Salin estava sentado na beirada da cama, segurando um pano úmido enquanto observava Jun-ho terminar de secar o cabelo, após sair do banho. O ferimento no ombro do mais novo estava visível, pois ele sequer havia colocado uma blusa, com uma faixa de sangue seco na bandagem em seu ombro.
— Isso é horrível. — Disse, inclinando-se sobre Jun-ho e começando a remover a bandagem com delicadeza. — Você deveria ter ido ao hospital — murmurou Salin, a voz suave, mas levemente repreensiva.
— Eu estou bem — respondeu, soltando um suspiro enquanto sentia o toque frio do pano contra a pele machucada.
Salin estava sendo muito cuidadoso, porém também estava sendo mais lento do que Jun-ho esperava.
— Salin, você disse que queria enfaixar, então não fique enrolando e faça mais rápido. — Disse Jun-ho, aos risos.
— Mas não dói?
— Dói, sim. É por isso que deve terminar logo!
— Tá bom, tá bom. — O mais velho se focou na sua função.
Quando Salin terminou de limpar o ferimento, pegou um novo curativo e começou a aplicá-lo com precisão.
— Pronto — disse Salin, finalmente se afastando para admirar seu trabalho.
— Ótimo. Gostou da experiência de cuidar de um ferimento de bala? — Jun-ho sorriu, inclinando-se para frente até que suas testas quase se tocassem.
Salin revirou os olhos, mas um pequeno sorriso surgiu em seus lábios enquanto ele se afastava.
— Seria melhor se você não se machucasse mais.
— Vou tentar.
Antes que Salin pudesse retrucar, a campainha tocou, quebrando o momento. Ambos se olharam, curiosos, já que não estavam esperando ninguém. Jun-ho se levantou, indo em direção à porta.
Ao abrir, lá estava Min Kun, o pai de Jun-ho. Sua figura imponente enchia a entrada da casa, mas ele tinha uma expressão amigável, embora carregada de sua habitual seriedade.
— Pai? O que está fazendo aqui? — Perguntou, surpreso.
— Posso entrar? — Kun perguntou, já passando pela porta sem esperar uma resposta. — Imaginei que o encontraria aqui, já que não veio me ver.
Salin se endireitou ao andar pelo corredor, reconhecendo a voz de Kun. Estava um pouco tenso para cumprimentá-lo. Mesmo sem dizer nada, o olhar dele sobre Salin parecia mais leve do que o usual, como se houvesse um pequeno gesto de aprovação.
— Boa noite, senhor Min. — Salin disse educadamente, inclinando-se levemente em respeito.
Kun acenou de volta, mantendo seu olhar firme. Ele olhou de volta para Jun-ho e, sem rodeios, falou:
— Vou levá-los para um jantar. Acho que é hora de comemorarmos adequadamente, não acha?
— Um jantar? — Jun-ho ergueu uma sobrancelha, surpreso com a sugestão. — Você quer sair para jantar conosco?
— Sim, filho. Você fez um bom trabalho. Colen pode ter escapado, mas você possui pistas e sua missão foi concluída com êxito, isso merece reconhecimento. Além disso, Salin também se saiu bem. Fiquei contente com o retorno.
Salin corou levemente, surpreso com a atenção.
— Eu… eu ficaria honrado — respondeu, um pouco tímido, depois de tudo o que aconteceu, já não sabia se odiava ou se admirava Kun.
Jun-ho pegou a mão de Salin e sorriu, como se dissesse para o mais velho, que estava tudo bem.
— Então vamos. Será bom sair um pouco. — Ele afirmou.
Kun olhou para os dois e, por um segundo, pelo gesto de Jun-ho em segurar a mão de Salin, mesmo sabendo que o noivado fosse uma farsa, ele não poderia deixar de imaginar que havia algo a mais ali.
Não muito tempo se passou e chegaram ao local, era um restaurante sofisticado, um lugar que parecia que só políticos e magnatas entrariam. Jun-ho e Salin entraram lado a lado, enquanto Min os seguia com sua postura imponente.
Depois de se acomodarem à mesa e pedirem a comida, Min Kun começou a discutir com Jun-ho sobre os próximos passos para capturar Colen. Salin ouvia em silêncio, observando o pai de Jun-ho com atenção, enquanto tentava não se sentir deslocado naquele mundo de estratégias e poder.
— Precisamos fechar mais algumas pontas soltas, filho. — Disse seu pai. — Colen não vai se esconder por muito mais tempo. Já ordenei ao conselho para se reunir para ver formas de resolver isso definitivamente.
— Quando me infiltrei na base dele em Vancouver, eu não o vi, mas descobri que ele tem um certo controle da família Moon. — respondeu Jun-ho com firmeza.
Kun franziu o cenho.
— Os Moon?
Antes que a conversa pudesse prosseguir, uma figura inesperada entrou no salão. Todos na sala pareciam se encolher um pouco ao vê-lo. Era Sang hoon, um poderoso empresário e antigo rival de Min Kun, além de um traidor do conselho, conhecido por sua postura arrogante e confrontos diretos no mundo dos negócios.
Sang-hoon caminhou até a mesa deles com um sorriso malicioso no rosto. Sua presença imediatamente mudou o clima, e Min Kun, embora aparentemente calmo, apertou levemente os punhos sobre a mesa, ciente do que estava por vir.
— Min Kun! — exclamou Sang, sua voz carregada de desdém disfarçado. — Quem diria que o grande patriarca Min estaria aqui... comemorando, não é?
Jun-ho endireitou-se na cadeira, o desconforto evidente. Ele era o chefe da família Moon, pai de Natali. Sua presença ali não era coincidência.
— Moon Sang-hoon — Min Kun respondeu, sem perder a compostura. — O que faz por aqui?
Sang-hoon olhou ao redor, examinando a mesa, seus olhos passaram de Kun para Jun-ho e depois para Salin, com uma curiosidade maliciosa. Ele riu baixo, antes de se voltar para Kun.
— Ouvi rumores interessantes... sobre o segundo casamento do herdeiro Min. — Ele disse, seu tom envenenado. — Ou devo dizer... Casamento de fachada?
Jun-ho apertou o punho de leve sob a mesa, tentando manter a compostura. Não precisava ver tantos rostos familiares em intervalos tão curtos de tempo. Os Moon são um problema.
Salin permaneceu em silêncio ao lado de Jun-ho, seus olhos transmitiam desconforto e irritação. Ele entendia que qualquer pessoa que falava de seu casamento falso era um inimigo.
— O noivado do meu filho não é da sua conta, Sang-hoon — Kun respondeu, sem perder a calma.
Sang-hoon soltou uma risada baixa, inclinando-se levemente sobre a mesa.
— Não é da minha conta? — Ele olhou diretamente para Salin. — Eu apenas acho curioso que o conselho tenha aceitado algo assim tão facilmente. Um noivado de fachada... Parece que o conselho está mais flexível do que eu pensava. Aceitando qualquer um na família agora, Min? Perdendo o controle, talvez?
Jun-ho não escondeu a irritação.
— Cuidado com as palavras, Sang-hoon — disse Jun-ho, em tom de ameaça. — Salin não é "qualquer um". E o conselho aprovou porque sabe que ele é digno. Assim como eu.
— Ah, eu sei, fiquei surpreso quanto ao que eu ouvi sobre Park Salin. Mas não consigo deixar de pensar que isso seja apenas para apagar o passado. Bom, toda a situação foi horrível, é melhor que seja apagado, em respeito a minha filha que foi arrastada para tudo isso.
Sang-hoon soltou uma risada cínica, e então se inclinou um pouco, como se compartilhasse um segredo.
— Mas, Min Kun, eu não esperava que você fosse permitir que seu filho seguisse um caminho... tão arriscado. Casar-se com alguém fora de nossas tradições... o conselho pode estar fingindo aceitar, mas todos sabemos que isso enfraquece a sua posição.
Kun olhou diretamente nos olhos de Sang-hoon.
— Eu sei o que é melhor para minha família e os meus homens aprovaram Salin porque ele é forte e leal. O que realmente enfraquece a nossa posição são aqueles que se apegam a velhas rixas e preconceitos. — Ele olhou diretamente para Sang-hoon, desafiando-o. — Quanto ao noivado, deixe que o tempo mostre o que é real e o que não é. Agora, se você tiver algo a mais a dizer, recomendo que o faça em outra ocasião. Estamos aqui para jantar em paz.
— Claro, claro. Não quero estragar a festa. Só espero que você saiba o que está fazendo, Min. Jun-ho ainda é frágil. Ele pode ser enganado novamente.
— Digo o mesmo, cuidado com as pessoas com as quais você se alia.
Sang-hoon não pode esconder seu espanto, não esperava essa declaração.
— Eu estarei observando de perto. Vamos ver quanto tempo essa "união" dura sob a pressão...
Com isso, Sang-hoon deu um último olhar a Salin, e com um sorriso sádico, virou-se e saiu do restaurante, deixando uma atmosfera pesada para trás.
— Quem era...? — Salin perguntou receoso, admitindo estar alheio a toda a situação.
— Moon Sang-hoon, é o pai da primeira esposa de Jun-ho. — Kun explicou rapidamente, ele sabia que Salin não tinha conhecimento de nada do ocorrido.
O garoto assentiu com a cabeça, a única coisa que ele sabia era que esse casamento não terminou bem.
Kun de repente passou a mão embaixo da mesa, na região onde Sang-hoon havia se debruçado. E então ele levantou a mão esmagando uma escuta. Tal ação surpreendeu Jimin. Esse era o nível?
— Não se deixem afetar, Sang-hoon pode dizer o que quiser, mas no fim, só vocês dois podem decidir o que será da relação de vocês. — disse Kun, olhando para o filho visivelmente irritado e depois para Salin. — Sang-hoon não tem ideia do que está acontecendo por isso ele veio aqui. Mas isso não importa e aliás, eu sinceramente acredito que vocês dois podem se tornar algo real. Confio em você, Jun-ho, e em suas decisões, que se provaram boas. Salin, você também deve escolher quando chegar o momento.
Salin estava extremamente confuso, mas sorriu levemente, sem saber exatamente como reagir ao que acabara de acontecer.
Ele encarou Jun-ho, que parecia menos irritado; ele segurou a mão de Salin por debaixo da mesa, e então ambos acharam um ponto de conforto.
Min Kun observava os olhares trocados entre os dois, não estavam sendo discretos.
O patriarca estava certo de que o envolvimento de ambos seria o melhor para Jun-ho e para Goden. Salin era como sua esposa em diversos aspectos.
— Filho, você ficará bem?
Enquanto Salin ia ao banheiro, Kun decidiu lhe perguntar.
— Mais ou menos.
— Quer ir para nossa casa? Posso dizer ao Salin que você tem trabalho. Aliás, quer a semana de folga?
— Não, está tudo bem, sinto que o pior já passou.
— Entendo, qualquer coisa, qualquer sintoma de crise, fale com sua mãe.
Estavam chegando os dias que lembravam a Jun-ho de seu cativeiro.