O céu sobre Smallville estava tingido de laranja e rosa, o tipo de amanhecer que fazia Jon Kent querer flutuar só para sentir o vento fresco contra o rosto. Mas hoje, ele não voava. Sentado na varanda da velha fazenda dos Kent, com uma caneca de chocolate quente esfriando nas mãos, Jon encarava o horizonte, tentando ignorar o peso que apertava seu peito. Ele tinha 17 anos, era o Superboy, filho de Superman e Lois Lane, mas, naquela manhã, tudo o que sentia era um garoto perdido.
O pesadelo ainda ecoava em sua mente. Ele o tivera pela terceira vez naquela semana: uma Terra em chamas, cidades reduzidas a cinzas, e um símbolo estranho pulsando em vermelho — uma cruz invertida, com espinhos retorcidos, como se fosse feita de sangue vivo. No sonho, uma voz grave sussurrava seu nome, "Jon", com uma urgência que o fazia acordar suando, o coração disparado. Ele não contou a ninguém. Nem a seu pai, Clark, que parecia sempre saber o que fazer. Nem a sua mãe, Lois, que conseguia arrancar a verdade dele com um único olhar. E definitivamente não a Damian Wayne, seu melhor amigo, que provavelmente diria que ele estava sendo "dramático demais para um kryptoniano".
Jon tomou um gole do chocolate, agora morno, e olhou para a casa. A luz da cozinha estava acesa, e ele ouviu o som familiar de Lois mexendo nas panelas, provavelmente fazendo panquecas para o café da manhã. Clark estava no celeiro, consertando o trator, como fazia toda vez que queria "desacelerar" de sua vida como Superman. Era uma cena tão normal, tão... humana. Mas Jon não conseguia se encaixar nela hoje. Algo estava vindo, algo maior do que ele, e ele sabia disso.
Ele se levantou, ajeitando a jaqueta jeans sobre o uniforme azul e vermelho que usava por baixo. O "S" em seu peito parecia mais pesado do que nunca. "Talvez seja só ansiedade," murmurou para si mesmo, tentando se convencer. Mas então ele ouviu — não com os ouvidos, mas com aquele zumbido profundo que só sua super-audição captava. Um sinal, uma frequência que não pertencia à Terra, vindo de algum lugar distante, como um chamado. Ele fechou os olhos, tentando isolar o som. Era rítmico, quase como um batimento cardíaco, mas carregado de estática, como se estivesse quebrado.
"Jon!" A voz de Lois cortou seus pensamentos. Ela estava na porta, com um avental azul e uma expressão que misturava preocupação e impaciência. "Você vai ficar aí encarando o nada ou vai entrar pra comer? As panquecas não vão se comer sozinhas."
Jon forçou um sorriso, aquele que sempre funcionava para tranquilizá-la. "Já vou, mãe. Só... pensando na escola." Era uma mentira fraca, e ele sabia que Lois percebera. Ela inclinou a cabeça, os olhos semicerrados, mas não insistiu.
"Você tem a mesma cara que seu pai fazia quando estava prestes a voar pra salvar o mundo," ela disse, cruzando os braços. "Se for fazer algo impulsivo, pelo menos me avise antes, tá?"
"Prometo," Jon respondeu, mas seus dedos já coçavam para voar, para seguir aquele sinal. Ele entrou, comeu as panquecas em tempo recorde — ignorando o olhar desconfiado de Lois — e subiu para o quarto, alegando que precisava estudar. Lá, ele abriu a janela, tirou a jaqueta e deixou o uniforme à mostra. O vento soprou, bagunçando seu cabelo castanho, e por um momento, ele hesitou. "Pai saberia o que fazer," pensou. Mas Clark estava ocupado sendo o Superman do mundo. Essa era a vez de Jon.
Ele fechou os olhos, concentrou-se no sinal e deixou seu corpo subir, flutuando a poucos metros do chão. Então, com um impulso, disparou pelos céus, o som do vento abafando o zumbido em sua mente. O sinal o guiava para o oeste, além de Smallville, além de Metrópolis, até as Montanhas Rochosas. Ele voou baixo, evitando radares, até aterrissar em uma encosta rochosa, onde o sinal era mais forte. Seus olhos varreram a área com visão de raio-X, e ele encontrou uma caverna escondida, camuflada por uma ilusão óptica.
Jon entrou, os sentidos em alerta. A caverna era fria, o ar carregado de um zumbido que fazia seus dentes vibrarem. No fundo, ele viu: uma esfera de cristal, do tamanho de uma bola de basquete, pulsando com uma luz azulada. Runas kryptonianas brilhavam em sua superfície, e o sinal vinha diretamente dela. Jon se aproximou, o coração acelerado. "O que você é?" murmurou, estendendo a mão.
No instante em que seus dedos tocaram a esfera, o mundo desapareceu. A caverna se dissolveu em um flash de luz, e Jon sentiu seu corpo sendo puxado, como se fosse sugado por um buraco negro. Ele gritou, mas o som foi engolido pelo vazio. Quando abriu os olhos, estava em outro lugar — um lugar onde o céu era vermelho, o chão era feito de cristais fractais, e a gravidade parecia dobrar a realidade.
"Você não deveria estar aqui," disse uma voz firme atrás dele.
Jon girou, os punhos cerrados, pronto para lutar. Diante dele estava uma jovem, talvez um pouco mais velha que ele, com cabelos negros cortados na altura dos ombros e olhos que brilhavam como brasas. Ela usava uma armadura leve, de um material que parecia metal líquido, e segurava uma lança energética. No peito dela, gravado na armadura, havia um símbolo que fez o sangue de Jon gelar: uma cruz invertida, com espinhos retorcidos, idêntica à de seus pesadelos.
"Quem é você?" Jon perguntou, sua voz mais firme do que ele esperava.
"Meu nome é Zynara," ela respondeu, apontando a lança para ele. "E você, Superboy, acabou de cometer um erro muito grande."