Narrado por Akira Shinroz
— Fique atento — murmurou Ryujin. — Não abaixe a guarda, nem quando o silêncio parecer seguro.
Aquela frase soava como um ensinamento qualquer, mas... ele dizia isso com uma seriedade paternal. Aos poucos, eu percebia que havia algo naquele velho guerreiro que ia além de técnica. Ele me olhava como se visse um espelho quebrado, tentando colar os pedaços com as próprias mãos. E, de um jeito torto, eu começava a querer que ele conseguisse.
— Por que você me treina, Ryujin? — perguntei de repente. — Você poderia simplesmente me usar. Como todo mundo faz.
Ele parou. Virou-se devagar, com os olhos tão fundos quanto feridas antigas.
— Porque você me lembra meu filho. — A voz dele falhou. — E porque talvez... só talvez, você ainda tenha salvação.
As palavras dele me atravessaram como uma lâmina. Mas antes que eu pudesse responder, o chão tremeu levemente.
De dentro da floresta, surgiu uma figura cambaleante, ensanguentada, com uma mochila de couro nas costas e um grande machado nas mãos. Era um garoto — não mais velho que eu — com cabelos brancos e olhos azuis frios.
— Vocês são os caçadores da Seita? — perguntou ele, arfando. — Porque se forem, vão morrer agora mesmo.
Velka já tinha a lança empunhada. Ryujin ergueu a mão.
— Não. Ele está fugindo... não atacando.
O garoto desabou de joelhos. Velka correu até ele, apalpando seu pulso.
— Está vivo. Mas por pouco.
A noite ainda guardava mais surpresas. Quando o garoto acordasse, descobriríamos que se chamava Seth, um ex-membro desertor da Seita do Fim Branco, que se recusou a matar inocentes. A partir daquele momento, seríamos quatro.
Mas o destino nunca nos deixa respirar por muito tempo.
Na escuridão da floresta, uma nova presença surgia. Uma aura negra, sufocante, oposta à minha. Ela carregava uma espada curva e um sorriso cruel.
— Então... você é o escolhido de Caos? — disse ele. — Que decepção. Eu sou Noctis, o verdadeiro herdeiro da ruína. E vou provar que você é apenas uma sombra fraca do nosso mestre.
Meus olhos dourados se acenderam. As katanas às minhas costas vibraram.
— Tenta a sorte, bastardo.
Mas antes que a batalha começasse, Velka se colocou entre nós, encarando Noctis com um ódio silencioso.
— Você não vai tirar ele de mim.
Ela disse isso. Por mim. Pela primeira vez, sem esconder o que sentia.
Senti algo que nem mesmo minha raiva podia queimar: esperança.