Capítulo 2 – O Herdeiro das Cinzas

As eras passaram como poeira levada pelo vento.

O nome de Elion foi apagado dos registros. As músicas que um dia celebraram sua sabedoria foram proibidas. A Torre Arcana, centro do poder mágico, tornou-se uma ruína amaldiçoada — evitada até pelos mais ousados aventureiros.

Os seis traidores, agora chamados de "Protetores do Equilíbrio", reescreveram as leis do mundo, instaurando um domínio de medo disfarçado de paz.

Os magos comuns foram reduzidos a servos; os nobres monopolizaram a magia. Os pactos antigos, outrora fontes de liberdade e estudo, tornaram-se correntes invisíveis.

Ainda assim, as lendas sussurravam:

"Quando o mundo esquecer a luz verdadeira, um novo arauto se erguerá das cinzas."

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Anos depois...

Numa aldeia esquecida chamada Vernhollow, no extremo norte de Eltherion, uma tempestade assolava os campos. Raios cortavam o céu como lâminas de prata, e os ventos uivavam entre as montanhas.

Em uma pequena cabana de pedra, os gritos de parto cortavam a noite.

Mila, a jovem aldeã, gemia em dor, agarrando o lençol suado. Ao seu lado, a parteira trabalhava rápido, murmurando orações para deuses que há muito haviam abandonado os homens.

O bebê nasceu com um grito que não parecia humano — era forte, quase selvagem. No instante em que seus pequenos pulmões puxaram o primeiro sopro de ar, a tempestade lá fora cessou subitamente.

O silêncio que se seguiu foi quase sobrenatural.

A parteira, de mãos trêmulas, envolveu a criança em um tecido grosso. E então viu.

Bem no centro do peito do menino, brilhava uma marca: três círculos entrelaçados por runas, exatamente como o antigo selo da Torre Arcana.

Seus olhos se arregalaram de medo.

— O que é isso...? — murmurou, recuando um passo.

Mila, exausta mas lúcida, ergueu a cabeça para ver o filho. Apesar da marca misteriosa, apesar do temor que gelou a espinha de todos no recinto, ela apenas sorriu. Um sorriso triste, como se já soubesse que aquele menino carregaria um destino pesado.

— Qual será o nome dele? — perguntou a parteira, com a voz trêmula.

Mila tocou a testa da criança suavemente e respondeu:

— Lior.

“A Luz depois da tempestade.”

Do lado de fora, no alto das árvores negras, olhos invisíveis observavam.

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Em outro lugar, muito distante dali...

No coração das Montanhas Sombrias, escondida sob rochas encantadas, havia uma fortaleza subterrânea onde o tempo parecia não tocar.

Ali, uma figura encapuzada atravessava um salão de pedra viva. Estátuas de magos esquecidos se erguiam nas paredes, e no fundo do salão, sete tronos colossais. Apenas dois estavam ocupados.

— Chegou a hora? — perguntou uma voz rouca, de um dos tronos. Seus olhos ardiam com magia, mas seu corpo parecia velho como o próprio mundo.

— O selo que escondia a linhagem de Elion... quebrou-se esta noite — respondeu a figura encapuzada, ajoelhando-se. — O herdeiro nasceu.

O outro ocupante, de rosto coberto por uma máscara de ferro negro, permaneceu em silêncio por longos segundos antes de dizer:

— Então o Fôlego da Luz foi soprado de novo.

— Devemos agir?

— Ainda não. Ele é apenas um bebê... mas o caos virá até ele, cedo ou tarde. Os Protetores sentirão. E quando o mundo tentar apagá-lo de novo...

A voz pausou, como uma lâmina prestes a ser desembainhada.

— ...nós estaremos lá.

As tochas ao redor do salão piscaram, como se respondessem a uma promessa antiga.

Nas sombras de Eltherion, uma ordem secreta desperta — guardiões silenciosos de uma verdade proibida.

E assim, sem saber, o pequeno Lior já carregava os olhos do mundo sobre si