Era uma noite fria e silenciosa, mas o brilho de luzes vibrantes e o som de fichas caindo nas mesas de jogo preenchiam o ar de uma maneira única. O cassino "Luz da Fortuna" era um lugar onde as sombras e a luxúria se entrelaçavam, e a tensão no ambiente era quase palpável. Não era apenas um lugar de jogo, mas também um ponto de encontro para aqueles que queriam se esconder ou fazer negócios discretos.
Elysian e Seraphina, ainda disfarçados sob suas identidades secretas, entraram no local sem chamar atenção. Seraphina, em particular, estava usando uma máscara de confiança, mas por dentro, a tensão se acumulava. Ela sabia que uma parte do seu passado estava prestes a aparecer de forma inesperada, e seu coração acelerava com a possibilidade do que poderia acontecer.
"Você sabe o que está fazendo, certo?" Elysian perguntou com sua voz fria e calculista, seus olhos avaliando cada movimento em sua linha de visão.
"Eu sou boa nisso, Elysian", Seraphina respondeu, mantendo a calma, embora uma certa nostalgia em seus olhos indicasse que ela estava lembrando do seu tempo no exército. "E você se comporta como se estivesse em uma missão de espionagem, não como se fosse um simples jogo."
"Em jogos como esse, tudo é estratégia. Não importa o quão simples pareça." Ele disse friamente, as mãos firmes nos bolsos. "Não subestime o que está em jogo aqui. Vamos."
Seraphina concordou e, enquanto avançavam pela entrada principal do cassino, ela podia sentir os olhares furtivos de alguns frequentadores. A missão deles era clara: coletar informações, ou qualquer coisa que pudesse ajudar a desvendar mais sobre a Ordem de Érebo. Sabiam que muitas das figuras de alto escalão desse submundo costumavam se encontrar nesse tipo de local para fazer negócios, e era justamente ali que eles teriam que agir com a maior discrição.
Caminharam por entre as máquinas de caça-níqueis e as mesas de poker, até que Seraphina fez uma pausa ao avistar um homem conhecido em uma das mesas. Seu corpo paralisou por um segundo, mas logo sua expressão voltou ao seu habitual controle rígido.
"Ethan..." Ela murmurou, quase que para si mesma.
Elysian olhou para ela, notando a mudança sutil em sua postura. "Você o conhece?"
"Sim. Ele foi um dos meus aliados no exército... antes de tudo acontecer." Seraphina hesitou por um momento, mas logo recuperou sua compostura. "Ele não deve estar aqui por coincidência. Algo está errado."
Elysian observou Ethan por mais alguns segundos. O homem estava jogando poker, mas seu olhar era calculista e desconfiado, como se soubesse que estava sendo observado. Seraphina se afastou um pouco de Elysian, com a intenção de se aproximar discretamente de Ethan.
"Eu me encarrego disso", ela disse, com um tom firme. "Se alguém puder conseguir informações dele, sou eu."
Elysian assentiu de forma quase imperceptível, concordando com o plano. Ele sabia que Seraphina tinha um talento natural para se infiltrar em qualquer ambiente. Ela tinha o histórico e a experiência para fazer isso sem ser detectada, mesmo se o homem estivesse rodeado de aliados ou seguranças.
Seraphina se aproximou da mesa de poker, desviando-se com elegância entre as pessoas que jogavam e observavam, até que finalmente chegou ao lado de Ethan. Ele estava quase terminando uma partida, mas seu olhar se encontrou com o dela imediatamente.
"Haven't seen you in a long time, Choi Eun-kyung," Ethan disse, seu sorriso malicioso e olhos atentos, como se ele soubesse que havia algo mais acontecendo ali.
Seraphina manteve um sorriso controlado, fingindo surpresa. "Ethan... eu ainda não dominei o inglês, então pare de fazer isso, mais sabe... eu nunca imaginei encontrá-lo aqui. Como a guerra está tratando você?"
A tensão cresceu no ar entre os dois. Ethan era um homem inteligente, e seu passado com Seraphina estava longe de ser simples. Ele sabia sobre as suas habilidades, mas também sabia que ela possuía um lado difícil de ler, o que a tornava uma aliada ou inimiga imprevisível.
"Eu poderia dizer que estou muito melhor agora." Ethan respondeu, jogando uma ficha para dentro da mesa e observando Seraphina atentamente. "Mas percebo que você ainda anda se metendo em coisas perigosas, não é? É assim que os velhos amigos se encontram?"
Seraphina riu suavemente, sem deixar de manter a compostura. "Você sabe o quanto eu sou boa em evitar problemas. Mas e você, Ethan? Parece que se envolveu com algumas pessoas que podem não ser tão... confiáveis."
Ethan deu uma risadinha, inclinando-se para frente e olhando-a com mais intensidade. "Eu poderia perguntar o mesmo, Eun-kyung. Ou seria melhor dizer Choi? Estava esperando por você desde que o boato sobre sua presença aqui começou a circular."
Seraphina sentiu um frio na espinha. A última frase de Ethan não era só uma provocação; havia algo mais por trás dela. Ele sabia mais do que ela imaginava. "E o que você quer, Ethan?". A voz agora mais dura.
"Eu poderia te ajudar, sabe? Mas não sem uma troca." Ethan inclinou-se para trás, fazendo a aposta final na partida. Ele olhou para ela com um sorriso enigmático. "Temos assuntos pendentes. E eu sei que você tem algo a me oferecer."
Seraphina olhou para Elysian, que estava observando a cena de longe, mas sem se aproximar. Ela sabia que era hora de agir. Ela precisava descobrir o que Ethan estava fazendo ali e o que sabia sobre a Ordem de Érebo.
"Talvez você me diga o que sabe sobre a Ordem de Érebo, Ethan. Porque posso apostar que estamos atrás da mesma coisa." Ela disse com firmeza, tentando medir a reação dele.
Ethan riu novamente, jogando a última ficha na mesa. "A Ordem? Agora a coisa ficou interessante." Ele olhou ao redor, avaliando a situação antes de responder, como se ponderasse as palavras que iria escolher.
Seraphina sabia que esse encontro não seria fácil, mas estava disposta a jogar o jogo com ele. O que ela não esperava era o que aconteceria a seguir... O reencontro com Ethan era apenas o começo de algo muito maior.
Seraphina e Ethan estavam mais próximos agora, em meio à mesa de poker onde ele jogava as últimas fichas com um sorriso enigmático. O ar estava denso, como se os dois estivessem em um duelo de palavras disfarçado de conversa casual.
"Você sabe o que eu vejo, Eun-kyung?" Ethan começou, recostando-se em sua cadeira com um olhar quase desafiador. "Vejo uma mulher que, apesar de sua força e astúcia, está à deriva. Você sente isso, não sente? A guerra acabou, e o exército não precisa mais de você. Então, o que você vai fazer agora?"
Seraphina manteve a compostura, mas por dentro, as palavras de Ethan a atingiram de forma inesperada. A vida no exército foi tudo o que ela conheceu por anos, e após a guerra, ela realmente não soubera o que fazer consigo mesma. No entanto, ela não estava disposta a mostrar nenhuma fraqueza. Ela riu, suavemente.
"Eu faço o que sempre fiz. Sobreviver. E quando me encontro em uma encruzilhada, escolho o caminho mais vantajoso. E você, Ethan, o que quer de mim? Além de palavras jogadas ao vento?"
Ethan deu de ombros, o sorriso ainda permanecendo no rosto. "Eu sou um homem de ações, Eun-kyung. Palavras são só o começo."
Ele se inclinou para frente, baixando a voz como se estivesse compartilhando um segredo com ela. "Eu sou mais do que apenas um homem comum agora. Fui recrutado para algo maior... algo que pode te interessar. A Ordem de Érebo me encarregou de procurar novos talentos, e você... você tem tudo o que eles procuram."
Seraphina ficou estática, a expressão agora mais séria do que nunca. Ela não esperava ouvir isso da boca de Ethan. A Ordem, aquele nome que soava como uma nova ameaça pros Cavaleiros do Apocalipse, um grupo com intenções desconhecidas. Ela sentiu uma onda de surpresa, seguida de uma reação cautelosa.
"E-Ela..." Ela começou, mas parou. "Você está me dizendo que você está envolvido com a Ordem de Érebo?"
Ethan assentiu, seu sorriso agora se tornando mais sombrio. "Sim. Fui escolhido por eles. E agora, eles querem novos membros. E você seria uma adição perfeita."
O silêncio se instalou entre os dois, a tensão se tornando palpável. Seraphina sabia que a proposta era tentadora, mas ela estava consciente do risco. A Ordem de Érebo não era algo com o qual ela poderia se envolver sem refletir sobre as consequências. Mas ao mesmo tempo, uma parte dela sentia que essa era a oportunidade que ela estava esperando para conseguir informações e, talvez, encontrar a resposta pra tudo.
Mas antes que pudesse falar, Ethan continuou. "Ah, e não se preocupe. Não é só você. Seo Min-kyu também poderia se juntar a nós, se você quiser. Ele parece ter um grande potencial." Ele observou Seraphina com um sorriso sutil. "Ele poderia ser útil para a Ordem, assim como você. Quem sabe... o que ele faria em um lugar como aquele."
Essas palavras atingiram Seraphina como uma lâmina afiada. Seu estômago revirou, e ela não conseguiu esconder o desconforto que sentiu ao ouvir o nome de Seo Min-kyu ou melhor, de Elysian, envolvido naquela proposta.
"Não envolva ele nisso, Ethan," ela disse com firmeza, seus olhos se estreitando enquanto a tensão aumentava. "Ele tem seus próprios objetivos. E você sabe muito bem que não vou deixar envolvê-lo em algo como isso. Não estou pedindo sua ajuda para isso."
Ethan simplesmente a observou, seu sorriso imperturbável. "É só uma sugestão. Mas, se você quiser, pode me dar uma resposta depois de pensar um pouco. Não preciso de uma resposta agora."
Seraphina se levantou, seus movimentos mais rápidos do que o normal, tentando se afastar da mesa. Ela estava agora em um estado de confusão, suas emoções divididas entre a tentadora proposta e a preocupação com as implicações de entrar na Ordem de Érebo, especialmente com a menção de Elysian.
"Eu vou pensar na sua proposta, Ethan. E, quanto ao Seo Min-kyu..." Ela parou antes de virar, lançando um olhar severo sobre o homem. "Deixe-o fora disso. Eu cuidarei disso à minha maneira."
E então, ela se afastou, saindo da mesa de jogo e se dirigindo para o lado de fora do cassino, onde o ar fresco da noite parecia mais tranquilo, mas também mais pesado com os pensamentos que a atormentavam. Seraphina sabia que não poderia tomar essa decisão sem antes conversar com Elysian, mas o que mais a incomodava era a forma como Ethan a havia envolvido com ele.
Seraphina se afastou do cassino e caminhou até um banco próximo ao parque onde ela e Elysian haviam se encontrado antes. Ela precisava conversar com ele, entender o que ele pensava sobre toda a situação. Mas o que ela não sabia era que Elysian já havia ouvido toda a conversa.
Quando ela se aproximou dele, Elysian estava sentado tranquilamente, observando as luzes distantes da cidade. Mas algo estava estranho. Seraphina sentiu um calafrio na espinha ao perceber que ele não estava olhando para ela diretamente. Ele estava observando a distância, como se já soubesse o que ela estava prestes a dizer.
"Eu sei o que aconteceu," Elysian disse, sua voz suave, mas carregada com uma intensidade fria.
Seraphina se congelou, surpresa e um pouco desconfortável. "O quê?"
"Eu ouvi tudo. A proposta de Ethan. E não se preocupe, ele não tem mais o que te oferecer." Elysian fez uma pausa antes de de continuar falando. "Eu coloquei um fio no seu pulso."
Seraphina olhou para seu pulso com um misto de surpresa e irritação. Como ele teve a audácia de fazer algo assim sem ela perceber? "Você... Você me espionou?"
Elysian olhou como se fosse algo completamente natural. "Não é espionagem quando se trata de garantir sua segurança. E, sendo você, eu precisava garantir que não se metesse em algo que poderia ser um problema para nós."
Ela sentiu uma pontada de frustração, mas também um certo alívio por saber que ele estava, de alguma forma, cuidando dela. No entanto, essa sensação foi rapidamente substituída por uma questão importante. "Então, você sabia o que ele me ofereceu?"
"Sim. E sabia que você iria considerar. Não há nada de errado em pensar, mas nunca se esqueça do que realmente importa. A Ordem de Érebo não é algo que você queira se envolver." Ele disse isso com uma seriedade que Seraphina nunca tinha visto antes, e ela sentiu o peso da advertência em suas palavras.
Ela respirou fundo e olhou para ele, sentindo que a decisão que tomaria daqui em diante seria mais difícil do que qualquer uma que já teve que enfrentar antes.