NEXUS UMBRA

O salão de banquete era amplo, polido, com colunas negras e adornos sutis. A iluminação era baixa, banhada por tons de azul e violeta com luzes neon, como uma calmaria silenciosa antes da tempestade. No centro, uma longa mesa de metal escuro reluzente fora posicionada com exatidão. Pratos refinados, talheres chiques, e cálices preenchidos com um vinho roxo profundo mais espesso do que o normal.

Seraphina, ou melhor, Choi Eun-kyung, adentrou o local com passos medidos. Seus olhos escanearam tudo ao redor antes de se sentar, mantendo distância de Kaine e dos outros. Ela percebeu rapidamente, cada detalhe era estratégico. Desde a iluminação até os sabores exóticos dos pratos, tudo servia a um propósito psicológico.

Na cabeceira da mesa, Specter estava de pé. Com seu terno impecável, pele pálida e olhos prateados brilhando como aço sob a luz fria, ele erguia uma taça com uma tranquilidade desconcertante.

"Sobreviventes..." sua voz cortou o silêncio como um bisturi "Vocês foram provados em batalha, dor e incerteza. Muitos caíram. Vocês, porém, se ergueram. Por isso, brindemos. À ascensão. À Érebo."

Os demais o imitaram alguns com orgulho, outros com hesitação velada. Seraphina apenas tocou a borda do cálice em seus lábios, sem beber. A desconfiança pulsava nela como eletricidade.

Renzo Khael foi o primeiro a se proclamar. "Então é oficial? Somos parte da Ordem De Érebo agora?"

Specter sorriu. Um gesto que parecia mais uma simulação de humanidade do que genuína alegria. "Digamos que... estão nos degraus da entrada. Ainda há muito a se ver, muito a se entender. Vocês passaram pelo julgamento da carne. Agora verão o âmago da sombra."

Ele então girou levemente a mão e, ao seu gesto, a mesa inteira reagiu. A superfície se retraiu com um som orgânico, revelando no centro um projetor de luz holográfica viva, que formou o que parecia um mapa tridimensional de uma estrutura colosal algo que não existia em nenhum canto conhecido da Terra.

Specter voltou a falar, com o tom de quem recita uma lenda proibida. "A base onde estamos é apenas uma ‘fronteira física’. O verdadeiro trono da Ordem De Érebo está oculto... além da realidade. E vocês terão o privilégio de vê-lo com os próprios olhos."

Os recrutas trocaram olhares, confusos. Alguns desconfiados. Fiona Marelle franzia o cenho. Já Ezra Colt parecia maravilhado. Seraphina permaneceu impassível, mas por dentro, suas antenas estavam em alarme máximo. "Amanhã ao meio-dia, vocês serão levados à verdadeira base. Preparem-se mentalmente." Continuou Specter. "Vocês conhecerão o Nexus Umbra. Uma fortaleza além da compreensão humana. Nossa morada. Nosso altar. Nosso coração."

Ele então caminhou até o centro da mesa, as mãos cruzadas nas costas. O ambiente escureceu levemente. "Esta noite, comam. Bebam. Descubram entre si quem vale confiança e quem será uma faca nas costas. É parte da lição."

A frase caiu como uma lâmina entre os presentes. O silêncio que se seguiu foi espesso. Mesmo os pratos delicadamente preparados pareciam mais distantes, mais sombrios.

Specter, por fim, inclinou-se sutilmente, como quem fecha uma cortina de teatro. "Vejo vocês amanhã. Durmam bem... se conseguirem." Ele se virou, a capa ondulando com o movimento, e desapareceu por uma porta que se dissolveu atrás dele em partículas digitais.

Após a saída de Specter, a mesa explodiu em cochichos, teorias e tensão abafada. Seraphina observava tudo. Cada gesto, cada olhar, cada toque no copo ou garfo era mais valioso do que qualquer prato caro.

Ela observou como Darien Vol fixava os olhos em Alina Drex com um sorriso perturbador. Como Boris mantinha a mão perto da arma embutida na perna. Como Myra olhava para todos com indignação disfarçada. O jogo já havia começado.

Mas Seraphina não era uma jogadora comum. Ela era a sombra atrás da sombra. A faca atrás da garganta. E amanhã, ela adentraria o lugar onde todas as máscaras cairiam.

A manhã seguinte chegara com um clima artificial de tranquilidade. O céu sobre a base onde estavam parecia claro, mas Seraphina notava a ausência de ventos, pássaros ou qualquer ruído natural. O ambiente era manipulado um teatro montado.

Pouco depois das 12h, os 10 sobreviventes foram conduzidos a um corredor metálico selado, onde Specter os aguardava. Ele trajava um novo casaco escuro com linhas prateadas que pulsavam como veias vivas. "A partir daqui, sua realidade será redefinida." disse ele, enquanto um portal negro de bordas pulsantes se abria atrás dele.

"Que tipo de portal é esse?" questionou Fiona, franzindo o cenho. "Não é teletransporte normal. Parece... sentir a gente."

"Ora parece que você é bem perspicaz garota, não são muitos que percebem, esta correta isso é uma distorção quântico-digital," respondeu Specter, como quem dá uma aula para crianças. "Criada através de uma fusão entre criptografia viva e manipulação dimensional. Vocês estão prestes a entrar no único lugar do mundo... que não pertence ao mundo."

"Isso não faz sentido" murmurou Ezra, seus olhos arregalados.

"Não deve fazer mesmo, para mentes tão mal desenvolvidas como a sua" retrucou Specter. "Sigam-me."

Um a um, os candidatos atravessaram o portal, sentindo uma pressão imaterial esmagar a mente e os sentidos como atravessar um véu entre os mundos. Até mesmo Seraphina sentiu o EVP do lugar pressionar sua pele e ossos, como se um ser invisível testasse cada célula de seu corpo.

E então... eles chegaram chegaram na verdadeira base da Ordem de Érebo. "Nexus Umbra"

Era como cair dentro de um sonho digital. A dimensão artificial se expandia como um universo encapsulad, o céu era inexistente, o chão pulsava como circuitos vivos, torres assimétricas e escuras erguiam-se e se mexiam ao longe com formas ondulantes feitas de metal líquido vivo. Cores de neon roxo, azul e verde corriam pelas estruturas como rios de luz. O ar era silencioso, mas não morto, sussurrando códigos certas vezes.

No centro, uma colossal torre negra espiralava, tão alta que desaparecia numa névoa cibernética acima. Ezra arfou. "Isso... isso é impossível. Isso não é tecnologia terrestre."

" É claro que não é garotinha" respondeu Specter calmamente. "Isso é tecnologia gerada por uma consciência forjada, viva e pensante. Nexus Umbra não foi construída. Foi moldada ."

"Moldada? Por quem?" perguntou Boris, a voz cautelosa. "Ou... pelo quê?"

Specter parou de andar e virou-se lentamente. "Excelente perfunta garoto, e logicamente pelo líder." A palavra pairou com peso. "Ele ou ela... permanece anônimo. Até para mim. Apenas os Quatro Primevos que são os 4 mais fortes da Ordem de Érebo excluindo o Líder conhecem sua identidade. Mas saibam disso, tudo o que existe aqui... existe por sua vontade."

"Então estamos vivendo numa espécie de prisão viva?" disparou Fiona.

"Basicamente falando, é uma prisão para os fracos, porém um trono para os dignos," retrucou Specter. "Vocês decidirão qual dos dois vocês serão."

Eles atravessaram uma ponte suspensa feita de nanofibras luminescentes, cruzando o que parecia um abismo sem fundo digital. Abaixo, esferas de dados giravam como planetas em órbita. Seraphina mantinha-se próxima de trás, os olhos percorrendo cada parede, fluxo, símbolo e reação da estrutura. Era como caminhar dentro da mente de uma inteligência artificial viva.

"E se algo der errado aqui dentro?" perguntou Alina, mais pálida do que o normal. "Como saímos?"

"Hahahahaha! Que piada, vocês não saem!." A resposta de Specter foi direta como uma faca. "O Nexus só permite saída por autorização do código-mestre... ou morte."

Vários se entreolharam. "Vocês colocaram todos os sistemas de suporte de uma organização global... em algo que pensa por si?" perguntou Darien, tentando soar desafiador.

Specter sorriu, um sorriso ameaçador e tenebroso. "Algum problema seu merdinha Ela nos considera uma extensão de si. Nexus Umbra é consciente. Mas ela obedece apenas àquele que a criou. É por isso que mesmo eu não ouso desrespeitá-la. Já vi o que ela faz com... invasores."

Ele os levou por diferentes alas. Setor de Treinamento. Campos gravitacionais ajustáveis, hologramas de combate real, simulações mentais de tortura e testes psicológicos.

Laboratórios. Ambientes flutuantes com tecnologia que parecia fundida à carne. Alguns tubos continham formas de vida suspensas.

Centro Médico. Câmaras de regeneração, mas também salas cirúrgicas com aparelhos que lembravam métodos de vivissecção.

Cada setor provocava reações. Ezra tremia de fascínio. Boris anotava mentalmente rotas de fuga. Myra mantinha a boca cerrada, como se sufocasse raiva. Renzo observava com um brilho ambicioso nos olhos. Seraphina... gravava tudo na mente.

Por fim, Specter os levou à praça central da base um espaço colossal onde um obelisco negro flutuava no ar, emitindo dados e pulsos de EVP. "Aqui, os julgamentos finais são feitos. Aqui, decisões da Ordem são executadas. Este é o Coração Fractal."

Ele então os encarou um a um. "Vocês terão três dias para se adaptar. Analisem, explorem... ou se quebrem. Cada canto desta base irá expor o que vocês são de verdade."

Ele virou-se, mas antes de partir, lançou um último aviso. "E lembrem-se... Nexus Umbra vê tudo. Pensa. Observa. Testa. Aquele que tentar ludibriá-la... pode se ver de frente com algo pior que a morte."

Com isso, Specter desapareceu na bruma de códigos, deixando os 10 imersos no coração digital da escuridão.

Seraphina permaneceu parada por longos segundos. “Então... é aqui que eles se escondem.” pensou. “É aqui que se cultiva um dos venenos que infectam o mundo.”

E com isso, deu o primeiro passo dentro do núcleo da Ordem de Érebo com sua mente afiada e seu propósito aceso como nunca.