— Jun-ho! — Eu acordei assustado com o chamado de Salin.
— Não grite. — Disse sem fôlego.
Ele olhou confuso para mim.
— Mas eu não gritei... Você estava sonhando?
Eu não lembrava de nada, apenas notava o sol bater em meu rosto.
Me levantei atordoado.
— Não me lembro.
Conforme fui para a sala, Salin me observou tímido.
— As coisas ontem foram meio loucas.
— Foi… me desculpe, não achei que meu pai e Lee-shi fossem aparecer.
— Eu fevo ter ficado sem respirar por uns 4 minutos.
— Esse tipo de situação pode aconteçer mais vezes, mas não prescisa se preocupar com nada.
— Bom, ele foi embora com o rabo entre as pernas… — Salin esboçou um pequeno sorriso e isso me aliviou.
— Sali, quer sair comigo hoje? — Salin me olhou desconfiado. — Prometo que ninguém vai aparecer de surpresa, só nos dois. Um encontro.
— Está tentando me conquistar?
— Sim, claro que estou.
Ele suspirou, mas não pareceu que ia negar.
— Venha almoçar com a minha família então. — Disse Salin como se tentasse barganhar.
— Você… contou pra sua família? — Perguntei confuso.. — Eles aceitaram?
— É por isso que ela quer te conhecer. Minha mãe falou que só aceitaria se soubesse quem era você de fato.
— Ok, por mim tudo bem. — Sorri. — Sua família não parece muito diferente da minha.
— Que comparação grotesca! — Salin disse quase indignado mas eu continuei rindo. Uma família poderia ser considerada normal se o filho mais velho dissesse " Estou fingindo um noivado com um mafioso" e os pais dissessem " Traga ele aqui para eu possa conhece-lo"?.
(...)
Salin saiu do carro e observou Jun-ho dar a volta no veículo, ajeitando o terno antes de caminhar ao seu lado em direção à entrada. Ele parou por um instante, encarando a casa que agora pertencia à sua família.
A fachada moderna e o jardim bem cuidado eram um lembrete silencioso de como as coisas haviam mudado. Era um lar seguro, diferente da pequena casinha onde cresceram no pomar da família. E, de certa forma, Jun-ho fazia parte dessa mudança.
Salin logo bateu na porta e em segundos, ela se abriu com um estrondo.
— Finalmente você chegou! — Una gritou ao vê-lo, pulando em seu abraço.
— Ei, eu não estou atrasado! — Salin riu, segurando-a com facilidade. — Dormiu bem?
— Ótima! — ela respondeu animada, mas logo desviou os olhos para Jun-ho, que observava a cena com um sorriso discreto. — Ah! Jun-ho você também veio!
Una soltou Salin e, sem hesitar, aproximou-se de Jun-ho.
— Mamãe ficou brava porque eu te conheci primeiro que ela. — Ela concluiu, rindo.
Jun-ho piscou, pego de surpresa, antes de rir baixinho.
— Que bom que veio! — Una continuou, segurando a mão de Salin e puxando-o para dentro. — Você precisa vir me ver antes das minhas férias acabarem!
— Você já está marcando compromisso para mim? — Jun-ho arqueou a sobrancelha, entrando atrás deles.
— Claro que sim!
A casa estava cheia de vida. Era espaçosa, iluminada, com o cheiro de comida quente vindo da cozinha. Jun-ho sentiu o peso do olhar de todos assim que entrou.
— Salin! — A voz da mãe ecoou pela sala antes que ela surgisse na porta da cozinha, enxugando as mãos no avental. Seu olhar pousou diretamente em Jun-ho, estudando-o por um instante antes de voltar a sorrir. — Meu filho, que bom que você chegou!
Ela atravessou a sala e abraçou Salin com carinho, ignorando completamente a presença de Jun-ho por um momento. Ele permaneceu em silêncio, observando a cena.
Seu pai, sentado em uma poltrona confortável, também o avaliava. Havia um jornal dobrado ao lado e uma bengala apoiada contra a cadeira.
— Pai, a mãe descansou hoje? — Salin perguntou, afastando-se da mãe.
— Nada. Mas pelo menos tomou os remédios. — O homem respondeu, já se levantando com um pouco de dificuldade.
— Ora, eu já disse que aguento mais ficar parada! — Minna retrucou, sorrindo. — Seu pai que não sai mais daquele jardim, tá criando um mini pomar.
Salin desviou o olhar, sabendo que ele mesmo havia incentivado a ideia.
— Não dá trabalho nenhum! — O pai resmungou.
— É bom que tenha alguma distração. — Jun-ho se manifestou pela primeira vez, chamando a atenção de todos. Seu tom era respeitoso, mas firme.
Minna olhou para ele com mais atenção.
— Hm… Então você é o famoso Jun-ho.
— É um prazer conhecê-la, senhora Lee. — Ele fez uma leve reverência.
Minna não respondeu de imediato, apenas analisou Jun-ho como se estivesse tentando enxergar além da superfície.
— Sali fala muito sobre você.
Salin tossiu, desviando o olhar, mas Jun-ho permaneceu inexpressivo.
— Espero que sejam coisas boas.
— Algumas. Outras, eu tive que descobrir por conta própria. — Minna sorriu levemente.
Jun-ho sustentou o olhar dela, entendendo a mensagem por trás das palavras.
— Eu pretendo cuidar bem dele.
Sora, que estava jogando no sofá, bufou.
— Se não fizer isso, nós vamos cuidar de você.
Ojin concordou com um aceno.
Salin rolou os olhos.
— Gente…
— Tá tudo bem. — Jun-ho disse, divertido. — Eu esperaria nada menos que isso da família dele.
— E você? — Minna virou-se para Jun-ho novamente. — Gosta de comida caseira?
— Sim.
— Bom. Então venha ajudar a pôr a mesa.
Enquanto arrumavam a mesa.
Minna não perdeu a oportunidade.
— Você gosta do meu filho?
— Gosto. Gosto de verdade. Mas não vou forçar ele a ficar comigo mais tempo que o contrato exige.
— Você está dormindo com meu filho?
O rosto de Jun-ho corou e Minna achou engraçado.
— Oh Meu Deus, agora entendo o que Salin viu em você. Você é tão fofo. Tem certeza que é um mafioso?
— Eu tenho um objetivo difícil.
— E meu filho parece muito atraído. — Ela sorriu e depois chamou sua família à mesa.
— Vocês moram juntos, certo? Quem cozinha? — Perguntou Park Han.
— Jun-ho na maioria das vezes. Mas quando ele chega tarde sou eu que faço.
— Eu gosto de cozinhar. — Afirmou com um sorriso.
— Ele mal deixava eu tocar no fogão antes. — Acrescentou Salin.
— Isso tudo começou a quanto tempo?
— Faremos um mês, senhora.
— Meu Deus, parecem que vocês estão juntos há muito mais tempo.
— Se contar a época que ele me perseguia dá 3 meses.
— Perseguia? — Minna se virou assustada para Jun-ho esperando uma resposta.
E ele calmamente respondeu.
— Precisava conquistar ele de alguma forma. Mas Salin é difícil.
Una riu.
— Salin, você colocou um cara que trabalha matando gente para correr atrás de vocês?
— Seu irmão é muito corajoso, mal sabia ele que isso me atrairia ainda mais. — Jun-ho comentou.
E todos riram, não porque acharam engraçado o que Jun-ho falou, mas a ação de Salin em tapar sua boca, foi cômica.
— Eu devia ter te denunciado.
— Ah eu também perseguia seu pai. — Minna falou nostálgica. — Mas, então… Onde está o anel de compromisso?
Salin quase engasgou.
— Mãe!
— O quê? — Minna olhou inocentemente para ele. — Se vocês estão noivos, deveria ter um anel.
— Não precisa disso. — Salin murmurou, desviando o olhar.
Mas então, antes que a conversa pudesse mudar de rumo, Jun-ho interveio calmamente:
— Já providenciei um.
O silêncio que se seguiu foi imediato.
Salin virou a cabeça na direção de Jun-ho, os olhos ligeiramente arregalados.
— O quê?
Jun-ho apenas o encarou, imperturbável.
— Está sendo feito. Vou te entregar em breve.
Una soltou uma risada alta.
— Sali seu rosto tá vermelho!
— Não tá, não! — Salin rebateu rapidamente, cobrindo o rosto com a mão.
— Está sim! — Ojin confirmou, rindo. — Você parece uma maçã!
— Ai, meu Deus… — Salin bufou.
Minna escondeu um sorriso, satisfeita.
— Fico feliz em saber que pensou nisso, Jun-ho.
— É o mínimo. — Jun-ho respondeu, lançando um olhar breve para Salin, que ainda tentava se recompor.
Sora, que até então só observava, arqueou uma sobrancelha.
— Vocês prescisam mesmo levar a sério? ,— Disse Sora.
— Precisa ser o mais verdadeiro possível.
— Eu… — Salin hesitou, olhando Jun-ho, que o encarava como se esperasse uma resposta. — Bom… já que ele comprou…
Una deu um sorrisinho.
— Você gostou da ideia, né?
Salin revirou os olhos.
— Vocês são insuportáveis.
O pai de Salin, que ouvia a conversa em silêncio, apenas riu, voltando a se servir de mais comida.
— Mãe, o ensopado de hoje está muito bom.
— Não muda de assunto. — Una sorriu, provocando.
Salin suspirou, e Jun-ho soltou um leve riso ao vê-lo derrotado.
Una apoiou o queixo nas mãos, olhando para Jun-ho.
— Mas e aí, que tipo de anel você escolheu?
Jun-ho tomou um gole de água antes de responder, o olhar sereno.
— Algo que combine com ele.
Salin mordeu o lábio, desviando o olhar, enquanto Una e Ojin trocavam olhares divertidos.
Sora soltou um resmungo.
— Isso tá muito romântico pro meu gosto.
Minna sorriu, satisfeita.
— Pois eu adorei.
O almoço seguiu, tranquilo, com conversas leves e algumas piadas sobre o novo "genro" da família. Jun-ho lidou com tudo com paciência, respondendo às perguntas e observando o ambiente.
— Vem cá, preciso falar com você. — Disse Minna assim depois que limparam a mesa.
Salin arqueou uma sobrancelha, mas Minna ignorou.
Jun-ho a seguiu para a varanda.
— Eu confesso que fiquei com muito medo quando Salin me contou sobre você. Mas agora que te vejo de pertinho, percebo que apesar de tudo, ainda é um bom rapaz e sei que ama meu filho.
Jun-ho a encarou.
— Eu amo.
— Salin tem um coração muito grande. Ele é intenso, impulsivo, mas também se machuca fácil.
— Eu sei.
— Então trate de ser paciente. Se precisar de espaço, diga a ele. Se ele pedir espaço, dê espaço a ele. Ele sente demais as coisas, é um menino inteligente, mas humano, e pode ser um pouco inseguro. Dê segurança a ele. E você, não segure muito as coisas só pra você está bem? Salin vai sempre te escutar se você tiver algo a dizer. Compartilhem, para que toda essa situação de vocês não fique pesada. — Ela piscou. — É a dica que eu deixo pra vocês.
Jun-ho desviou o olhar por um momento, absorvendo as palavras.
— Muito obrigado, são dicas valiosas.
— Eu ainda não entendo bem onde Salin está se envolvendo. Mas meu filho sempre foi atrás de problemas. — Minna sorriu. — Desde de criança ela gostava de adrenalina. Então… não deixe ele se envolver muito nisso.
Jun-ho hesitou, depois assentiu.
— Eu vou tentar fazer isso.
— Bom. Ou então você vai ter que me encarar, e acredite, posso ser bem assustadora.
Jun-ho riu baixinho.
— Eu acredito.
Eles voltaram para dentro, e Minna bagunçou o cabelo de Salin como se nada tivesse acontecido.
Quando deu o horário para Salin ir para o trabalho, Salin acompanhou Jun-ho até o carro.
— Sobre o que vocês falaram?
Jun-ho abriu a porta e olhou para ele.
— Sobre como eu devo cuidar de você.
Salin corou.
— Ela disse isso?
— Ela se preocupa com você. Mas você não me disse que sua mãe era tão direta.
Salin sorriu.
— Bem-vindo à minha família.
— Eu gosto deles.
Salin desviou o olhar, envergonhado.
— Não esquecer que à tarde eu vou te levar pra um lugar. — Disse antes de abrir a porta do carro.
— Não é nenhum lugar perigoso, neh?
— Não, você vai gostar.