Já se passaram dois dias desde que o irmão de Salin foi agredido. Encontrar quem bateu nele foi fácil.
Mas quem mandou isso?
Essa pergunta tem me consumido. Eu sei que Sora já está acordado, mas ele não tem falado muito, e isso tem preocupado o meu Salin.
Eu o encontrei sentado na sala de espera do hospital. Ele parecia perdido, sem saber o que fazer. Mas, ao menos, estava aliviado por não ter encontrado ele desmaiado como da última vez.
— Salin? — Chamei, e logo ele me viu.
— Por que você sempre volta? — Ele disse, a voz pensativa.
— Tome. — Fui até ele e lhe entreguei uma lata de bebida. — Me desculpe por ter ficado dois dias sem vir te ver.
— E eu achando que tu finalmente tinha me escutado.
— A minha vida só ganha sentido se envolver você, Salin.
— Xiu, não sou obrigado a escutar isso. Já pode ir. Adeus.
— Hm… tá, tô indo. Mas qualquer coisa, me fala. — Eu me virei em direção ao elevador, mas as mãos de Salin me seguraram pela manga da minha jaqueta. Eu me virei, e ele não olhava para mim. Ficou em silêncio por alguns segundos, como se fosse fazer uma grande declaração.
Eu apenas esperei.
— Eu preciso da sua ajuda. — Ele sussurrou, finalmente.
— Pode falar. — Respondi, me agachando, querendo olhar em seus olhos.
Ele ainda desviou o olhar. Talvez estivesse realmente sem saída.
— Você deve saber, mas meu irmão está devendo 30 mil para uma facção. Meus irmãos mais novos estão em uma escola interna. Minha mãe está no hospital e precisa fazer uma cirurgia. Meu pai precisa de fisioterapia... — Ele hesitou, mas eu apenas o observei em silêncio. Ele fez um bico enorme ao falar, como se estivesse prestes a chorar. — Faço qualquer coisa. Acho que você é o único que pode me ajudar.
— Salin, sabe com o que está se envolvendo?
— Não sei ao certo. Mas, se você quisesse ter feito algo pior comigo, já teria feito. — Ele disse, nervoso. Parecia tímido, mas seu olhar veio até mim.
Eu fiquei encantado.
— Ok, eu te ajudo a se livrar de seus fardos, mas então me ajude com os meus.
Salin estremeceu, preocupado.
Eu jamais faria mal a ele. Mas não posso simplesmente entregar o meu mundo sem que isso me beneficie. Já fiz isso uma vez e não posso fazer de novo. Ajudá-lo agora significa admitir que tenho interferido na vida de um civil inocente sem apresentar uma justificativa plausível.
O conselho soube rapidamente sobre Salin e, claro, souberam também que estou caçando qualquer um que mexeu ou tentou atacar ele e sua família. Só o fato de que estou aqui prova que os conselheiros estão certos.
Eu o amo e não pretendo deixá-lo. Então devo assumir isso.
— O que eu tenho que fazer?
— Se case comigo.
O silêncio tomou conta da sala. Salin franziu o cenho. Incrível como, mesmo pedindo ajuda, ele ainda era exigente. Ele me soltou e se sentou corretamente na cadeira.
— Impossível. — Ele disse, fazendo outro bico.
— Eu te ajudo, e você me ajuda. É simples. — Eu disse, me levantando.
— Eu não posso te dar um filho! — Ele argumentou, levantando-se também. — Casamentos assim são por causa dos herdeiros, não? Eu sou um homem, cara!
— Eu só preciso do status. Depois que eu conseguir a posição, podemos nos divorciar. As condições são simples: você deve viver comigo, voltar a frequentar a faculdade… — Eu precisava acrescentar um último ponto. — E me beijar também.
— O quê? Te beijar? — Ele pareceu se arrepender de ter pedido ajuda.
— Preciso disso a partir de agora, principalmente porque isso tornará nosso relacionamento mais real. E claro, depois que eu completar 25, ao final do ano, podemos desfazer o casamento...
Os olhos de Salin se abriram, mas logo ele olhou para o médico saindo da sala de um paciente. Ele pareceu aceitar bem minhas condições.
— Você pode ajudar minha família? — Ele perguntou, a ansiedade no rosto. — Eles vão ficar bem?
— Sim, e farei até o impossível. Iremos noivar por seis meses e então nos casaremos. Mas agora, eu realmente preciso ir. Venha ao Promise se decidir que sim.
Ele segurou a barra da minha camisa uma segunda vez.
— Obrigado por me deixar escolher. — Ele parecia aliviado.
— Ah… as dançarinas do bar, elas recebem bem. — Eu disse, me afastando dele, sentindo meu rosto esquentar. Ele me olhou torto, como se eu tivesse dito um absurdo. — Você é bonito e andrógeno. Faria sucesso. — Eu disse mais alto, tentando aliviar a tensão.
— Oh, bom saber. — Ele respondeu, quase sorrindo.
— Eu voltarei. — Disse, e ele confirmou com a cabeça.
Não pude conter a emoção. Salin poderia dizer sim, e eu poderia fazê-lo se apaixonar por mim.
(...)
Enquanto Jun-Ho caminhava em direção a saída do hospital, senti algo estranho. Uma mistura de alívio, mas também confusão. Eu estava prestes a entrar em um acordo com ele, um acordo que mudaria minha vida completamente. A proposta dele soava simples, mas eu sabia que não era.
Beijo... Ele provavelmente quer me usar para continuar testando a si mesmo.
Eu o observava entrar em seu carro e algo dentro de mim se agitava.
Poderia lidar com um casamento falso, eu estava disposto a ajudar minha família, mas não deveria me envolver com sentimentos. Eu sei que me apaixonaria, mesmo que para ele eu fosse apenas um brinquedo.
O barulho da porta sendo aberta de repente me tirou dos meus pensamentos. O médico entrou na sala e me entregou um papel.
— Vamos realizar a cirurgia da sua mãe, pode assinar? — Ele perguntou.
— O quê? — Eu disse, ainda confuso.
— A cirurgia e o tratamento de sua família estão pagos, senhor. Só precisa assinar, e vamos transferi-los para outro quarto.
Eu não conseguia processar as palavras dele. O que estava acontecendo? Como assim estava tudo pago?
— O acionista Min Jun-Ho, CEO da M&J cosméticos pagou por tudo e pediu para fazer o necessário para que sua família se recupere bem.
Minhas mãos começaram a tremer, e eu quase deixei o papel cair. Não tinha se passado nem 20 minutos desde que Jun-Ho saiu, e ele já estava resolvendo tudo. Eu sequer havia me decidido.
Assinei, sem palavras. Meu pai estava confuso, meu irmão só nos encarava. Mas eu estava me sentindo aliviado, profundamente grato.
— O que está acontecendo? — Perguntou meu pai, com um olhar desconfiado. Meu irmão me observava atentamente.
Como um peso que saía das minhas costas, respirei e disse sem pensar muito:
— Eu vou me casar.
— O quê? — O espanto estava claro nos olhos deles.
— Achei um cara rico por aí que precisa de um marido de aluguel. Ele é legal, então aceitei.
— Por acaso é o mesmo homem que veio atrás de você aquele dia? — Meu pai, sempre perspicaz.
— Sim. Já tem um tempo que ele vem me oferecendo essa proposta. Eu não ia aceitar até perceber que, de fato, ele é uma boa pessoa.
— Filho, você não pode fazer isso de repente.
— Bom, ele já pagou a dívida de vocês. Preciso cumprir minha parte do acordo agora.
Esses últimos seis meses foram os piores da minha vida, e agora eu estava prestes a viver outros 500. Mas, ao menos, duvidava menos da bondade de Min Jun-Ho, embora ainda precisasse confrontá-lo.