O acordo do noivado consistia em Min Jun-Ho cuidar da família de Salin. A família Park agora tinha sua casa antiga reconstruída e uma nova posse na capital.
Noivo de Salin, Min Jun-Ho tinha sua reputação melhorada: os rumores de impotência cessaram. Min Jun-Ho agora era um jovem inteligente que se fortaleceu após sucessivos fracassos e se tornou tão criterioso que noivou com Park Salin, reconhecido como alguém que foi treinado por Jaeho, e possuía grande habilidade de combate. A única pessoa que podia tocar em Jun-Ho.
Intimamente, Min Jun-Ho também ganhava com esse contrato, afinal, mesmo que o noivado fosse apenas uma farsa, estava se tornando mais próximo de Salin.
Quando Jun-Ho chegou para buscá-lo, o jeito tranquilo e confiante do mais novo o fez relaxar um pouco. Salin não sabia para onde seria levado, mas, movido por sua curiosidade, aceitou o convite. Eles dirigiram por um tempo, ouvindo música em silêncio, até que chegaram a um lugar inesperado: um parque à beira do rio, afastado do agito da cidade. A brisa leve e o reflexo da lua sobre a água criavam um ambiente calmo, quase mágico.
— Eu queria um lugar longe de tudo, só nós dois. — Jun-Ho disse, saindo do carro e abrindo a porta para Salin.
Salin sorriu, surpreso. Nunca imaginou que o mais novo o traria a um lugar assim, tão tranquilo e diferente do habitual. Eles caminharam lado a lado pelo parque, as mãos quase se tocando, enquanto conversavam sobre tudo e nada ao mesmo tempo. A noite estava fresca, e o som suave do rio trazia uma serenidade que Salin não sabia que precisava.
Quando menos esperava, Salin se deparou com uma pequena mesa montada em um canto mais afastado, com um jantar simples, mas bem organizado. Ele piscou algumas vezes, surpreso.
— Você preparou tudo isso quando? — Salin perguntou, encarando o outro com um misto de surpresa e admiração.
— Tive uma ajuda aqui e ali. — respondeu com um sorriso que iluminou seu rosto.
Eles se sentaram e, à medida que a noite avançava, a conversa fluiu naturalmente. Pela primeira vez em muito tempo, Salin se sentiu verdadeiramente à vontade com Jun-Ho. A tensão que normalmente os cercava parecia ter desaparecido. O garoto era leve, espontâneo e genuíno. Salin quase se perdeu no brilho nos olhos do mais novo mais de uma vez.
Enquanto comiam, Salin notou como Jun-Ho o observava de uma maneira diferente, mais suave e sincera. Havia algo nos olhos dele que Salin não conseguia decifrar, mas que fazia seu coração bater um pouco mais rápido. Talvez fosse o peso do momento, ou talvez fosse o fato de que ele estava ali, presente, como nunca antes.
Após a refeição, o silêncio confortável entre eles foi interrompido por Jun-Ho, que suspirou levemente antes de falar.
— Como estamos fazendo um mês, achei que fosse apropriado. — Ele começou, sua voz baixa e hesitante. — Eu menti pra sua mãe, na verdade já havia comprado.
— Do quê está falando?
— Para nós. — Ele ergueu um par de anéis para Salin.
Salin levantou o olhar para encontrar os olhos de Min Jun-Ho. Ele estava surpreso.
Salin não podia ignorar seu coração acelerado, ele levou as mãos até o rosto, tentando esconder suas bochechas avermelhadas, pois era capaz de sentir a queimação subir até sua testa.
— Jun-Ho, que fofo. — Ele disse, quase impulsivamente.
— Mesmo que seja um acordo, gostaria de entregar de uma forma especial. — O mais novo sorriu, meio tímido. — Até porque, você é mesmo especial para mim.
Jun-Ho pediu pela mão do mais velho, e assim ele entregou o anel brilhante, cuidadosamente, no dedo de Salin. Mas antes que ele pudesse colocar o seu, Salin tomou o anel antes e pediu pela mão de Jun-Ho.
— Me deixe colocar também.
Ambos colocaram os anéis e ambos sorriram um para o outro.
— Deixe eu tirar uma foto. — Disse Salin.
Até mesmo o perfil de Salin nas redes sociais estava inundado de fãs do Yuno.
Salin postou a foto rapidamente e vários comentários foram feitos.
— Alguns de seus fãs são muito fofos.
Jun-Ho observava o rosto de Salin, naquela luz ambiente.
— Sali.
— Hm?
— Eu estou sendo sincero, eu gosto de você. — Disse o mais novo. — Gostaria que gostasse de mim também.
Salin ficou quieto, sem saber exatamente o que dizer, ainda sentindo o rubor em seu rosto. Ele não imaginava que Min Jun-Ho entregaria um anel de noivado e nem que fosse se declarar.
— Jun-Ho…
— Está tudo bem, eu só queria que soubesse.
Os dois passaram mais um tempo ali, juntos, até que decidiram voltar para casa. No caminho de volta, Salin olhava para o anel em seu dedo. Ele não sabia dizer ao certo o que sentia. Sabia que Jun-Ho estava falando sério, mas… poderia corresponder?
Ele tinha medo das consequências de se apaixonar por alguém como Min Jun-Ho. Estaria pronto para abandonar sua vida para estar ao lado dele? No momento, ele não poderia dizer que sim.
(...)
Deitados na cama, o quarto estava em silêncio, exceto pelo som tranquilo da respiração de ambos. Salin virou-se de lado, encontrando os olhos de Jun-Ho no escuro. Ele sorriu de leve, e o mais novo retribuiu antes de inclinar-se para um beijo breve e suave, sem pressa, como se apenas quisesse sentir a presença um do outro.
Quando se afastaram, Salin deslizou os dedos pelo rosto de Min Jun-Ho, traçando a linha de sua mandíbula antes de puxá-lo para um abraço.
Jun-Ho escondeu o rosto na curva do pescoço de Salin e sussurrou:
— Fica comigo.
O pedido era desnecessário, mas Salin o segurou mais forte, como se respondesse sem palavras.
Ele não iria a lugar algum, ele não pensava em ir a lugar algum agora.
Conforme a noite avançava, Jun-Ho não conseguia dormir. Ele tentou se convencer de que era só o estresse do trabalho, mas no fundo sabia que as memórias que ele tanto se esforçava para enterrar estavam voltando, uma a uma.
Ele suspirou, tentando controlar a respiração, mas o nó no peito só apertava. O quarto estava escuro, mas ele sabia que Salin estava ao seu lado, respirando suavemente. Por um instante, tentou se concentrar nisso, no conforto que era tê-lo ali. Porém, a sensação de descontrole e fracasso começou a sufocá-lo. Era como se estivesse preso em um ciclo de ansiedade que não conseguia escapar.
Sem perceber, começou a respirar mais rápido, os músculos do corpo enrijecendo. Suas mãos tremiam levemente, e o suor frio começou a se formar na testa. Min Jun-Ho sentiu-se perdido, o coração batendo acelerado, e uma onda de desespero o atingiu.
Memórias da época em que havia sido sequestrado quando criança. Ele ainda se lembrava do terror, da impotência e, pior de tudo, dos abusos que testemunhara. Mesmo agora, anos depois, esses momentos vinham à tona nos piores momentos. E, ultimamente, parecia que esses fantasmas estavam mais próximos do que nunca.
Ele fechou os olhos, tentando bloquear as imagens que surgiam em sua mente. Mas cada vez que fazia isso, as memórias ficavam mais vívidas. O som dos socos e chutes, os gritos abafados... tudo voltava com uma clareza dolorosa. Suas mãos começaram a tremer.
Ele tentou não fazer barulho, tentou não acordar Salin, mas era impossível. A crise estava tomando conta, arrastando-o de volta para aquele lugar sombrio em sua mente.
Salin, logo percebeu que algo estava errado. Ele abriu os olhos lentamente, ainda sonolento, mas o som da respiração irregular de Min Jun-Ho o despertou por completo. Virou-se para o mais novo e o viu tenso, os olhos apertados como se estivesse lutando contra alguma coisa.
— Jun? — A voz suave de Salin cortou o silêncio, carregada de preocupação. Ele se mexeu na cama, virando-se para encarar o mais novo. — Você está bem?
Jun-Ho não respondeu de imediato. Ele queria dizer que sim, que estava tudo bem, mas as palavras ficaram presas. Sua respiração estava descompassada, e o peito doía como se estivesse sendo esmagado. Sentia-se exposto e vulnerável.
Ele estendeu a mão, hesitante, e tocou de leve o braço de Salin, como se estivesse pedindo permissão para ajudá-lo.
— Ei... respira fundo — Salin disse suavemente, a voz baixa mas firme. — Estou aqui. Você está seguro.
Min Jun-Ho fechou os olhos, tentando se concentrar nas palavras de Salin. Mas não conseguia escapar da tempestade em sua mente. Ele se lembrava dos rostos, dos gritos, das noites intermináveis de medo. Sentia-se pequeno de novo, vulnerável, como se nada pudesse salvá-lo.
— Min Jun-Ho, olha para mim — Salin pediu, sua voz firme, mas ainda gentil. Ele se aproximou mais, segurando o rosto dele com as duas mãos, tentando trazê-lo de volta. — Respira devagar. Você está seguro. Eu estou aqui.
Os olhos de Jun-Ho se abriram, encontrando os de Salin. Ele estava tremendo, o rosto molhado de suor, mas o olhar de Salin era como uma âncora, puxando-o de volta à realidade. Ele tentou respirar como Salin estava pedindo, mas as memórias ainda pairavam, ameaçando derrubá-lo de novo.
Salin sentiu seu coração apertar ao ver o mais novo assim. Sabia pouco sobre o que ele havia vivido quando era uma criança, mas vê-lo sofrer dessa maneira era devastador.
— Eu estou com você — Salin repetiu, mantendo as mãos no rosto do outro. — Você não está sozinho.
Jun-Ho moveu suas mãos e segurou as de Salin. O mais velho as segurou firmemente, enquanto o mais novo começava a respirar mais devagar, as mãos ainda tremendo, mas o pânico aos poucos diminuindo. Ele se concentrou no toque de Salin, na voz dele. Jun-Ho ainda sentia o coração pesado. Mas havia algo tão seguro naquele momento, algo que ele nunca havia sentido antes com ninguém. Era como se, com Salin, ele pudesse ser vulnerável sem medo.
— Vai ficar tudo bem.
Os dois ficaram deitados em silêncio, o toque reconfortante de Salin servindo como uma âncora para Jun-Ho, que ainda lutava contra os ecos de seu trauma.
Salin, mesmo sem dormir, permaneceu atento, observando o mais novo com cuidado. Seu coração estava pesado de preocupação, mas também cheio de afeto. Ele sabia que Jun-Ho carregava cicatrizes profundas, e embora quisesse aliviar toda a dor, tinha consciência de que ele já estava nesse processo há um longo tempo.
Na manhã seguinte, a luz suave do amanhecer entrou pelas frestas das cortinas, despertando Jun-Ho lentamente. Ele se mexeu na cama, sentindo o corpo ainda exausto, mas sentiu um alívio ao sentir Salin ao seu lado, meio adormecido.
Depois de algum tempo, Salin abriu os olhos lentamente, sentindo o olhar dele sobre si.
— Bom dia — Salin murmurou, ainda sonolento, a voz baixa e suave. — Você está se sentindo melhor?
Jun-Ho respirou fundo, assentindo levemente.
— Um pouco — respondeu, a voz rouca pelo sono e pelo cansaço emocional.
Houve um silêncio confortável entre os dois, até que Jun-Ho, sem dizer uma palavra, se inclinou para mais perto de Salin. Dessa vez, não havia crise, não havia pressa ou desespero, apenas um desejo genuíno de se conectar. Ele olhou nos olhos de Salin por um instante, buscando algum sinal de hesitação. Mas não havia nenhum.
Então, com suavidade, Jun-Ho aproximou seus lábios dos de Salin e o beijou. Foi um beijo lento, cheio de emoção, sem a intensidade dos impulsos dos últimos dias. Salin retribuiu o gesto com a mesma calma, permitindo que aquele momento os envolvesse, sem a pressão do que estava por vir.
Quando o beijo terminou, Jun-Ho suspirou suavemente, encostando sua testa na de Salin.
— Eu não quero que você se afaste — ele sussurrou, sua voz carregada de sinceridade. Não queria que, após Salin descobrir tudo, ficasse com medo de tocá-lo. Jun-Ho queria que Salin continuasse a beijá-lo, abraçá-lo e agir impulsivamente. Salin era o único que poderia fazer isso. — Independente de qual seja meu estado, me toque, você pode me tocar, Salin.