O som do aço ecoava no campo vazio. A cada golpe, Ryujin avançava como um vendaval, forçando meus braços, meus limites, minha respiração.
— Concentre-se! As katanas não são armas. São partes do seu corpo. Da sua alma! — ele gritou.
Saltei para trás, girando a lâmina prateada. A negra vibrou em meu punho, respondendo ao meu ódio, ao meu foco. Era como se algo dentro de mim gritasse para sair.
Velka observava de longe, atenta. O vento carregava poeira, e a tensão se tornava quase sólida.
Então, o mundo... estremeceu.
O chão rachou sob meus pés. O ar ficou denso, sufocante. Um zumbido insuportável encheu meus ouvidos. Ryujin tentou se mover — mas parou, como se o tempo o congelasse.
Velka gritou meu nome.
Mas eu já não estava ali.
Uma fenda se abriu no espaço, uma brecha negra e pulsante como uma ferida viva. Tentou me engolir.
E eu fui.
Caí.
Ou fui puxado.
O mundo ao meu redor distorceu-se — as cores, o som, o tempo. Tudo era dor. Tudo era distorção.
E então, silêncio.
Eu estava de pé em um campo sem chão. Céu e terra eram a mesma coisa. Edifícios flutuavam em ruínas ao redor. Correntes presas ao vazio dançavam como serpentes.
E à frente...
Ele.
Caos.
Vestia um manto feito de sombras que se moviam como fumaça viva. Seus olhos eram dois sóis mortos. Sorria como quem conhece o final de toda história.
— Finalmente, príncipe.
— O que você quer de mim?
— Nada... ainda. Só queria olhar nos olhos daquele que carrega o que era meu.
Ergui as espadas.
Ele riu.
— Vai me enfrentar aqui? Neste lugar onde sou rei, deus, tudo?
— Não. Vou te enfrentar onde você sangrar.
Corri.
Ele esperou.
Nossas lâminas se chocaram por um instante — e a realidade estalou. O impacto gerou ondas que destruíram o que havia ao redor. Senti a força dele me atravessar como uma lança invisível. Fui lançado contra uma parede de nada.
Tossei sangue.
Ele caminhou até mim, calmo.
— Você tem algo que não entendo — ele disse, tocando minha testa com um dedo gelado. — Resistência. Esperança. Amor.
Ele cuspiu a palavra como veneno.
— Tudo isso... eu destruí em mim. E destruirei em você.
A fenda se abriu novamente, atrás de mim.
— Volte. Por enquanto.
— Isso é um aviso?
— Não. É um presente.
Caí de novo.
Desta vez, de volta ao mundo real.
Ryujin me segurou antes que eu batesse no chão. Velka correu até mim.
— Akira! O que aconteceu? Você sumiu!
— Ele me chamou... Caos me puxou pra ele.
— Ele te feriu?
— Não como você pensa.
Olhei para minhas mãos. As katanas brilhavam com algo novo. Uma chama púrpura viva.
E dentro de mim... algo havia sido tocado. A besta. O rei adormecido.
Ele havia despertado.