Metrópolis reluzia como um sonho de cromo e neon sob o céu do entardecer. Torres de vidro curvado refletiam os últimos raios de sol, enquanto aeromóveis zumbiam entre os arranha-céus, suas luzes piscando como vaga-lumes mecânicos.
No coração da cidade, o Planeta Diário pulsava com o ritmo frenético das rotativas, cuspindo manchetes sobre o mais recente feito do herói que todos amavam — ou temiam: Superman.
Clark Kent, desajeitado em seu terno cinza mal-ajustado, tropeçou ao entrar na redação, derrubando uma pilha de papéis da mesa de Jimmy Olsen. O jovem fotógrafo ergueu uma sobrancelha, rindo.
“Calma, Kent. Quer que eu chame o Homem de Aço pra te salvar de uma pilha de relatórios?”
Clark ajustou os óculos, forçando um sorriso tímido. “Só... um dia agitado, Jimmy.”
Ele se dirigiu à sua mesa, mas seus olhos azuis, escondidos atrás das lentes grossas, captaram o brilho de uma manchete na edição matinal: “Superman: Salvador ou Ameaça Alienígena?”
O artigo, assinado por Lois Lane, cutucava como uma farpa. Clark suspirou, sentando-se com um peso que não vinha de seus músculos kryptonianos, mas de algo mais profundo. Ser o último de Krypton era uma solidão que nem sua força podia carregar.
Do outro lado da redação, Lois Lane batia nas teclas de sua máquina de escrever com a precisão de um atirador. Seu cabelo castanho estava preso em um coque desleixado, e uma ruga de concentração marcava sua testa. Ela não olhou para Clark, mas sua voz cortou o ar.
“Kent, se vai ficar encarando, pelo menos traga um café. Ou uma história decente.”
Clark corou, pegando-se distraído. “Eu... claro, Lois. Alguma coisa boa na sua pauta?”
Ela parou de digitar, girando na cadeira para encará-lo. Seus olhos castanhos brilhavam com desconfiança.
“Lex Luthor. Ele está financiando um novo ‘projeto de defesa’ na LexCorp. Diz que é para proteger Metrópolis de ‘ameaças externas’.” Ela enfatizou as últimas palavras, como se jogasse uma isca.
Clark engoliu em seco. Sabia exatamente o que Luthor queria dizer com “ameaças externas”. Ele próprio. “Parece...
interessante. Quer ajuda com a pesquisa?”
Lois bufou, voltando à máquina. “Você? Não acompanha nem as próprias meias, Kent. Fique com suas matérias sobre feiras de ciências.”
Antes que Clark pudesse responder, o chão tremeu. Um estrondo ecoou pela cidade, seguido por gritos distantes. As janelas da redação vibraram, e papéis voaram das mesas. Jimmy correu para a janela, apontando para o céu.
“Olha isso! É... é algum tipo de máquina voadora!”
Clark se aproximou, seu coração acelerando. No horizonte, uma silhueta metálica pairava sobre Metrópolis — um robô colossal, com braços como guindastes e olhos brilhando em vermelho.
Suas pernas pisoteavam ruas, esmagando carros como brinquedos. Uma voz amplificada ribombou, fria e familiar:
“Cidadãos de Metrópolis, eu sou Lex Luthor. Apresento o Titan de Metrópolis, nossa defesa contra invasores alienígenas. Hoje, ele enfrentará o chamado ‘Superman’!”
Lois já estava de pé, pegando seu caderno e uma câmera.
“Isso é minha matéria!” Ela correu para o elevador, ignorando os protestos de Perry White, o editor-chefe, que gritava algo sobre segurança.
Clark hesitou por meio segundo. Seus olhos encontraram o céu, onde o Titan disparava raios que incendiavam um prédio próximo. Ele murmurou um “com licença” e disparou para o armário de suprimentos, fechando a porta atrás de si.
Segundos depois, uma rajada de vento cortou a redação. Papéis voaram, e Jimmy exclamou: “Lá vai ele!” Pela janela, uma figura em azul e vermelho rasgava o céu, o cape esvoaçante como uma bandeira. Superman.
No ar, Kal-El sentia o vento contra o rosto, mas sua mente estava em turbulência. Luthor havia escolhido o momento perfeito, explorando a paranoia da Guerra Fria interplanetária. A multidão lá embaixo o encarava com uma mistura de esperança e medo. Ele era o herói deles, mas também o estranho, o alienígena.
O Titan virou seus olhos vermelhos para ele, disparando um raio de energia verde. Kal-El desviou por instinto, mas o raio roçou seu ombro, e uma pontada de fraqueza o atravessou. Kryptonita. Luthor não estava brincando.
“Luthor!” Superman gritou, sua voz ecoando como trovão. “Pare essa máquina antes que alguém se machuque!”
A risada de Luthor veio através dos alto-falantes do robô. “Machucar? Estou salvando Metrópolis de você, alienígena. Ou prefere que te chamem de Kal-El?”
O nome kryptoniano o atingiu como um soco. Como Luthor sabia? Antes que pudesse processar, o Titan avançou, seus punhos metálicos visando esmagá-lo. Superman bloqueou o golpe, mas o impacto o lançou contra um arranha-céu, estilhaçando janelas. Ele se levantou, ignorando a dor, e voou direto contra o robô, socando seu peito com força suficiente para amassar o metal.
Lá embaixo, Lois corria pelas ruas, desviando de destroços. Ela ergueu a câmera, capturando Superman em ação, mas sua mente trabalhava mais rápido que o obturador. Por que Luthor está tão obcecado por Superman? E como ele sabe tanto sobre ele? Ela precisava de respostas, mesmo que isso significasse se aproximar do fogo cruzado.
Um pedaço de concreto caiu do céu, e Lois congelou. Antes que pudesse reagir, uma rajada de vento a envolveu, e ela se viu nos braços de Superman, pairando a metros do chão. Seus olhos se encontraram — os dele, de um azul impossível; os dela, desafiadores.
“Você de novo,” Lois disse, tentando esconder o tremor na voz. “Não sou uma donzela em perigo, Homem de Aço.”
“Eu sei,” ele respondeu, com um meio-sorriso que parecia... humano. “Mas prefiro não arriscar.”
Ele a colocou em segurança no topo de um prédio, mas antes de voar de volta para o Titan, Lois agarrou seu braço. “Quem é você, realmente? E por que Luthor te odeia tanto?”
Superman hesitou, a pergunta ecoando suas próprias dúvidas. “Sou só alguém tentando ajudar,” disse, por fim. “Fique em segurança, Lois.”
Ele disparou para o céu, deixando-a com o vento bagunçando seu cabelo e uma certeza crescendo em seu peito: Superman estava escondendo algo. E ela descobriria o quê.