Capítulo 86: O Despertar do Arconte

O mundo tremia.

No instante em que o Nexus de L'Zeth foi destruído, as correntes do tempo e do espaço começaram a se reconfigurar, reagindo à ausência do Guardião. As marés do destino se alteraram, trazendo consigo uma nova era de incertezas. As figuras que anteriormente estavam restritas ao fundo das sombras começaram a emergir, e os ecos da antiga guerra de forças cósmicas ecoaram no ar.

No coração do Desfiladeiro de Tharsis, onde a batalha contra L'Zeth havia alcançado seu auge, Ethan estava em silêncio. Seu corpo, imerso em uma aura prateada que não se extinguia, parecia estar em sintonia com os fragmentos de tempo que ainda dançavam ao seu redor. Ele havia quebrado a estrutura do tempo, mas não sem consequências. Agora, ele estava entre dois mundos: um ser humano e algo que ultrapassava a compreensão do universo.

Tang San, ao lado dele, observava atentamente, seus olhos repletos de preocupação.

— Você está bem? — perguntou, tentando alcançar a mente de Ethan, mas a conexão parecia frágil, distorcida.

Ethan, com uma expressão cansada, levantou a cabeça, mas seus olhos estavam opacos, como se não estivessem completamente focados. Ele sabia que algo dentro dele estava mudado — e talvez irreversível.

— Eu estou... diferente. — Ele se levantou lentamente, sua presença parecendo pesar no espaço ao redor. — O tempo quebrou. E eu... me fundi com ele.

Elyss, que até então havia ficado em silêncio, deu um passo à frente, seu semblante grave.

— O que você fez foi sacrificar uma parte de sua própria essência. A integridade do seu ser foi alterada. Agora, você é uma fusão de conceitos... e não de carne.

Aquelas palavras foram como um golpe duro. Ethan olhou para suas próprias mãos, ainda visíveis, mas com a sensação de que eram apenas uma projeção temporária, algo que não pertencía mais ao seu corpo original.

O ar ao redor deles estava pesado. A única coisa que ainda mantinha o equilíbrio eram os fios do destino, agora desfeitos, flutuando como partículas dispersas.

— Ele... não pode ser o único que ficou assim. — Tang San olhou ao redor, sua mente já conectando os pontos. — Existem outros Nexus, certo?

Elyss assentiu, seu olhar preocupado.

— Sim. Mas o que você não sabe, Tang San, é que não é apenas o tempo que está em jogo. O Nexus que L'Zeth possuía era um dos mais poderosos, responsável por manter o fluxo das realidades paralelas. Com a destruição dele, outras forças estão sendo atraídas para cá.

Nesse momento, um som baixo e profundo ecoou pelas montanhas distantes. Não era um trovão, mas algo mais antigo, algo mais profundo. As engrenagens do universo estavam se mexendo.

Ethan, apesar de sua transformação, manteve uma expressão imperturbável.

— Não temos muito tempo. Eles já sentiram nossa presença.

No alto das Montanhas de Galedor, uma figura observava a cena. Seu semblante estava coberto por um capuz, mas seus olhos eram como lâminas que cortavam a escuridão ao redor. O Terceiro Arconte, a entidade que representava a força do Caos no equilíbrio cósmico, havia despertado.

O caos em si não tinha uma forma física — ao invés disso, tomava a forma de uma presença invisível, mas palpável, que alterava a realidade ao seu redor. Seu objetivo? Destruir tudo que fosse estático, que estivesse preso a qualquer forma de ordem. Para ele, o equilíbrio significava estagnação, e estagnação era morte.

— O Guardião do Tempo foi derrotado... — A voz do Arconte soou como um eco nos ventos. — E o Nexus que ele defendia agora está vazio. Isso... isso nos dá uma chance.

O Terceiro Arconte não era um ser impessoal como L'Zeth. Ele tinha um plano, e esse plano começava com a destruição do que ainda restava do antigo equilíbrio. Uma de suas mãos se estendeu para frente, e, de seu punho, uma esfera de energia caótica se formou, corrompendo o ar ao seu redor.

— Se o tempo foi quebrado... então as correntes que prendem as realidades podem ser derretidas. E eu, o caos, vou fundir essas realidades em um único estado de fluxo. Quem se opuser a mim será apagado.

Ele então disparou a esfera em direção ao horizonte, e a terra tremeu.

De volta ao Desfiladeiro de Tharsis, Ethan sentiu a pressão crescente. A energia que o Arconte liberara chegou até eles como uma onda de destruição. Ele levantou a cabeça, sentindo o fluxo de caos que estava invadindo o mundo.

— O Terceiro Arconte... — disse ele, a voz cheia de determinação. — Eles estavam sempre em segundo plano, esperando pelo momento certo para agir.

Tang San, ainda tentando compreender os efeitos da batalha, olhou para ele.

— Ele é o que, exatamente?

— O Caos. A essência da destruição, o oposto da ordem. O que L'Zeth tentou preservar com suas regras rígidas. — Ethan olhou para os outros, que agora se reuniam ao seu redor. — Precisamos nos unir, ou ele destruirá tudo o que conseguimos salvar.

Mas algo estava errado. Ethan sentiu uma distorção em seu próprio ser. A fusão com o tempo e o Nexus havia trazido uma clareza estranha, mas também uma vulnerabilidade que ele não podia ignorar. Ele não era mais um simples guerreiro. Ele era uma anomalia viva que existia em múltiplos planos. Mas isso também significava que ele não poderia lutar da mesma forma que antes.

— Eu não sei se posso derrotá-lo sozinho... — confessou, mais para si mesmo do que para os outros.

Mas Elyss, com um sorriso triste, se aproximou dele.

— Você nunca esteve sozinho, Ethan. Sua força não está apenas em seu corpo. Está em sua vontade de desafiar o impossível. Vamos juntos. Encontraremos uma maneira.

Tang San então deu um passo à frente, com uma expressão firme.

— Precisamos de todas as forças que pudermos reunir. Não podemos deixar que o Caos prevaleça.

Ethan assentiu, e com um movimento de suas mãos, as linhas temporais se tornaram visíveis novamente. Fios dourados se espalhavam por todo o campo de batalha, conectando todos os presentes, formando uma rede de poder. A luta contra o Terceiro Arconte seria épica, e, pela primeira vez desde a batalha com L'Zeth, Ethan sentiu o peso do que estava por vir.

Ele não era mais o herói convencional. Mas talvez, na nova era que estava prestes a nascer, ele seria exatamente o que o mundo precisava.

O som de passos ecoou em um novo plano de existência. Um novo caminho estava sendo traçado. E enquanto o Arconte do Caos se aproximava com suas intenções sombrias, a resistência dos guerreiros que lutavam ao lado de Ethan estava prestes a iniciar uma nova fase.

A batalha pelo futuro começaria, não com um guerreiro, mas com uma vontade indomável.