O Artefato
Jon Kent flutuava a poucos centímetros do chão cristalino, os olhos fixos em Zynara. A lança dela brilhava com uma energia que ele não reconhecia, e o símbolo espinhoso em sua armadura parecia pulsar, como se estivesse vivo. O céu vermelho da dimensão estranha lançava sombras que dançavam ao redor deles, e o ar carregava um zumbido baixo, como um motor prestes a explodir. Jon manteve os punhos cerrados, pronto para reagir, mas algo na expressão de Zynara — uma mistura de cautela e desespero — o fez hesitar.
"Você não respondeu minha pergunta," Jon disse, tentando soar confiante apesar da situação. "Por que estou aqui? E o que é esse lugar?"
Zynara baixou a lança, mas não relaxou. "Você tocou o artefato, não tocou? A esfera kryptoniana. Só alguém com sangue de Krypton poderia ativá-la." Ela deu um passo à frente, estudando-o como se pudesse enxergar através dele. "Mas você não é um kryptoniano puro. Quem é você, Superboy?"
Jon franziu o cenho. "Jon Kent. E eu não vim aqui pra jogar conversa fora. Essa esfera... ela me chamou. E aquele símbolo no seu peito tá nos meus pesadelos. Então, ou você explica o que tá acontecendo, ou vou descobrir do jeito difícil."
Zynara ergueu uma sobrancelha, quase divertida, mas a tensão em seus ombros não diminuiu. "Você é corajoso. Ou burro. Talvez os dois." Ela guardou a lança em um coldre magnético nas costas e apontou para o horizonte, onde torres de cristal retorcido se erguiam sob o céu vermelho. "Bem-vindo ao Reino de Xorath, uma dimensão-prisão. E, se você quer respostas, é melhor me seguir antes que os drones de Voryx nos encontrem."
"Voryx?" Jon perguntou, voando para acompanhar Zynara, que já caminhava em direção a uma ravina. "Quem é esse cara?"
"Não é um 'cara'," Zynara corrigiu, sem olhar para trás. "Voryx é um devorador de realidades. Ele consome mundos, dimensões inteiras, e as reduz a energia para alimentar sua existência. Este lugar foi construído para contê-lo, mas o selo está enfraquecendo. E você, Jon Kent, acabou de abrir uma porta que deveria ficar fechada."
Jon sentiu um arrepio. Ele queria perguntar mais, mas um som agudo cortou o ar — como metal sendo rasgado. Zynara parou, puxando a lança novamente. "Drones," ela sussurrou. "Fique quieto."
Antes que Jon pudesse reagir, três formas metálicas surgiram do céu, flutuando em padrões erráticos. Eram máquinas com corpos esféricos, cobertos de espinhos que brilhavam com a mesma energia vermelha do símbolo de Zynara. Seus olhos mecânicos piscaram, focando em Jon. "Alvo identificado," uma voz robótica anunciou. "Híbrido kryptoniano. Prioridade: captura."
"Capturem isso!" Jon disparou, lançando-se contra o drone mais próximo. Seu soco atravessou o metal como se fosse papel, mas os outros dois drones reagiram rápido, disparando rajadas de energia que queimaram o ar. Jon desviou por instinto, mas uma das rajadas acertou seu ombro, fazendo-o grunhir de dor. "Ok, isso não foi legal."
Zynara pulou na luta, sua lança cortando o ar com precisão. Ela destruiu um drone com um golpe, mas o terceiro disparou um campo de força que a prendeu contra o chão. "Jon!" ela gritou. "Os núcleos! Nos centros deles!"
Jon focou sua visão de calor, mirando o brilho vermelho no peito do drone que restava. O raio térmico explodiu o núcleo, e a máquina caiu em pedaços. Ele correu até Zynara, usando sua força para romper o campo de força. Ela se levantou, ofegante, mas com um leve aceno de aprovação. "Nada mal, Superboy."
"Já ouvi elogios melhores," Jon retrucou, esfregando o ombro. A dor já estava sumindo, graças à sua fisiologia kryptoniana, mas ele sabia que aquelas máquinas não eram brincadeira. "Então, esses drones são de Voryx? O que ele quer comigo?"
Zynara hesitou, como se pesasse o quanto revelar. "Você é a chave," ela disse finalmente. "Seu sangue — kryptoniano e humano — é único. O artefato que você tocou é parte de um sistema que mantém Voryx preso. Mas, ao ativá-lo, você também enviou um sinal. Ele sabe que você está aqui."
Jon engoliu em seco. Ele só queria respostas, não ser o alvo de um monstro cósmico. "Então, como consertamos isso? Eu volto pra casa, destruo a esfera e pronto?"
"Não é tão simples," Zynara disse, apontando para a esfera, que agora flutuava entre eles, pulsando mais fraca. "O artefato está danificado. Sem ele, não há como sair de Xorath. E, se Voryx escapar, sua Terra será a primeira a cair."
Jon olhou para a esfera, sentindo o peso de suas palavras. Ele pensou em Smallville, em seus pais, em Damian fazendo piadas sobre ele se meter em encrencas. "Eu não vou deixar isso acontecer," ele disse, mais para si mesmo do que para Zynara. "O que precisamos fazer?"
Zynara o encarou, como se avaliasse sua determinação. "Há um núcleo de energia no coração de Xorath. Se conseguirmos alcançá-lo, podemos reparar o artefato e reforçar o selo. Mas o caminho é perigoso, e Voryx já está nos caçando."
Jon sorriu, apesar de tudo. "Perigoso é o meu sobrenome. Bem, não literalmente, mas você entendeu."
Zynara revirou os olhos, mas um canto de sua boca se curvou em um quase-sorriso. "Você é insuportável. Vamos."
Enquanto seguiam pela ravina, com o céu vermelho escurecendo acima deles, Jon sentiu uma mistura de medo e determinação. Ele não era seu pai, o Superman que sempre tinha um plano. Mas ele era Jon Kent, e, pela primeira vez, isso parecia ser o suficiente.