Eu com certeza exagerei. Foi assim que me senti assim que acordei. Não deveria ter bebido tanto, ainda mais quando estou sozinho.
Com um som agudo ressoando na minha cabeça, notei um ambiente nada familiar.
— Hein? — Olhei em volta. O lugar onde estava, de fato, não era minha casa.
Com tantos álbuns autografados, eu podia estar num quarto de adolescente rico… ou de um fã obcecado. Dava no mesmo.
Levantei com pressa, aliviado por ainda estar de calça, fui em direção à porta que estava apenas encostada. Olhei para fora e segui receoso pelo pequeno corredor. Achei o que parecia a sala de estar. Notei uma movimentação e, lá, a cozinha.
Em pé, parado perto ao fogão, um rapaz de cabelo preto meio ondulado, com seu braço direito todo tatuado, piercings na sobrancelha e no lábio inferior, e com o abdômen à mostra.
Ele olhava para mim como se eu fosse uma gato falante.
— Você acordou, Park. Bom dia.
— O que aconteceu? — gritei, assustado.
Ele era um cara muito atraente, e eu estava altamente bêbado. Com um homem assim, seria capaz de fazer loucuras até mesmo sóbrio.
— O que eu fiz? A gente transou? Não me diga que eu fui o ativo bêbado...
— Não aconteceu nada do que está pensando — afirmou ao pegar sua camisa e então vesti-la. — Você só dormiu.
— Quem é você? — Ele olhou para mim duvidando da minha pergunta. Eu deveria conhecê-lo? Eu deveria lembrar?
Ele suspirou, como se estivesse frustrado.
— Eu quase te atropelei ontem. Você, bêbado, insistiu que eu deveria te levar para casa, mas não sei onde mora. Te trouxe para minha casa e você ainda fez questão de dormir no meu quarto — ele disse friamente.
As memórias na minha mente iam confirmando tudo que ele falava, e agora entendo por que ele não parecia feliz.
— Mas só te ajudei porque te conheço.
— De onde?
— Da faculdade.
— Ah, entendi. — Segui em sua direção. — Me desculpe por isso.
— Quer comer algo? Preparei ovo mexido.
Fiquei desconfiado. Mas minha memória dizia que ele não parecia perigoso. Só... prático.
— Sim, eu quero sim. Eu ainda tenho que ir trabalhar.
Ele me serviu e então se sentou à minha frente.
— Eu não me lembro de te ver na faculdade — comentei.
— Eu vou apenas alguns dias — ele disse sem desviar os olhos da comida.
O rosto dele era familiar, mas não sabia identifica-lo. Será que usa óculos?
Ele era, de fato, um homem muito bonito.
— Você é gay? — perguntei.
Não é como se eu tivesse interessado, só porque… Ok, eu estou interessado.
— E eu achei que você só estava dando em cima de mim ontem porque estava bêbado — disse, comprimindo os lábios e inflando as bochechas.
Uma cena bem adorável, porém inesperada. Ele parecia um garoto de 23 anos.
— Por umas razões que prefiro esquecer... não consigo me envolver fisicamente com ninguém. Então, tanto faz com quem seria. — O tom dele mudou. Frio. — Só não me toque com segundas intenções.
Meu sorriso desmanchou. Ele foi direto e simples. Entendi perfeitamente, infelizmente.
— Entendo, tenho uma amiga como você… O mundo é muito cruel, mas você seria um gay muito... requisitado — comentei.
Seu olhar veio para mim; ele parecia incrédulo, mas apenas aceitou.
— Bom, obrigado.
Assim que terminei de comer, me despedi dele. Mal sabia onde ficava a porta de entrada daquele lugar. O homem estranho não fez questão de me seguir ou me guiar até ela.
Quando saí do local, percebi que, de fato, não estava em um hotel. Era um condomínio e, mais que isso, era de luxo. Não me deparei com ninguém além do porteiro.
Que tipo de pessoa ele era para ter algo assim, tão acima do meu padrão ideal?
O cara era bonito, rico e tinha uma vibe de gangster. Não pelas tatuagens. Era o jeito de falar. Frio. Preciso. Intocável. Ou ele era muito bom de mentira, ou muito resolvido.
Definitivamente alguém curioso para mim. Mas não pretendo vê-lo de novo.