Entre Silêncios e Desejos

Era ele.

Parque Seojun. Ó professor substituto.

Seu coração disparou, não mais pelo susto do quase acidente, mas pela vergonha que a consumiu por dentro. A dor no joelho parecia desaparecer diante da vontade urgente de sumir dali.

Ela olhou para o machucado — apenas um ralado.

— Dá pra aguentar... — sussurrou para si mesma, decidida.

Com cuidado, se levanta. Ainda um pouco tonta, mas determinada atravessou a rua com passos rápidos e chamou um táxi. Entrando sem olhar para trás.

Minutos depois, Park Seojun retornava com um pequeno kit da farmácia nas mãos. Parei diante do banco vazio, olhando de volta, confuso.

— Hum... ela foi embora — murmurou, para si mesmo.

Demorou alguns segundos parado, segurando uma sacola que não chegou a usar.

Seu olhar se perdeu na rua à frente, como se procurasse uma resposta que não vinha.

Ao chegar em casa, Jiwon notou que Minjae ainda não havia chegado. Sentindo o corpo cansado, tomou um banho rápido e deitou-se em sua cama. Alguns minutos depois, o telefone tocou. Ela atendeu, um pouco surpresa com o nome que apareceu na tela.

— Alô?

— Ei... O que você está fazendo? — Disse a voz de Nam Dohyun, com um tom hesitante.

— Estou deitada — respondeu ela, se ajeitando no travesseiro.

Houve um breve silêncio do outro lado da linha, como se ele estivesse reunindo coragem para continuar. Quando falou de novo, sua voz tremeu levemente.

Você já jantou?

Ainda não — disse ela, franzindo a testa, curiosa.

Quer sair pra comer alguma coisa? Eu pago — completou, tentando falar casualmente.

Jiwon pensou por um instante.

Podemos chamar a Soyeon?

Ela... disse que não poderia sair hoje — improvisou, rápido demais. — Mas eu entendo se você não quiser ir.

Tudo bem — disse ela, sorrindo levemente. — Mas só se for em um restaurante aqui perto de casa.

Fechado. Te encontro em quinze minutos?

Estarei pronta.

Pouco tempo depois, os dois estavam sentados em um restaurante tranquilo próximo da casa de Jiwon. Dohyun parecia mais descontraído do que o habitual, embora um olhar distante vez ou outra atravessasse seu rosto.

Enquanto isso, Minjae, que voltava para casa, passou pela rua e avistou os dois pela janela do restaurante. Parou no meio do caminho. Os olhos se estreitaram, os punhos se cerraram, o maxilar trincado.

"Ela não aceitou meu convite... mas aceitou o dele? "

Dentro do restaurante, Dohyun sorriu, mas Jiwon notou que havia algo estranho em seu olhar. Ele parecia querer dizer algo, mas hesitava.

— Tá tudo bem? — ela disse, inclinando levemente a cabeça.

— Sim, só... — ele fez uma pausa. — Estou feliz por ter aceitado vir. Estava precisando de um momento assim.

Ela o observou com mais atenção.

Seu rosto oval e bem delineado, com um queixo firme, olhos grandes e amendoados cercados por seleções longas o que lhe dá uma aparência de olhos grandes e expressivos. O nariz fino e aprimorado dava-lhe um ar elegante. Os lábios eram suaves, de cor natural. A pele clara e o uniforme completavam a imagem.

"Como eu nunca reparei o quanto ele é bonito? " — pensou, surpresa consigo mesma.

Dohyun sempre fora gentil com ela, carinhoso e presente. E agora ela sentiu algo diferente em seu olhar.

—Jiwon .. . — ele começou, mas logo desviou o olhar. — Nada, esquece!

Pode falar.

Eu só... — respirou fundo, reunindo coragem — Queria dizer que gosto muito de você. Mas sei que talvez não sinta o mesmo, e eu não quero te perder nem como amiga. Disse ele em pensamento.

Naquele momento, Dohyun queria abrir o coração. Dizer a Jiwon o quanto gostava dela— não como amigo, mas como alguém que vem se apaixonando em silêncio, dia após dia. Mas o medo o impede. E ela não sente o mesmo? E se, ao tentar algo mais, perdesse a única coisa que já tinha: a amizade dela?

Ele abaixou os olhos por um instante, tocando no copo à sua frente.

"Não posso forçar nada... mas também não vou continuar calado pra sempre."

Respirou fundo, com um meio sorriso.

— Jiwon... — começou, hesitando — eu queria te dizer algo, mas talvez não seja o momento .

Ela o encarou, curiosa.

—Pode falar, Dohyun. Desde quando a gente esconde as coisas um do outro?

Ele sorriu com carinho, mas desviou o olhar.

Então… vou te contar no dia da nossa formação — disse ele, com um sorriso misterioso.

O quê? Assim vai demorar muito! — respondeu ela, semicerrando os olhos, desconfiada.

Ele riu.

Falta menos de um mês. Vai passar rapidinho.

Ela cruzou os braços, ainda desconfiada, mas um sorriso escapou.

Tudo bem... Mas me deixou muito curioso.

Dohyun a observava com um sorriso bobo no rosto, como se aquele momento fosse o suficiente pra ele por agora. Mas Jiwon desviou o olhar, sentindo a necessidade de saber logo do que se tratava, ela detestava esperar.

O silêncio entre os dois não era desconfortável, mas carregado de algo que ambos tentavam ignorar.

Você está estranha hoje — disse ele, inclinando-se um pouco na direção dela.

- Eu? — Ela balança a cabeça negando, tentando disfarçar. A cena do Professor substituto não saia da sua mente — Você que tá todo misterioso ultimamente.

É que... tem coisas que a gente só consegue dizer quando sente que o momento certo chegou, sabe?

Ela mordeu levemente os lábios inferiores e assentiu. Seus olhos o encararam por um instante a mais do que o necessário.

Mas então, o celular de Jiwon vibrou no topo da mesa.

O nome aparece na tela: Minjae.

Seu sorriso murmurou um pouco. Hesitou por um segundo antes de virar o celular com a tela para baixo, sem atender.

Dohyun notou, mas fingiu não perceber.

— Vai atender?

— Não… não agora.

Ele assentiu, com um olhar que dizia que sabia mais do que demonstrava.

—Quer sobremesa? — Tenta mudar o assunto.

Só se você escolher — disse ela, tentando sorrir de novo.

Dohyun chamou a atenção, mas por dentro, o sentimento de urgência crescia. Ele sabia que o tempo estava contra ele… e Minjae, cada vez mais perto.

Naquela mesma noite, depois de deixar Jiwon em casa, Dohyun seguiu seu caminho com o coração leve, mas também inquieto.

Depois do jantar com Dohyun, Jiwon voltou para casa com o coração um pouco mais leve — e ao mesmo tempo, confuso.

Ela girou a chave na porta, entrou devagar e deixou os sapatos no canto. Minjae já estava na sala, deitado no sofá, com o controle remoto na mão e os olhos fixos na tela — mas a TV estava desligada.

—Chegou . — disse ele, sem olhar.

Jiwon hesitou.

Uhum.. . — respondeu, tirando a jaqueta.

Minjae se falou, andando lentamente até ela. Parou a poucos passos, olhando-a.

Você se divertiu com o Dohyun?

Sim... foi tranquilo. A gente só jantou. — respondeu, tentando manter a voz neutra.

Ele riu, curto e segundo.

Engraçado. Quando eu te convidei, você disse que estava cansada .

Ela desviou o olhar.

E estava... mas ele insistiu.

Claro. Ele sempre insiste — murmurou, cruzando os braços.

Minjae... não começa, por favor.

Eu não vou começar nada. Só acho interessantes suas prioridades. — Ele deu um passo para o lado, liberando a passagem.

Jiwon ficou parado por alguns segundos, depois passou por ele e subiu as escadas. O som dos passos dela ecoou no silêncio da casa.

Minjae ficou ali, parado na sala. Abriu os punhos, tentando conter o turbilhão dentro de si. A imagem de Jiwon sorrindo com Dohyun martelava em sua mente.

Na escuridão do quarto, o pesadelo voltou.

Jiwon se via novamente naquele corredor sombrio... o mesmo flash de luz ofuscante, o som passos de corrida e, desta vez, uma nova imagem: uma criança caiu no chão, com sangue escorrendo da testa. A expressão da menina era de puro terror, mas o mais angustiante era que Jiwon sentia o medo como se fosse seu. O pânico tomou conta, e um grito rasgou sua garganta.

Não! — ela falou, tentando correr, mas seu corpo parecia travado.

Ela começou a se debater na cama, suando, chorando, até que uma voz conhecida a chamou, trazendo-a de volta para a realidade.

—Jiwon ! Ei, sou eu... tá tudo bem ... — disse Minjae, sacudindo-a levemente.

Ela acordou com um sobressalto, os olhos arregalados e o peito arfando. As lágrimas escorriam pelo rosto, misturadas ao suor frio. Sem pensar, Jiwon se jogou nos braços dele, tremendo.

Minjae se comprometeu com firmeza, sentindo o quanto ela estava abalada. Seu coração doía ao vê-la naquele estado.

Tá tudo bem agora... foi só um sonho... estou aqui com você, Jiwon. .. — sussurrava ele, com voz suave e firme, repetidamente.

Ela se agarrou a ele como a um porto seguro. O tempo parecia parar naquele abraço. seus soluços foram diminuindo, mas o calor do toque dele... o jeito como ele a envolvia... despertou algo diferente.

Minjae também sentiu.

O coração dele batia forte, e havia um calor crescente, um desejo ardente de não soltar mais aquele momento. Quando Jiwon finalmente demorou um pouco, os olhos dos dois voltaram. A respiração ainda pesada, o silêncio carregado de tensão.

Minjae hesitou, mas a intensidade no olhar dela parecia pedir algo que nem ela compreendia completamente.

E então, ele a beijou.