O silêncio que envolvia o trio era tenso. Mesmo depois da dissipação das sombras, o labirinto não os havia liberado, como uma entidade astuta que brincava com suas mentes. Tang San, Elyss e Aeterna avançaram por um corredor estreito, as paredes pareciam se fechar atrás deles à medida que davam um passo à frente. As luzes fracas que iluminavam o caminho tremeluziam como se estivessem sendo consumidas pelas trevas ao redor.
A tensão no ar era palpável. O que quer que estivesse à frente, o labirinto parecia ter se tornado ainda mais hostil. Não era mais um simples teste de coragem, mas uma força que ameaçava minar sua determinação, desafiando-os a questionar tudo em que acreditavam.
— Estamos quase lá — disse Aeterna, sua voz calma, mas com uma leve sombra de preocupação. Ela parou e olhou ao redor, os olhos percorrendo o ambiente. — Mas algo não está certo. O labirinto está mudando de forma... Ele não é mais o mesmo.
Tang San se aproximou de Aeterna, sentindo a pressão em sua própria alma. Ele sabia que, por mais que tivessem avançado, nada estava garantido. Ele sentia que algo os observava, algo mais poderoso do que eles poderiam imaginar.
— O que exatamente está acontecendo? — perguntou Elyss, sua voz abafada pela apreensão. — Está nos manipulando de alguma forma?
Aeterna olhou para os dois, seu semblante grave.
— O Labirinto das Almas não é apenas uma série de obstáculos físicos. Ele é uma criação de pura energia, um reflexo das fraquezas e dos medos de todos que o atravessam. Até agora, ele testou a coragem de vocês, forçando-os a enfrentar suas próprias sombras. Mas agora... agora ele os desafia de uma maneira diferente.
Ela ergueu a mão, e uma corrente de energia brilhou brevemente ao redor de seus dedos. Tang San e Elyss a observaram em silêncio. Sabiam que Aeterna estava tentando se conectar com a energia do labirinto, buscando entender o que os aguardava.
— O que você está sentindo? — perguntou Tang San, seu tom agora mais firme. Ele sentia que Aeterna era sua única esperança de compreender o que estava acontecendo.
Aeterna fechou os olhos por um momento, como se estivesse em meditação profunda. Quando os abriu novamente, sua expressão estava mais séria do que nunca.
— O labirinto está manipulando a realidade ao nosso redor — disse ela, a tensão evidente em sua voz. — Ele nos coloca diante de ilusões, fragmentos de nossos próprios desejos e medos. Se não conseguirmos distinguir o real do falso, nos perderemos aqui para sempre.
Ao ouvir isso, Elyss olhou ao redor com mais atenção, sentindo um arrepio percorrer sua espinha. As paredes do labirinto pareciam se curvar, como se a realidade estivesse se distorcendo. As sombras que haviam se dissipado voltaram lentamente, começando a se formar em novas figuras. Mas agora, ao invés de temerosas, elas eram familiares... demasiado familiares.
Tang San sentiu um aperto no peito quando viu a figura que se formava à sua frente. Era uma versão distorcida dele mesmo, mas mais escura, mais fria, com os olhos vazios e um sorriso cruel. Seu reflexo estava ali, mas de uma maneira que não fazia sentido.
— Não... — Tang San sussurrou, seus olhos fixados na figura à sua frente. Era ele, mas não era. A sensação de estar preso em uma ilusão o dominou.
Elyss também parecia estar enfrentando uma manifestação de sua própria mente. A figura que surgira diante dela era um reflexo sombrio de suas próprias inseguranças, suas falhas e medos. Mas, mais do que isso, era algo que a fazia questionar sua própria identidade.
— Isso não é real — disse Elyss, forçando as palavras a saírem, mas sua voz tremia. Ela avançou para a figura, mas ao tentar tocá-la, suas mãos passaram através da ilusão, como se fosse nada mais que uma névoa.
Aeterna se aproximou, seus olhos agora imbuídos de uma energia diferente, como se estivesse tentando se conectar com o próprio núcleo do labirinto.
— Não ceder ao engano é a única maneira de vencer — disse ela, sua voz como um comando suave. — Vocês precisam enxergar além do véu da ilusão. A verdade está dentro de vocês, e não nas imagens que o labirinto projeta.
Tang San, apesar da angústia que sentia ao olhar para seu próprio reflexo distorcido, fechou os olhos e concentrou-se. Ele não podia ceder àquilo. Não poderia permitir que o labirinto manipulasse sua mente. Ele se lembrava da verdade sobre si mesmo, das escolhas que fizera, das responsabilidades que assumira. Não havia espaço para dúvidas.
— Não somos nossas sombras — disse Tang San em voz baixa, mas firme. Ele abriu os olhos novamente, e o reflexo diante dele começou a se dissipar. A sombra de si mesmo se desfez como areia levada pelo vento.
Elyss fez o mesmo. Com um gesto de determinação, ela encarou a imagem de suas inseguranças e a desafiou. Sua respiração se acalmou à medida que ela se concentrava em sua verdadeira força, deixando para trás as imagens distorcidas de fraqueza que o labirinto tentava lhe impôr.
O som da ilusão se desfez, e a distorção das paredes ao redor começou a se dissipar lentamente. A realidade voltou a ser nítida, embora ainda carregada de uma tensão palpável.
Aeterna deu um passo à frente, seu olhar firme. Ela estava aguardando que o labirinto, ou o que restava dele, reagisse. Quando a última sombra se dissipou, o corredor à frente se abriu, revelando um grande salão iluminado por uma luz suave e prateada.
— O verdadeiro teste não é enfrentar o que está fora de nós, mas o que está dentro — disse Aeterna, sua voz agora mais suave, mas cheia de significado. — Vocês passaram. Não porque derrotaram as sombras que o labirinto projetou, mas porque não se perderam nas ilusões.
Elyss e Tang San olharam um para o outro, um sentimento de vitória silenciosa compartilhado entre eles. Eles haviam vencido uma batalha interna, e sabiam que essa vitória os preparava para o que estava por vir.
O salão à sua frente estava agora aberto, e a estrada à frente, embora desconhecida, parecia menos ameaçadora do que antes.