6- O impotente

Eu estava vivo, o que por si só já era assustador. A ideia de estar em um lugar cheio de câmeras e ainda assim não ser seguro me fazia questionar as escolhas da minha vida. Pelo menos encontrei o zelador novinho, que parecia ser uma boa pessoa.

— Então é ele? — Uma das mulheres que se aproximaram de mim perguntou, olhando para outra moça que trabalhava no galpão. Não estava falando comigo, mas com a loira.

— Sim. — A loira respondeu sem tirar os olhos da tela do celular.

— Como faço para me aproximar? — A mulher perguntou, e eu não pude deixar de reparar nela. Era alta, com a pele escura e cabelo cacheado como um buquê de flores. Usava um vestido bege e, caramba, ela era bonita de uma maneira quase intimidante. Seus olhos estavam fixos em quem quer que fosse o cara que ela queria se aproximar, e seu sorriso era confiante. Eu nem sabia por que estava observando tanto, mas parecia que havia algo de especial nela.

— Apenas diga oi. — Disse a atendente. Ela tinha um olhar cauteloso. — Mas se sua intenção é sair com ele, sugiro que mude de ideia. Ele não sai com ninguém.

— Ele é um conservador radical?

— Não... Ele apenas não se envolve com nada e ninguém. — A loira completou, baixando a voz como se fosse um segredo.

— Tá dizendo que ele não transa? — A mulher respondeu com uma curiosidade descarada.

Quase me engasguei com a bebida. Como é que alguém diz isso tão facilmente? Olhei para o homem de quem estavam falando. E, claro, era ele, e ele estava me olhando. De novo. Agora, ele estava vestido de maneira diferente. Não mais o uniforme de zelador, mas uma blusa social preta que ficava bem demais nele. Parecia mais jovem e, de alguma forma, mais perigoso. Ele estava sentado ali, relaxado, como se fosse o dono do lugar. Seus olhos estavam fixos em mim, sem disfarçar.

— Dizem que ele sofre de impotência. — A mulher do caixa completou como se estivesse dando uma informação qualquer. Isso me deixou ainda mais curioso. Ele tinha mencionado um trauma. Então, o que a mulher dizia fazia sentido, mas, ao mesmo tempo, não fazia. E por que ele não parava de me olhar? Era verdade aquilo tudo?

— Ah... Desisto então. — A mulher disse, mudando de ideia.

Levantei-me, um pouco nervoso, e fui até a mesa onde o homem estava. Eu o observei de longe por um momento, e seus olhos brilharam assim que me viu se aproximar dele. Sua boca ficou entreaberta, uma reação clara de surpresa, ou seria outra coisa? Ele parecia hipnotizado, e por um segundo, me perguntei se ele estava realmente olhando para mim, ou se era só minha imaginação. Mas, não, ele seguiu meu movimento enquanto eu desviava de algumas pessoas.

— Oi, de novo. — Disse, tentando quebrar o gelo.

— Oi. Me desculpe pelo que aconteceu mais cedo. Muitas pessoas estranhas por aí, né? — Ele sorriu, mas ainda estava tenso. Isso não era normal.

— Sim… Mas fiquei feliz por te encontrar, só não achei que fosse tão cedo… Como se chama? — Perguntei, finalmente me aproximando da mesa dele.

Ele ficou um pouco mais tenso, seus olhos arregalaram, e ele balançou a cabeça como se não acreditasse. Seus cabelos se mexiam levemente, mas havia algo nele que estava diferente. Algo... difícil de decifrar.

— Min Jun-Ho. — Ele respondeu com um tom quase constrangido.

— Certo, Jun-Ho... Tem umas pessoas falando umas coisas esquisitas sobre você. — Falei, testando sua reação. Ele não se surpreendeu, apenas assentiu.

— Ah, provavelmente é verdade...

— Então você realmente não gosta de transar?

Ele piscou, surpreso, mas logo se recompôs.

— Ah, isso. — Ele deu uma risada nervosa, meio sem jeito. — É exatamente o que já te falei. Não tive boas experiências, então acabei me afastando. Eu não sinto nada, e nada acontece.

A sinceridade dele me pegou de surpresa. Ele não parecia tentar esconder nada, nem mesmo se proteger de alguma maneira.

— Você está mentindo? — Perguntei, em tom de brincadeira, querendo entender melhor.

— Não, é mais fácil dizer a verdade logo de cara. Me poupa de mal-entendidos e, sinceramente, não é como se isso fosse uma fraqueza minha. É só um fato. — Ele falou com uma leveza que só fez aumentar o mistério.

Ele tinha razão. Era mais simples, mais direto.

— Já que você está disposto a responder minhas perguntas… Posso me juntar a você? — Perguntei, com a sensação de que aquele momento poderia ser mais importante do que imaginava.

— Claro, mas só não beba muito, Salin. Eu ainda não sei onde você mora. — Ele deu um meio sorriso, tentando se manter sério.

— Não se preocupe, não vou beber mais. Na verdade, não tenho mais dinheiro. — Ri fraco, tentando descontrair.

— Por quê? Não tem emprego? — Ele parecia genuinamente curioso.

— Tenho, mas a dívida não paga sozinha, e minha família também precisa de ajuda. Parece que tudo gira em torno de dinheiro, não importa o quanto você tente evitar. — Soltei um riso baixo, me sentindo um pouco desconfortável ao falar sobre isso.

— Você é pai de família? — Ele perguntou.

— Não. Sou o filho mais velho.

— Ah... Que triste. — Ele comentou de maneira quase automática.

— Só isso que você tem a dizer, senhor zelador? — Brinquei, tentando aliviar a tensão.

— Eu não sou zelador! — Ele corrigiu, com uma expressão séria, mas seus olhos brilharam de leve.

— Eu sei, eu estive na sua casa... E, sinceramente, aquilo não é a casa de um zelador. Seu quarto estava uma bagunça, sabia?

— Isso não significa nada. Eu podia ser zelador, não acha? Já ouviu o ditado: "Em casa de ferreiro, o espeto é de pau!" — Ele tentou se defender, mas dava para ver que estava sem graça.

— E o seu espeto tá quebrado? — Perguntei, rindo, só para ver a reação dele.

Jun-Ho desviou o olhar, e a risada me escapou sem querer. Era um momento estranho, mas divertido, e eu realmente queria continuar.

— O cara disse que você ia se casar, é verdade? — Perguntei, mais por curiosidade do que por qualquer outra coisa.

— Ah, não. Isso é parte do meu problema. Tudo que eu preciso fazer é sossegar e encontrar o "amor verdadeiro" antes do outono. Minha família acha que eu posso, ao menos, fingir ser normal. — Ele falou, mas o tom estava claramente frustrado.

— Bem coisa de família rica... Por que até o outono, então? — Perguntei, curioso.

— Porque, depois disso, eu terei 25 anos. — Ele deu de ombros, como se fosse o fim do mundo.

— Interessante. — Eu ri. Isso parecia tão idiota, e ao mesmo tempo, parecia que eu começava a entender mais sobre ele.

— É ruim. — Ele afirmou rindo.

— Mas, se é um relacionamento de fachada, por que seria ruim?

— É porque já não é a primeira tentativa. É cansativo.

E eu olhei para ele.

— Então você quer encontrar o amor verdadeiro, não é? — Perguntei. Pelo seu olhar, ele parecia certamente desejar isso.

— Não, não mais. — Ele pareceu tímido.

O homem sério que me levou para casa aquele dia, e o que acabou de me salvar dando apenas uma ordem, não tem nada a ver com esse algodão doce aqui na minha frente.

— Você realmente desistiu de tentar? — Eu não o deixei de olhar nos olhos em nenhum momento, e ele passou a ficar desconfortável com isso. Tímido, ele começou a evitar olhar nos meus olhos, mas não na minha boca.

— Sim. Não é tão simples… — Sua timidez se tornou adorável para mim. Com uma mão na nuca, ele relutou em olhar para mim antes de perguntar. — Por quê? Continua interessado? — Questionou.

— Bem, eles estavam fofocando sobre você... E eu acho melhor perguntar pessoalmente.

Coloquei minha mão em meu queixo e sorri. Ele havia dito que não era gay... Mas a forma como ele me olha, me possuiu de certa forma. É impossível que ele não esteja interessado em mim. Sei o suficiente.

— Hm. Se eu te conquistar, você paga minha dívida?

Ele me olhou surpreso.

— Pagaria, mas será que você consegue?

— Eu só ia precisar de um tempinho. Não concorda? — Eu me ergui levemente e me aproximei de seu rosto.

— Ta-ta-lvez — Ele entrou num leve estado de pânico, acho que não esperava que eu fizesse isso, porém ele nem se moveu, seu olhar era curioso, esperando ver o que eu faria.

— Você quer me beijar? — Perguntei.

— Eu não… sou bom com iniciativas. Eu não gosto de contato… Mas…

— Se me permite. — Disse.

Eu olhei para sua boca, ela era vermelha e tinha no canto um piercing. Eu apenas me aproximei mais, testando, apenas testando o que ele dizia. Eu o beijei, encostando nos seus lábios.

Ele pareceu confuso, tal como alguém que sequer havia entendido o conceito de "beijo", mas logo me deixou beijá-lo com minha língua e, então, ele me correspondeu à altura.

Me inclinei mais, e ele foi para trás como se eu não pudesse tocá-lo com minhas mãos. Puta beijo bom, como se ele fosse naturalmente um dominador. Eu já estava quase em cima da mesa e ficaria de quatro.

Era confuso nesse ponto, ele parecia ter todas as manhas de um bom beijo, mas era inseguro e não pegava fogo. Só seguia meu ritmo, mas era bom. Até o caralho dos olhos eu fechei, e, quando abri, ele havia fechado também. Parei de beijá-lo. Se seguisse adiante, talvez eu fosse querer o que aparentemente ele não pode me dar, mas lhe deixei mais um selar após o beijo assim que ele abriu os olhos. Então sorri, me afastando.

Ele nada disse, ficou apenas parado, olhando para mim de vez em quando enquanto recuperava o seu fôlego. Diante da sua mudez, lhe perguntei. Ele parecia assustado.

— O que foi?

— Por que… como me beijou? Isso foi louco.

— Pensei que não sentisse nada. — Ele confirmou com a cabeça, mordiscando seus lábios. Sorri, ele era uma pessoa curiosa.

— Você não deveria fazer isso…

— Tenho a impressão de que você gostou… Não fique bravo comigo, Jun-Ho, mas as pessoas daqui talvez pensem que você seja gay a partir de hoje. Mas olha pelo lado bom, nem tudo está perdido. — Ele confirmou vagarosamente, e enquanto eu admirava aqueles olhos negros brilhantes, eu recebi um telefonema. — Preciso ir, dessa vez tenho um amigo para me levar. Nos veremos da próxima vez, se eu não morrer até lá.