Ruínas Do Passado

O som do vento cortava a cena, quebrando o silêncio mortal. Sob o caos, o fogo crepitava, e o estrondo de escombros desabando se misturava ao grito desesperado das chamas. Uma casa uma vez cheia de risos e vidas, agora era apenas uma pilha de destroços fumegantes. Entre os escombros, duas figuras caídas, em silêncio absoluto. O rosto de um deles estava coberto de sujeira e sangue, os olhos ainda fechados, como se estivesse tentando bloquear o inferno ao seu redor. O outro, igualmente imerso em sombras, parecia mais uma sombra de si mesmo, sua respiração fraca e irregular.

Eles estavam sozinhos, cercados pela destruição, mas a visão não mostrava mais nada, exceto a devastação. O tempo parecia ter parado ali, como se o mundo tivesse virado de cabeça para baixo para os dois. As feridas eram profundas, mas o maior dano era o que acontecera à sua alma, ainda não totalmente consciente da tragédia que se desenrolava. O rosto de ambos, obscurecido pela poeira, ainda não revelava seus nomes, nem os olhares que um dia poderiam carregar vida. Eles estavam simplesmente lá, sobreviventes de um cataclismo que os transformaria para sempre.

A cena mudou repentinamente, e os ecos de fogo e destruição deram lugar a um ambiente frio e sem vida. Um laboratório de alta tecnologia, repleto de mesas de trabalho e telas iluminadas. O cheiro de produtos químicos e circuitos recém-montados preenchia o ar. As paredes, brancas e impecáveis, refletiam a luz de luzes frias penduradas no teto.

Seo Min-kyu, um jovem de aparência normal e cabelo castanho liso, estava debruçado sobre um painel de controle, os olhos focados em cálculos rápidos que preenchiam as telas à sua frente. Seu semblante era fechado, os lábios finos e imóveis, como se o mundo lá fora não fosse nada além de um ruído distante. Ao seu redor, outros cientistas, mais velhos e experientes, circulavam, conversando entre si em tons respeitosos.

"Min-kyu, você tem mais alguma sugestão para o projeto?" perguntou Kang Ji-hoon, um cientista de meia-idade, conhecido pela sua calma e precisão. Ele esperava, pacientemente, enquanto Min-kyu ajustava mais uma variável na tela.

"Estamos quase lá, Ji-hoon," respondeu Min-kyu em um tom suave, sem se distrair. "Ainda há um ajuste crítico na sincronia da estrutura molecular. Eu estou aperfeiçoando os átomos."

O cientista veterano assentiu, impressionado. "Você sempre tem uma certa perfeição em cada detalhe. Você é impressionante."

No outro lado do laboratório, um cientista novato observava a cena, com os olhos arregalados. O jovem, de nome Park Joo-won, estava visivelmente curioso e com um ar de reverência. Ele se aproximou de Kim So-yeon, uma cientista veterana que trabalhava ao lado de Min-kyu. Park Joo-won hesitou por um momento, mas logo perguntou com um tom de admiração, “Sabe, eu sempre vejo Seo Min-kyu tão... concentrado. Ele é realmente incrível. Mas por que ele nunca interage muito com os outros? É tão... reservado.”

Kim So-yeon olhou para o jovem com um sorriso leve, e seus olhos se suavizaram ao falar. "Min-kyu é um caso raro, Joo-won. Ele não só é um gênio, mas também um homem que carrega muito. Ele cresceu sem família, você sabia disso? Foi adotado pelo chefe do laboratório quando ainda era um garoto, depois de perder tudo em uma tragédia."

Park Joo-won franziu a testa, surpreso. "Uma tragédia?"

“Sim, uma tragédia”, So-yeon confirmou, fazendo uma pausa. “Ele nunca fala muito sobre isso, mas todos aqui sabem. E apesar de sua natureza reservada, ele nunca foi apenas mais um cientista. Ele se tornou uma referência. É o tipo de pessoa a se admirar. Os veteranos daqui, nós todos, o vemos como uma espécie de ídolo. Ele não faz por fama ou reconhecimento. Apenas trabalha. Então, o melhor a fazer é aprender com ele, Joo-won.”

O novato assentiu, absorvendo as palavras de So-yeon. Seus olhos brilharam com respeito enquanto observava Min-kyu trabalhar. A aura de mistério que cercava o cientista só o tornava mais fascinante.

Enquanto isso, o som de uma televisão ligando preencheu o ambiente. A tela exibiu uma reportagem sobre os heróis e sua batalha contra as forças subversivas que assolavam o país. As imagens mostravam heróis conhecidos em ação, enfrentando vilões e desastres naturais, e as palavras eram recheadas de elogios a esses indivíduos que protegiam a população.

Todos no laboratório pararam por um momento para olhar a tela. Exceto Seo Min-kyu. Ele sequer desviou o olhar da tela à sua frente, concentrado em cálculos e cálculos, como se a exibição das façanhas heróicas não fosse nada além de uma distração sem importância.

So-yeon, observando a cena, comentou para ninguém em particular, “Min-kyu nunca parece se importar com essas coisas. Ele sempre foi assim.”

"Talvez ele apenas não queira se distrair com algo tão fútil," sugeriu Kang Ji-hoon, com um sorriso suave, antes de voltar à sua própria estação de trabalho.

Os outros cientistas, embora intrigados, continuaram com suas tarefas. Mas era claro que o respeito por Seo Min-kyu não vinha apenas de sua habilidade. Ele estava, de algum modo, acima de todos ali, um reflexo de uma vida difícil e um passado que nenhum deles sabia ao certo como compreender. Ele era, de muitas maneiras, uma figura distante, mas sua genialidade o tornava imbatível.

Enquanto todos voltavam ao trabalho, a voz de Min-kyu cortou o silêncio do laboratório. “A próxima fase precisa de mais ajustes. Vou precisar de mais dados sobre a reação química do composto."

Os cientistas veteranos, já acostumados a sua maneira direta, se moveram rapidamente para seguir suas instruções. Mas em seus olhos, uma profunda reverência ainda permanecia.

O laboratório estava lentamente esvaziando enquanto o expediente chegava ao fim. O som das teclas sendo pressionadas diminuía à medida que os cientistas começavam a guardar seus equipamentos e a se preparar para sair. Seo Min-kyu ainda estava concentrado em sua estação de trabalho, ajustando um último gráfico na tela. Quando a porta se abriu, ele ergueu os olhos brevemente, vendo os veteranos se reunindo à porta, com expressões amigáveis.

“Min-kyu, você vem com a gente hoje à noite?” perguntou Kang Ji-hoon, o tom de voz casual, mas cheio de expectativa. “Vamos ao bar, depois de tanto trabalho. A gente merece uma pausa.”

So-yeon sorriu de maneira acolhedora. “Sim, vamos lá. O chefe sempre diz que devemos descansar quando podemos. E você é o gênio aqui, você também precisa relaxar um pouco.”

Min-kyu olhou para os rostos amigáveis diante de si, mas logo se afastou de qualquer intenção de companhia. “Eu já tenho planos para esta noite,” respondeu, sem mais explicações. Seu tom era firme, mas educado. Ele não era do tipo que gostava de compartilhar sua vida pessoal. “Vou precisar de um pouco de silêncio para trabalhar nos meus próprios projetos.”

Kang Ji-hoon sorriu, reconhecendo a determinação nos olhos de Min-kyu. “Sempre tão focado… Mas tudo bem, outro dia, então. Cuide-se, Min-kyu.”

Os outros veteranos também se despediram, alguns com um aceno e outros com uma palavra de encorajamento. Quando finalmente ficaram sozinhos no laboratório, Min-kyu guardou seus materiais e se preparou para sair, caminhando em direção à saída.

Min-kyu caminhava pelas ruas de Seul, o cenário urbano iluminado pelas luzes de néon das lojas e dos prédios. A cidade estava viva, mas ao mesmo tempo, havia uma sensação de frieza no ar, como se algo estivesse à espreita nas sombras. Ele desceu por um beco estreito, onde as luzes eram mais fracas e as sombras mais densas. Não era o tipo de lugar onde qualquer pessoa comum se sentiria à vontade, mais devido a sua natureza reclusa ele não se incomodava.

Ele parou por um momento, seus olhos escaneando a rua. Algo chamou sua atenção. Dois heróis conhecidos, ambos com uniformes chamativos, estavam entrando em um bar de aparência decadente. Seus nomes eram Solstice e Ignition, heróis conhecidos por suas habilidades elementares – Solstice, com a habilidade de manipular a luz e o calor, e Ignition, capaz de elevar a temperatura de seu corpo a níveis extremos. Juntos, formavam uma dupla imbatível, mas naquele momento, pareciam mais como simples figuras de rua, entrando discretamente em um bar sujo e mal iluminado.

Min-kyu observou de longe, sem se mover, sem sequer fazer um som. Ele sabia que algo estava errado ali, mas ele decidiu sair discretamente sem nenhum interrese de envolvimento.

Dentro do bar, a atmosfera era densa. O ambiente estava impregnado com o cheiro de álcool e fumaça, e o som de conversas abafadas parecia ser um sussurro distante diante do que acontecia. Solstice e Ignition estavam se reunindo com um homem de aparência sombria, vestido com um terno escuro e com um ar de poder. Seu nome era Victor Saldini, um conhecido mafioso que lidava com informações valiosas para os heróis e criminosos do submundo. A cadeira que ele ocupava parecia ser a de um homem acostumado a controlar tudo ao seu redor.

“Então, vocês dizem que os Remanescentes Das Ruínas estão cada vez mais próximos, não é?” disse Saldini, com um sorriso malévolo enquanto observava os heróis.

Ignition, o mais impulsivo dos dois, falou sem paciência. “Você sabe que os Remanescentes são um perigo. Precisamos dessas informações para neutralizá-los antes que seja tarde demais. E nós pagamos bem por elas.”

Saldini deu uma risada baixa. “Ah, claro, eu sei o quanto vocês estão dispostos a pagar. Mas também sei que, por trás dessa fachada heroica, vocês têm suas próprias intenções. Não estou interessado em saber como vocês vão usar as informações, só quero o pagamento. E só então falarei o que sei.”

A conversa continuou com tensão crescente, mas o ambiente foi interrompido por uma voz grave e enigmática que ecoou de repente pelo bar, vindo de nenhum lugar visível. "Vocês falam demais."

Os três presentes na sala ficaram imóveis por um momento, tentando localizar a origem da voz. Mas não havia ninguém ali, até que uma figura encapuzada, vestindo um traje negro com detalhes vermelhos e prateados, como se fossem padrões cinéticos, apareceu no meio da sala. Seu movimento foi rápido e silencioso, como se a própria sombra tivesse se materializado diante deles.

Solstice e Ignition imediatamente se moveram para atacar. Solstice lançou uma rajada de luz intensa, tentando iluminar e desintegrar a figura encapuzada, enquanto Ignition aumentava a temperatura de seu corpo, criando uma onda de calor infernal ao seu redor. Porém, algo estava errado. Seus corpos não se moviam. Suas pernas estavam presas no chão, como se uma força invisível os imobilizasse.

A figura encapuzada moveu os dedos de maneira quase imperceptível, e os fios finos, quase invisíveis, começaram a se mover ao seu redor. Ele os controlava com precisão, fazendo com que os fios se esticassem e se entrelaçassem ao redor dos heróis e mafiosos. Os dois heróis tentaram reagir. Solstice intensificou a luz, e Ignition tentou aumentar ainda mais sua temperatura para derreter os fios, mas a resposta do encapuzado foi calma e cruel.

“É inútil,” disse a voz soturna do encapuzado. “Esses fios são revestidos com grafeno. O material mais resistente do mundo. Não há nada que vocês possam fazer para cortá-los ou queimá-los.”

O homem encapuzado quebrou o silêncio com uma voz fria e precisa: "Faremos um jogo simples. Quatro perguntas. A cada mentira, vocês perdem uma parte do corpo. Se quiserem prolongar suas vidas, sugiro que sejam honestos." Os fios negros vibraram levemente no ar, ameaçadores. O agiota tentou engolir em seco, mas sua garganta estava seca demais para isso.

Primeira pergunta: "Quem são os principais vendedores de informações sobre os Remanescentes Das Ruínas?" O mafioso tentou manter sua postura, forçando um sorriso nervoso. “Eu não sei nada sobre isso...”

O estalo veio antes mesmo que ele percebesse. Em um piscar de olhos, seu braço foi arrancado, o sangue jorrando enquanto um grito desesperado ecoava na sala. O homem encapuzado apenas inclinou a cabeça, observando-o como se fosse um experimento falho.

"Já começou mentindo. Meus fios não apenas cortam carne, mas também analisam seus corpos. A frequência dos batimentos cardíacos, as contrações musculares, o fluxo sanguíneo... tudo entrega quando alguém mente." Os heróis estremeceram. Agora sabiam que não poderiam blefar.

O mafioso, agora em choque e contorcendo-se de dor, engasgou-se com seu próprio sangue antes de cuspir a verdade: "Dante Vasquez... ele é um dos maiores vendedores de informações! Mas ele não trabalha sozinho!" O homem encapuzado ficou em silêncio por um momento. Então, prosseguiu.

Segunda pergunta: "Quem protege esses informantes? Quem os mantém seguros?" Dessa vez, um dos heróis tentou desafiar a situação. "Ninguém protege esses vermes. Eles se escondem sozinhos."

Os fios brilharam por um segundo, e o grito veio logo depois. O herói caiu no chão, segurando o joelho, onde agora faltava um pedaço de carne.

"Eu não tenho paciência para respostas erradas." O outro herói, em pânico, gritou: "São oficiais do governo! Alguns deles trabalham diretamente com os heróis de ranking alto!"

O homem encapuzado assentiu. Terceira pergunta: "Qual herói de elite tem envolvimento direto com a corrupção e vende informações ao submundo?"

Os heróis hesitaram. Eles sabiam que essa era uma resposta perigosa. Mas um deles cedeu primeiro. "Cinder Knight. Ele... ele encobre operações do governo e lucra com a venda de dados sobre investigações e alvos considerados perigosos!"

O nome pairou no ar, carregado de peso. O homem encapuzado permaneceu imóvel por um instante, absorvendo a informação. Seu tom de voz se tornou ainda mais frio.

"Última pergunta." O silêncio se tornou insuportável. "Onde posso encontrar Cinder Knight?"

Os três homens ficaram calados. O medo estava estampado em seus rostos. Eles sabiam que, se falassem, selariam seus próprios destinos. Mas era tarde demais para hesitação.

"Ele frequenta uma base exclusiva dos heróis Top 10... é onde ele guarda informações sigilosas sobre diversas operações. Mas você nunca vai conseguir entrar lá!"

O homem encapuzado não respondeu de imediato. Apenas os observou, enquanto seus fios começavam a se movimentar novamente. "Já não precisam se preocupar com isso."

Com um movimento suave dos dedos, os fios começaram a puxar com força, cortando o ar como lâminas afiadas. Os mafiosos e heróis tentaram resistir, mas os fios eram implacáveis. O encapuzado não mostrava nenhuma expressão enquanto manipula os fios com precisão fatal. A cada movimento, corpos eram cortados ao meio, sem nenhum sinal de emoção em seu rosto. Não havia prazer, não havia ódio, apenas a frieza de uma missão cumprida.

Quando terminou, todos os corpos caídos estavam em pedaços, espalhados pela sala. O encapuzado não se dignou a olhar para eles enquanto se levantava, arrumando a capa e ajeitando o capô. Ele deu um passo em direção à porta, antes de falar, ainda em sua voz calma e sem emoção. “Limpem isso.”

Dois vultos, que estavam em algum lugar nas sombras, saíram e começaram a tirar os corpos e qualquer outra evidência de que alguem esteve naquela sala, sem questionar, como se fosse apenas outra parte do processo.