Park Seojun não desvia o olhar. Por um instante que parece durar demais, os olhos dele e os de Han Jiwon localizados estão um no outro.
Jiwon sentiu o coração acelerar. Não consegui explicar, mas aquele olhar... havia algo ali. Uma estranha familiaridade. Era como se ele a conhecesse de algum lugar. Como se enxergasse através dela. Mas isso era impossível, certo? Ela sofreu um acidente aos dez anos. Sem aquela memória da época, não teria como importância — ou seria reconhecida por — ninguém.
Ela desvia o olhar primeiro, tentando focar no que ele dizia à turma. O tom de voz era firme, porém sereno. Havia algo nele que misturava autoridade e uma calma inquietante. Um professor comum não causaria esse tipo de impacto, talvez por que ele parecesse muito novo e fizesse pouca diferença de idade.
Enquanto Park Seojun explicava brevemente sobre sua experiência e o que esperava da turma, Jiwon tentava controlar a respiração. Ela não entendeu por que sentia aquilo. Tudo nele era intenso — o jeito como gesticulava, como pausava entre as frases, como olhava nos olhos dos alunos.
Minjae cruzou os braços e se recostou na cadeira, ainda com o olhar fixo no novo professor. Mas, diferente de antes, já não parecia tão intrigado.“ Que bobagem ”, pensou. “ Ele não tem nada de especial pra todo mundo ficar se questionando o que está fazendo aqui.
Depois da aula, no pátio, o sol da manhã ainda aquece levemente os ombros dos estudantes. Soyeon, Jiwon e Dohyun estão juntos, compartilhando o lanche e comentários sobre o novo professor.
— Já viu o jeito que a sala inteira ficou muda quando ele entrou? — comentou Soyeon, rindo. — E olha que é difícil calar aquela turma.
— Ele tem uma presença forte — disse Dohyun, mordendo uma maçã. — Meio... sei lá, é um pouco misterioso.
Jiwon riu, mas a lembrança do olhar de Park Seojun ainda estava grudada em sua mente.
Do outro lado do pátio, encostado num poste, Minjae observava a cena. Seus olhos fechados, o maxilar travado. Ele não ouvia as risadas, só sentia o vazio crescendo no peito.
“Eles estão rindo... e eu não estou ali.”
Minjae abriu os punhos. Não queria admitir, mas estava com ciúmes. É aquilo que eu mais fazia do que esperava.
Han Jiwon, ao olhar de longe e ver Minjae observando, sentiu que estava o deixando de lado sem nem perceber. Pediu licença aos amigos e foi ao encontro dele.
— Me espere um segundo, tá? — disse, se levantando.
— Ei, Minjae! — cumpriu, acenando com a cabeça e um sorriso leve. — Por que você está aqui sozinho?
Antes que ele pudesse responder, Jiwon pegou sua mão com firmeza, o puxando com ela.
— Vem comigo — disse com naturalidade, como se fosse o mais simples dos gestos.
Minjae não resistiu. Só o toque dela já foi suficiente para fazer seu coração acelerar. Ainda assim, pretendo disfarçar:
— E se os seus amigos não gostarem? — Disse, baixo.
— Para com isso, Minjae. Até parece que você não conhece a Soyeon — respondeu, rindo gentilmente. — E o Dohyun também é gente boa, você vai ver.
Ao se aproximarem, Jiwon fez apresentações com sorriso sincero que poucas vezes mostraram.
— Esse aqui é o Seo Minjae ... meu maninho. — disse com carinho.
Soyeon encontrou e fez um sinal com a cabeça, enquanto Nam Dohyun se manifestou para cumprimentá-lo. Os dois trocaram um aperto de mão firme, mas respeitoso.
Por um instante, tudo parecia bem.
Mas, de uma das janelas do segundo andar, o professor Park Seojun observava discretamente o grupo no pátio. Seus olhos não estavam em Jiwon — estavam em Minjae.
Ele franziu levemente a testa. Como se registrasse algo ali. Ou alguém.
Os quatro seguiram conversando, rindo e dividindo o tempo entre as aulas, os intervalos e os pequenos segredos que surgiram a surgir. Minjae tentou se ajustar, se encaixar em uma nova dinâmica, mas algo ainda o incomodava. Ele queria estar mais próximo de Jiwon, queria se fazer notar, mas sentia uma distância crescente que ele não sabia como superar.
Durante os intervalos, ele explicou de longe. Havia algo nela que o atraía de maneira incontrolável. A maneira como ela ria, como se deixasse o mundo ao redor desaparecer por um instante. Ele queria ser a razão daquele sorriso, mas também temia o que isso poderia significar.
— Você está em silêncio hoje, Minjae — disse Soyeon, percebendo que ele estava distante, com os olhos fixos em Jiwon. — Aconteceu alguma coisa?
Minjae desviou o olhar rapidamente. Tentei sorrir, mas não consegui esconder a inquietação.
— Nada demais — respondeu, forçando uma expressão tranquila. Ele não queria envolver os outros nos próprios dilemas. Os ciúmes que senti não foram compartilhados.
Minjae tentou esconder o que sentia, mas havia algo de incontrolável em seu comportamento, algo que Soyeon já começava a perceber com seus olhos atentos. Ela nunca gostou da ideia de Minjae se envolver com Jiwon de forma mais intensa, não por ele ser mais pessoa, mas pela mãe dele.
Soyeon olhou para Minjae com um olhar de advertência, como se tentasse se comunicar sem palavras. Mas Minjae estava perdido em seus próprios pensamentos, seu olhar focado em Jiwon, como se tentasse entender os mistérios que a cercavam.
"Não é só sobre ela ser... diferente" , pensou Minjae, seu coração apertando de maneira estranha. "Ela tem algo que me atrai, algo que não consigo controlar. Algo que está me desconstruindo."
Ele respirou fundo e desviou os olhos, tentando se concentrar em outra coisa. Mas a sensação de desconforto só aumentava. Soyeon não era boba e experimentou uma mudança sutil no comportamento de Minjae. Ela não gosta do que via.
" Você está se afastando de mim, Minjae. Está se afastando de todos nós", pensou Soyeon, mas não disse nada. Ela sabia que Minjae tinha um lado impulsivo.
Minjae passou o resto do dia com a sensação de que estava perdendo algo precioso. Um espaço que parecia ser dele, mas que agora estava sendo compartilhado com outros. Ele sentiu uma amizade deles como algo bom, mas também sentiu um vazio. Ele queria ser o centro daquele grupo, queria estar mais próximo de Jiwon, mas ainda não sabia como fazer isso sem parecer obcecado.
E no fundo, ele se perguntava se ela já havia começado a esquecê-lo, ou se talvez fosse ele que estava começando a perder o espaço que havia conquistado com ela.
O professor Park Seojun continuava observando seus alunos com uma intensidade que parecia desconcertante, como se estivesse estudando cada movimento, cada acontecimento. Ele não era apenas um professor, mas alguém que parecia carregar algo além de sua carga, uma história não contada em seus olhos penetrantes.
Na aula seguinte, ele deu uma pequena demonstração prática de algo que parecia inesperado. Enquanto conversavam sobre um assunto qualquer, seus olhos se fixaram em Minjae por um momento, como se testassem algo. A sala ficou em silêncio, e por um instante, os estudantes puderam sentir a tensão no ar. Park Seojun não estava apenas falando sobre teoria. Ele queria que todos sentissem o impacto de suas palavras.
"Nem tudo o que parece óbvio é verdade" , ele disse, sua voz grave, mas com uma importância desconcertante . "Às vezes, a resposta é fácil que não conseguimos ver de imediato."
Minjae franziu a testa, sentindo um calafrio. Não sabia se era o modo como o professor falava ou se era algo mais. Mas, de alguma forma, aquelas palavras direcionadas a ele, como se Park Seojun informasse o que estava acontecendo em sua mente.
Durante os discursos seguintes, ele não se misturou com os alunos, mas sempre os inspirou de longe, especialmente Minjae e Jiwon. Era como se estivesse esperando algo, como se tivesse uma intenção que ninguém conseguisse perceber. Algo em seus olhos mostrava que ele não estava ali apenas para ensinar, mas para descobrir algo mais profundo sobre seus alunos.
Já na saída, os quatro se despedem, mas o clima está carregado de uma tensão leve, como se algo estivesse prestes a mudar.
— Só falta um mês para irmos para a faculdade — comenta Soyeon, com um sorriso liberado, como se já estivesse ansioso por essa nova fase.
— Eu não vou para faculdade agora — responde Dohyun, dando de ombros com um sorriso despreocupado. — Vou tirar um ano sabático, ficar de boa, sabe?
Soyeon o olha com um ar de incredulidade.
— Você é um sem futuro mesmo — brinca ela, empurrando-o com os ombros.
Dohyun apenas ri, sem ligar para a provocação. Jiwon e Minjae trocam um olhar discreto, sorridente, mas algo no fundo de seus olhos revela uma quietude que ninguém mais parece notar.
Minjae se despede de Dohyun e Soyeon, que seguem seu caminho. Ele então voltou para Jiwon, com um sorriso descomplicado.
— Ei, Jiwon! — ele chama, com um tom descontraído. — Vai com a gente para o karaokê hoje? Vai ser divertido.
Jiwon hesita por um momento, olhando para ele e depois para o chão, pensativa.
— Obrigada, Minjae, mas hoje não. Só quero ir pra casa e descansar.
— Tudo bem — respondeu ele, embora um pouco decepcionado. — Se cuida, então. A gente se vê mais tarde. Ele se despede com um gesto de mão, indo em direção ao grupo de amigos.
Jiwon fica ali por um momento, observando-os se afastarem. Ela respira fundo, sentindo uma mistura de colapso e talvez uma ponta de arrependimento. Decidiu caminhar para casa, mas sua mente ainda estava distante, refletindo sobre o que aconteceu.
O céu começou a mudar de cor, o fim da tarde dando lugar à noite. Com os fones de ouvido, ela deixou a música preenchendo o silêncio ao redor, distraída com seus pensamentos. Por isso, não viu o carro vindo rápido demais.
Um som brusco — pneus freando. Um grito abafado. E, num segundo, alguém a retira com força, tirando-a da trajetória do carro. No instante seguinte, Jiwon sente o peso da queda. Seu joelho atinge o asfalto com violência, e uma dor aguda percorre sua perna.
Ela geme, tentando se levantar, mas a vertigem embaraça tudo ao seu redor. Sua gira cabeça. A rua parece distante, abafada. Tudo o que consegue perceber é a ardência no joelho... e a presença firme de alguém ao seu lado.
Ofegante, olhou para cima, a visão um pouco embaçada. Um homem a segurava firme pelos ombros, mas seu rosto estava contra a luz do pôr do sol, difícil de distinguir.
— Você está bem? — Disse ele, com voz grave e serena.
Ela assentiu devagar, ainda tentando entender o que havia acontecido.
— Eu... acho que sim. Meu joelho... — murmurou, tocando a ferida.
— Tem um banco ali na esquina. Consegue andar até lá?
Ela fez que sim, apoiando-se no braço dele. O toque era firme, mas gentil. Ao caminhar, ela sentiu um estranho arrepio subir pela espinha. Não era apenas o susto — havia algo naquela voz, naquele jeito...
Mas antes que ela pudesse perguntar qualquer coisa, ele disse, com a voz calma:
— Fique aqui. Vou até a farmácia. Volto num instante.
Ele se virou lentamente, caminhando na direção oposta.
Jiwon o inspirou por alguns segundos. Tentou ver seu rosto com mais clareza, apesar da dúvida... “Mas ele é…” — sussurrou em pensamento, assustada.