O vento uivava como um lobo solitário, carregando flocos de neve que dançavam ao redor da figura em azul e vermelho.
Superman pairava acima do deserto gelado do Ártico, seus olhos fixos em uma fenda escura na geleira abaixo. O sinal que detectara na noite anterior
— um pulso de energia que ressoava em uma frequência estranhamente familiar — vinha dali. Seu coração, normalmente firme como o aço, batia com uma mistura de esperança e temor.
Krypton, ele pensou, o nome ecoando como uma memória que não conseguia segurar.
Ele desceu, a capa ondulando contra o frio que não o afetava. A fenda revelava uma caverna de gelo, suas paredes brilhando com reflexos azulados.
No centro, parcialmente enterrado, estava um objeto que não pertencia à Terra: um cristal prismático, pulsando com uma luz suave. Kal-El se aproximou, hesitante. Seus dedos roçaram a superfície, e uma onda de energia o envolveu, quente como o sol que lhe dava poder.
Uma voz grave ecoou na caverna, acompanhada por uma projeção holográfica tremeluzente. “Kal-El, meu filho.” Era Jor-El, seu pai, ou pelo menos uma sombra digital dele. A imagem estava fragmentada, cortada por estática, mas os olhos do kryptoniano morto carregavam uma urgência que fez Kal-El estremecer. “
Você encontrou o Farol. Há sobreviventes... uma colônia... mas o perigo...” A mensagem falhou, dissolvendo-se em silêncio.
Kal-El ficou parado, o peso das palavras o ancorando ao gelo. Sobreviventes. Ele sempre acreditara ser o último, um exilado carregando o legado de um planeta morto.
Mas e se houvesse outros? Um lar? Ele pegou o cristal, sentindo sua pulsação como um coração vivo. Precisava saber mais, mas a ideia de deixar a Terra — Metrópolis, seus amigos, Lois — o fez hesitar.
De volta a Metrópolis, o Planeta Diário era um caos organizado. Repórteres corriam entre mesas, telefones tocavam sem parar, e Perry White gritava ordens do seu escritório envidraçado.
Clark Kent, de volta ao seu terno cinza e óculos tortos, tentava se misturar à confusão. Ele segurava uma xícara de café morno, mais como disfarce do que por necessidade, enquanto seus olhos vagavam até Lois Lane.
Ela estava inclinada sobre sua mesa, cercada por recortes de jornais e anotações rabiscadas. Fotos do Titan de Metrópolis, agora destruído, estavam espalhadas como peças de um quebra-cabeça. Lois mordia a ponta de um lápis, seus olhos estreitos de concentração. Clark se aproximou, pigarreando.
“Lois, hum... trouxe aquele relatório sobre a LexCorp que você pediu.” Ele estendeu uma pasta, exagerando a hesitação em sua voz.
Lois ergueu o olhar, impaciente. “Sério, Kent? Você demorou tanto que eu já podia ter invadido o escritório de Luthor e voltado.” Ela pegou a pasta, folheando os papéis com uma velocidade que fez Clark sorrir internamente.
Lois nunca desacelerava.
“Alguma pista sobre o que Luthor está tramando agora?” Clark perguntou, ajustando os óculos para esconder o brilho de curiosidade em seus olhos.
Lois bufou, apontando para uma foto do Titan. “Esse robô não era só um show de força. A tecnologia é... estranha. Não é terráquea. E Luthor não é burro o suficiente pra construir algo assim sem um plano maior.”
Ela olhou para Clark, semicerrando os olhos. “Por que você tá tão interessado, hein? Quer virar repórter investigativo agora?”
Clark corou, atrapalhando-se com a xícara. “Só... tentando ajudar. Você sabe, trabalho em equipe.”
Lois revirou os olhos, mas um canto de sua boca se curvou em um quase-sorriso. “Se quiser ajudar, Kent, traga algo útil. Tipo, sei lá, uma entrevista com o Homem de Aço.”
O comentário o pegou desprevenido, e Clark engasgou com o café, tossindo. Lois riu, balançando a cabeça. “Relaxa, Clark. Não vou te fazer correr atrás de um super-herói. Ainda.”
Antes que ele pudesse responder, um alarme ecoou pela cidade. As janelas do Planeta Diário vibraram, e gritos distantes cortaram o ar. Clark olhou pela janela, sua visão telescópica captando uma cena a quilômetros dali: drones metálicos, menores que o Titan, mas rápidos e armados, voando em formação sobre o porto de Metrópolis.
Cada um carregava um brilho verde que ele reconheceu imediatamente. Mais kryptonita.
“Perry!” Lois já estava de pé, pegando seu caderno e casaco. “Tem algo acontecendo no porto! Vou cobrir!”
“Lane, não vá se matar por uma manchete!” Perry gritou, mas Lois já corria para o elevador. Clark murmurou uma desculpa e disparou para o armário de suprimentos, seu coração acelerado. Luthor estava agindo rápido, e o cristal em seu bolso — escondido dentro do terno — parecia pulsar em resposta.
No porto, o céu estava cinza, carregado de fumaça. Os drones, criação de Luthor, disparavam raios de kryptonita contra depósitos, incendiando caixas e espalhando pânico entre os trabalhadores. Superman chegou como um relâmpago, desviando de um raio e destruindo um drone com um golpe preciso. Mas cada movimento o deixava mais lento, a kryptonita corroendo sua força como veneno.
“Luthor!” ele gritou, sua voz ecoando sobre o caos. “Mostre-se!”
Uma tela holográfica se materializou entre os drones, exibindo o rosto de Lex Luthor, com seu sorriso frio e calculista. “Superman, ou devo dizer... Kal-El? Você é previsível.
Sempre correndo para salvar os fracos. Mas e se a cidade não quiser você?”
A provocação acertou em cheio. Kal-El hesitou, e um raio o atingiu no peito, lançando-o contra um contêiner. Ele se levantou, ofegante, sentindo a fraqueza se espalhar. Como Luthor sabe meu nome? Ele acessou o artefato?
Do outro lado do porto, Lois se escondia atrás de um guindaste, tirando fotos dos drones. Ela viu Superman cair e, contra todo instinto, sentiu um aperto no peito. “Droga, Homem de Aço, levante-se,” murmurou, ajustando a câmera. Mas então ela notou algo: os drones pareciam controlados por uma antena no topo de um navio próximo. Se pudesse desativá-la...
Lois correu, ignorando o perigo, e escalou o navio. Dentro da cabine de comando, encontrou um painel de controle brilhando com símbolos estranhos — símbolos que pareciam... alienígenas. Ela hesitou, mas apertou um botão vermelho, torcendo para que fosse o certo.
No céu, os drones pararam, caindo como moscas. Superman aproveitou a chance, destruindo os últimos com rajadas de visão de calor. Ele olhou para o navio e viu Lois, de pé, com um sorriso desafiador. Por um momento, seus olhos se encontraram, e ele sentiu algo além da dor da kryptonita — uma conexão, frágil, mas real.
Luthor reapareceu no holograma, sua expressão endurecida. “Aproveite sua pequena vitória, alienígena. Isso é só o começo.” A tela apagou, deixando apenas o eco de sua risada.
Mais tarde, no Planeta Diário, Clark voltou à sua mesa, o cristal seguro em seu bolso. Lois estava escrevendo furiosamente, já montando a matéria sobre o ataque. Ela olhou para ele, franzindo a testa.
“Kent, onde você se mete quando as coisas ficam sérias? Sério, você é pior que um fantasma.”
Clark sorriu, ajustando os óculos. “Só... tentando não atrapalhar, Lois.”
Ela bufou, mas havia um brilho em seus olhos. “Se diz. Mas sabe, aquele Superman... ele é mais humano do que parece.”
Clark congelou, o coração disparando. Ele murmurou algo vago e se afastou, mas as palavras de Lois ficaram com ele, assim como o peso do cristal e a voz de Jor-El. Metrópolis precisava dele, mas Krypton o chamava. E, pela primeira vez, ele não sabia qual caminho seguir.