Capítulo 26 – Lâminas que se Reconhecem

Narrado por Akira Shinroz

Seth acordou três dias depois, com uma cicatriz nova na bochecha e um sorriso debochado como se a morte não fosse grande coisa.

— Vocês me alimentaram? — ele perguntou, encarando a fogueira com os olhos semiabertos. — Porque, se sim, devo minha vida. E talvez uma cerveja.

— Só se você parar de desmaiar no meio da floresta — resmunguei, mas havia um riso contido na garganta.

Seth se sentou, estalando os ossos do pescoço. Era mais leve do que parecia. Mais esperto do que fingia. E, em pouco tempo, parecia que nos conhecíamos desde sempre.

— Aposto que você não sabe nem manusear essa katana direito — ele zombou.

— Aposto que seu machado não corta nem pão amanhecido.

— É, vamos dar certo — ele respondeu, sorrindo.

E assim, sem nem perceber, ganhei meu primeiro verdadeiro amigo. Alguém que não me via como monstro, como herdeiro de Caos, como ameaça. Apenas... como Akira.

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Nessa noite, eu estava longe da fogueira, encostado numa árvore, olhando o céu que parecia oco. Velka se aproximou em silêncio, e se sentou ao meu lado. Trazia duas maçãs nas mãos — uma delas me jogou, sem aviso.

— Ainda pensa nele? — ela perguntou. — Caos.

— O tempo todo.

Ela ficou em silêncio por um momento, e então disse algo que prendeu meu coração de surpresa.

— Eu também penso em você o tempo todo.

Virei o rosto, rápido demais, como se não estivesse preparado pra ouvir aquilo.

— Por que? — perguntei. — Você sabe quem eu sou. O que eu carrego dentro de mim...

— Justamente por isso. Porque você luta contra isso todos os dias. Porque, mesmo com olhos de deus, você ainda tem um coração que hesita.

Me aproximei. Não sabia o que estava fazendo. Minhas mãos estavam suando, minha respiração era irregular. Velka estava ali, tão perto... e por um instante, nossos olhos dourados e prateados se encararam como se o mundo inteiro tivesse parado.

— Eu não sou um herói, Velka.

— Eu nunca quis um herói. — Ela sussurrou. — Só queria você.

E então... nos beijamos. Lento. Real. Como se o caos não estivesse lá fora esperando para nos devorar.