Cena: Sala de Estar da Fazenda Kent, Smallville, Manhã de Segunda-feira.
O sol da manhã filtrava-se pelas cortinas floridas da sala de estar dos Kent, iluminando Lois Lane, que estava sentada à mesa de carvalho com uma caneca de café e seu laptop.
Papéis e anotações espalhavam-se ao seu redor, incluindo o velho caderno de Jonathan Kent, agora com post-its coloridos marcando páginas específicas. Clark, ainda em sua camisa xadrez de fazendeiro, preparava panquecas na cozinha, enquanto Krypto roncava suavemente no tapete, sonhando com ossos alienígenas.
Lois digitava furiosamente, os olhos brilhando com a energia de uma repórter no encalço de uma grande história. Mas, de vez em quando, ela parava, mordendo o lábio, e olhava para o caderno de Jonathan.
A descoberta do "Coração do Arquivo" na véspera ainda queimava em sua mente — um artefato kryptoniano, um guardião holográfico, e a promessa de segredos de um planeta extinto. Era o tipo de furo que poderia render um Pulitzer.
Mas também era a história de Clark, seu Superman, e expor isso poderia colocar tudo em risco.
Clark deslizou um prato de panquecas com calda de bordo à sua frente, notando a ruga de preocupação em sua testa.
"Você tá com aquela cara de 'Lois Lane versus o prazo', mas acho que é mais que isso," disse ele, com um sorriso gentil. "Quer falar sobre o que tá te incomodando?"
Lois suspirou, empurrando o laptop para o lado e pegando a caneca.
"Smallville, você sabe que eu vivo pra contar histórias. E o que aconteceu ontem
— o enigma do seu pai, a caixa kryptoniana, o lobo brilhante
— é o tipo de coisa que faz o Planeta Diário vender como água no deserto." Ela fez uma pausa, olhando nos olhos dele. "Mas também sei que isso é pessoal.
É sobre você, sua família, seu... planeta. E eu nunca faria nada que te colocasse em perigo."
Clark sentou-se ao lado dela, pegando sua mão. "Lois, você é a melhor repórter que conheço. E também a pessoa em quem mais confio. Sei que tá lutando com isso, e não vou mentir .
— fico preocupado com o que pode acontecer se o mundo souber demais sobre Krypton. Mas também sei que você sempre encontra um jeito de fazer a coisa certa."
Lois deu um meio-sorriso, mas a tensão ainda estava lá. "O problema é que eu já comecei a escrever.
Não sobre você, claro, mas sobre o mistério. Olha."
Ela virou o laptop, mostrando um rascunho com o título provisório:
Os Segredos Esquecidos de Smallville: Um Enigma no Coração do Kansas.
O texto falava de um "artefato antigo" encontrado em terras rurais, com pistas deixadas por um fazendeiro local, sem mencionar Krypton ou a Casa de El. Era vago, mas ainda assim intrigante.
Clark leu rapidamente, sua expressão misturando orgulho e cautela. "É bom, Lois. Muito bom. Mas... você acha que isso pode atrair atenção indesejada? Tipo, Lex Luthor ou algum cientista louco querendo cavar o quintal da minha mãe?"
Lois riu, mas logo ficou séria. "É exatamente isso que tá me matando. Eu quero contar uma história que inspire, que mostre como Smallville é mais do que uma cidadezinha pacata.
Seu pai, Jonathan, deixou um legado de curiosidade, de acreditar que há mistérios maiores por aí. Mas se eu publicar isso, mesmo sem citar Krypton, pode trazer caçadores de tesouros, repórteres bisbilhoteiros, ou pior." Ela bateu o dedo na mesa, frustrada.
"Ser repórter é minha essência, Clark. Mas ser sua parceira... isso também é quem eu sou."
Krypto, sentindo a tensão, levantou a cabeça e trotou até Lois, apoiando o focinho em seu colo. Ela coçou atrás das orelhas dele, murmurando, "Você entende, né, garoto? Como equilibrar ser um cão herói e um bom menino?"
Clark riu, mas seus olhos estavam cheios de compreensão. "Lois, talvez você não precise escolher entre ser repórter e ser minha parceira. E se você contasse uma história diferente? Uma que honre o espírito do meu pai, mas mantenha o segredo seguro?"
Lois arqueou uma sobrancelha, intrigada. "Tipo o quê, Smallville? Um artigo sobre a feira de tortas da Martha? Porque, sem ofensas, isso não vai pagar minhas contas."
Clark sorriu, apontando para o caderno de Jonathan.
"Meu pai escrevia sobre mais do que enigmas. Ele anotava histórias da cidade, coisas que faziam Smallville especial — pessoas ajudando umas às outras, tradições, até lendas locais.
Você poderia escrever sobre o coração de Smallville, sobre como uma cidade pequena guarda grandes lições. Use o enigma como metáfora, não como o foco. Assim, você conta a verdade sem revelar o segredo.
Lois ficou em silêncio por um momento, processando a ideia. Então, seus olhos brilharam com aquela faísca de inspiração que Clark conhecia tão bem. "Você é um gênio, Smallville.
Eu posso escrever sobre o legado de Jonathan Kent
— não o artefato, mas o que ele representava: curiosidade, coragem, comunidade.
O enigma vira um símbolo, algo que faz as pessoas pensarem nos mistérios das suas próprias cidades. E ninguém vai cavar o quintal da Martha procurando um OVNI."
Ela puxou o laptop de volta, já digitando. "Vou chamar de O Coração de Smallville: As Lições de um Fazendeiro. Nada de aliens, só humanidade.
Mas ainda vou fazer o Perry White chorar quando ler isso."
Clark riu, levantando-se para pegar mais café. "Se alguém pode fazer o Perry chorar, é você. E, Lois... obrigado. Por proteger minha família."
Lois olhou para ele, seu sorriso suavizando. "Sempre, Clark. Mas não se acostume — da próxima vez, quero uma história que eu possa publicar com letras garrafais na primeira página."
Krypto latiu em aprovação, e Lois voltou ao trabalho, as teclas do laptop ecoando como a batida de um coração. Na cozinha, Clark começou a lavar a louça, mas não antes de lançar um olhar orgulhoso para Lois.
Ela era a repórter destemida, a parceira leal, e a mulher que fazia até o Homem de Aço acreditar que qualquer conflito podia ser resolvido
— com palavras, coragem, e um toque de amor.
Cena: Redação do Planeta Diário, Metrópolis, Três Dias Depois
Lois estava em sua mesa, cercada pelo caos da redação
— telefones tocando, repórteres gritando, e o cheiro de café queimado. Perry White, o editor-chefe, segurava uma cópia impressa do artigo dela, seus olhos percorrendo as linhas com uma expressão que Lois
conhecia bem: ele estava impressionado, mas nunca admitiria.
"Lois, isso é... diferente," disse Perry, ajustando os óculos. "Nada de escândalos políticos ou bilionários excêntricos. Mas, caramba, é bom. Faz a gente querer visitar essa tal de Smallville. Como você achou essa história?"
Lois sorriu, pensando em Clark, Krypto, e na caixa kryptoniana agora segura na Fortaleza da Solidão. "Digamos que tive uma inspiração de fim de semana, chefe. E um pouco de ajuda de um fazendeiro."
Perry grunhiu, mas acenou com a mão. "Primeira página, Lane. Mas na próxima, quero algo com mais impacto
— tipo, o Superman enfrentando um monstro alienígena."
Lois riu, pegando seu caderno. "Pode deixar, Perry. Acho que posso arranjar algo assim."
Enquanto ela saía da redação, digitando uma mensagem para Clark ("Artigo na primeira página. Você me deve um piquenique sem holograma"),
Lois sentiu o peso do conflito se dissipar. Ela havia honrado sua vocação como repórter, protegido o homem que amava, e contado uma história que importava. E, em algum lugar, ela sabia que Jonathan Kent estaria sorrindo.