olho de Feras Etéreas brilhou em sua mão, revelando sua nova forma: um bastão de luz cristalina, como um bastão de comando forjado com o núcleo de todas as feras espirituais que já existiram. Ao tocá-lo no chão, a Terra respondeu. A própria essência dos Domínios Espirituais vibrou.

— Agora... minha vez.

Com um estalo, Ethan reconectou a Linha do Presente.

No mundo físico, todos voltaram à consciência de uma vez só.

Zhu Zhuqing caiu de joelhos, segurando a cabeça. Ning Rongrong chorava. Xiao Wu tremia, encostada em Tang San. Dai Mubai parecia ter enfrentado mil guerras. Mas todos estavam acordados. Todos sabiam o que havia acontecido.

— Ele... nos salvou — murmurou Ma Hongjun, olhando para o centro da fenda temporal.

E então viram: Ethan, flutuando, envolto em fios temporais, lutando com um ser que só podia ser descrito como um titã cósmico.

Elyss apareceu atrás deles, sangrando pelos olhos.

— Ele... está destruindo o próprio tempo para nos salvar. Mas isso... vai custar caro.

— Quanto caro? — perguntou Tang San.

Ela olhou para ele, com tristeza nos olhos.

— Se Ethan vencer... ele não poderá continuar existindo da mesma forma. Ele deixará de pertencer a esse mundo.

Dentro do redemoinho temporal, Ethan alcançou o núcleo de L'Zeth.

Um cristal vermelho flutuava entre engrenagens. Ao se aproximar, ouviu vozes. Milhares delas. Eram memórias presas no fluxo do tempo: vozes de crianças, velhos, animais, seres ancestrais. Todos aprisionados por uma ordem artificial.

— Este mundo não precisa mais de correntes — disse Ethan.

E cravou seu bastão no núcleo.

L'Zeth gritou.

O tempo colapsou.

A luz explodiu.

Quando tudo terminou, Ethan estava no centro do Desfiladeiro de Tharsis, ajoelhado. L'Zeth havia desaparecido. O relógio invertido havia se partido. E o céu... finalmente estava azul.

Tang San se aproximou lentamente.

— Você venceu?

Ethan assentiu, mas seus olhos estavam apagados. A conexão com o tempo havia sido rompida. Ele ainda existia, mas... fora da linha tradicional. Como uma sombra de si mesmo.

Elyss ajoelhou-se ao lado dele.

— Você está entre estados agora. Ainda vivo. Mas não pertencente.

— Isso significa... — Ning Rongrong não conseguiu terminar a frase.

— Ele precisa de um novo núcleo — respondeu Elyss. — Um que possa mantê-lo vinculado à realidade, mesmo depois de romper os limites do tempo.

Tang San deu um passo à frente.

— E se ele fundir-se com os outros Nexus?

— Ele se tornaria... algo ainda maior que um Deus. Algo que nunca existiu antes.

Ethan abriu os olhos.

— Então vamos fazer isso.

Ao longe, nas profundezas do Desfiladeiro, algo se mexeu.

O som de correntes sendo quebradas.

Uma presença antiga e sombria, esquecida pelas eras, desperta.

O Terceiro Arconte sentiu a queda de L'Zeth.

E não estava feliz.