Talvez eu deva parar de beber, penso ao sair do elevador. Estou carregando uma caixa com roupas e um pouco de comida. Meu irmão tem ficado com meu pai e minha mãe nesta semana.
Assim que entro na sala, encontro meu pai e meu irmão discutindo.
— Qual o problema de vocês? — Perguntei.
— O seu irmão é incompetente! Tem pernas boas, é jovem, mas consegue ser mais inútil do que eu!
— Não fale assim, pai. Ele está tentando. — Defendi meu irmão, enquanto colocava a caixa com as roupas e algumas coisas de higiene sobre uma mesinha.
— Hm. — Ele bufou e em seguida olhou para o lado. Sora colocou as mãos no bolso. — Ande, conte para o seu irmão a verdade.
— Sali… Lembra quando eu fazia apostas? — De repente, sinto meu estômago embrulhar. Fazia mais de uma semana que não os via. Só agora percebo que seu olho esquerdo está escuro, além de algumas manchas perto do pescoço.
Ele estava devendo alguém.
— Quanto? — Ele olha para mim com receio de me responder. — Eu perguntei quanto!
— 20 mil.
Desci as escadas alternativas do hospital, levando Sora, que estava agarrado pelas orelhas, até o estacionamento. Ali, eu lhe dei um soco e agarrei sua blusa.
— Eu não sabia que as coisas ficariam assim.
— Como não sabia? Já tem 6 meses que estamos entre a cruz e a espada! Mas você precisa ser mais um problema! Você deveria ajudar!
— Eu ajudo. Eu ajudei.
— Agora você não ajudou! Com uma dívida de 20 mil? A cirurgia da mãe precisa ser feita, preciso pagar a fisioterapia do pai. Onde que 20 mil a menos ajuda? Que mentira você quer contar para nossos irmãos mais novos?
— Você não precisa pagar.
— Se eu não pagar, vai ser uma pessoa a menos! Já temos uma dívida com o agiota! Você não precisa aumentá-la. Só o meu salário não dá conta. Será que você percebe isso?
— É só vender o pomar.
— Você quer explicar isso para os nossos pais? Acha que eu já não falei? Eles não querem vender!
Sora chutou o chão.
— É só vender o pomar!
E saiu andando.
— Para onde você está indo?
Ele não me respondeu. Sora não parecia estar bem. Ele sempre foi um filho melhor que eu. Quando a tempestade veio, quem estava lá era ele. Ele sempre foi mais próximo dos nossos pais. Eu só aparecia em casa algumas vezes aos finais de semana. Talvez ele tenha raiva de mim.
Quando cheguei em casa, eu ainda tinha raiva de Sora. E o pior? Parte de mim queria abraçá-lo, outra parte queria deixá-lo sozinho pra sempre.
Eu gostaria que as coisas voltassem a ser como antes o quanto antes. Todos nós pensamos assim. Por isso não abrimos mão de nada até agora. Mas, na verdade, só estamos esperando que algum de nós quatro desista primeiro. A cirurgia da mãe, a dívida, o pomar, o mundo ruindo. Eu precisava de um alívio. Um escapo. Uma válvula que me lembrasse que ainda existe beleza no meio da lama.
Então, como todo emocionalmente comprometido que se preze, fui observar meu colega de trabalho.
Sa Yomin.
Observar ele era tipo minha oração particular. Meu momento de paz, mesmo que fosse um lembrete cruel de tudo o que eu não tenho.
Sou quase obcecado por ele. Seu sorriso gengival, sua pele clara... Já me peguei imaginando por horas como seria nossa vida juntos. Yomin é apenas um ano mais velho, com 29 anos.
— Você está cansado? Dormiu bem essa noite? — O entregador sempre demonstrava preocupação com o bem-estar de Yomin.
Umedeci meus lábios, conforme tentava evitar olhar as mãos de Jaemin, que desciam delicadamente até as bochechas de seu namorado. Ele também sorria. Eu preciso admitir, Jaemin também é bonito, com um sorriso mais belo ainda. Era ele quem fazia Yomin sorrir.
— Eu também quero… — Sussurro, desviando o olhar.
Sinto meu corpo aquecer. Eu diria que é pura inveja, pois não dá para ter ciúmes de algo que nem é meu.
As mãos de Yomin só alcançam meu corpo porque somos amigos e nada mais. Volto meus olhos novamente ao casal. O entregador já havia dado a volta e estava sentado ao lado de Yomin, ambos próximos e sorrindo um para o outro.
Me levanto e vou em direção ao banheiro. Provavelmente, Lucas já me deixou alguma mensagem.
Quando lhe contei sobre o cara tatuado, ele ficou animado, disse que era coisa de fanfic e que eu deveria tentar encontrá-lo de novo, já que ele me tratou bem.
Lucas: [Ele tem piercing na sobrancelha?]
Eu nunca vi o Lucas tão empolgado com algum "rolo meu".
Pai: [A moça disse que sua mãe está bem, não está correndo risco, apesar de ainda precisar da cirurgia]
A última mensagem do meu pai me alivia um pouco. Talvez eu consiga adiar mais um pouco.
— Mais uma! — Digo.
— Não exagera, Sali. Vai com calma. — Disse Jaemin. Nós três, costumamos sair juntos depois do trabalho.
Jaemin é atrevido ao ponto de às vezes flertar comigo também. Se eu vacilar, ele aperta minhas bochechas e me dá um beijo na testa, alegando me achar muito fofo.
É exatamente por isso que Pão de mel é meu apelido. Esse ser irritante é meu amigo de infância.
— Deixe-o, Jae.
Às vezes, eu só preciso sorrir e fazer uma cara fofa.
— Tá com ciúmes, Yomin? Eu sei que sou irresistível para vocês. — Passei minha mão sobre meu queixo delicadamente e me inclinei para trás.
Eles riram. É ótimo ter a atenção deles dessa forma. Não diria que sou carente de atenção, mas detesto ser ignorado.
O tempo passa rápido quando estou com eles. Pedi uma carona para voltar para casa, mas nem sempre é uma boa ideia ir com os dois.
— Vocês podem parar? Me deixem em casa primeiro, se comam depois. Vidas solteiras importam! — Reclamei ao ver Jaemin estremecer de repente enquanto dirigia. Yomin estava colocando a mão onde não devia.
— Desculpa, Sali, ele não costuma ser assim.
— Eu sei! — Afirmei, irritado, abrindo a porta do carro. — Até logo, gente.
— Até mais, Sali!
Conforme ia subindo pelas escadas do condomínio, tentava ignorar o fato de que o carro deles ainda permanecia parado no mesmo lugar.
Talvez fosse o rádio. Talvez uma conversa profunda. Ou talvez… bem, algo que é melhor eu não imaginar agora.
Mas o pior de tudo? Parte de mim queria estar ali também.
Eu precisava sair novamente. Observar eles estava começando a ser insuportável, foi por isso que saí ontem sozinho, embora eu geralmente saía com o Lucas ou JP... mas eu e JP estamos brigados.