Capítulo 26 (parte 2) – Lâminas que se Reconhecem

Narrado por Akira Shinroz

O dia seguinte amanheceu coberto por névoa. O tipo de névoa que não era natural. Fria demais. Silenciosa demais. Ryujin me chamou para treinar longe dos outros, numa clareira cercada por rochas partidas.

Ele ficou em silêncio por um tempo, observando minha postura com as espadas. Até que finalmente falou:

— O beijo foi bom?

Engasguei no ar.

— O quê?!

Ele riu de leve, pela primeira vez em muito tempo.

— Você está crescendo, Akira. Não só em força... mas como pessoa. E eu precisava saber se seu coração ainda batia.

— Ele bate... mas não sei se vai continuar por muito tempo. — Olhei para as espadas em minhas mãos. — Não sei se estou pronto para o que vem aí.

Ryujin se aproximou e colocou a mão sobre meu ombro.

— Você tem o sangue de Caos. Mas não é ele. Ainda há algo diferente em você. Uma escolha. Uma chance.

— E se eu errar?

— Então erramos juntos.

Antes que eu pudesse responder, um grito cortou o ar. Seth.

Corremos de volta para o acampamento. Mas era tarde demais.

A névoa se adensava ao redor de nós, viva como um predador. Do meio dela, Noctis surgiu — olhos vermelhos como sangue coagulado, e um sorriso que escorria maldade.

— Que tocante... o pequeno herdeiro de Caos está se apegando às pessoas. Isso só vai torná-lo mais fácil de destruir.

— Você não vai encostar neles — rosnei, avançando com as duas katanas em punho.

— Veremos.

A luta começou. Noctis era rápido. Tão rápido que por um momento, achei que estivesse enfrentando a própria morte.

Mas algo queimava dentro de mim. Algo além do ódio. O beijo da noite anterior, as palavras de Ryujin, a amizade de Seth. Tudo isso ardia como chama branca em minha alma.

Meus olhos brilharam dourados. A aura branca me envolveu como um escudo sagrado.

— Então é isso... — murmurou Noctis, recuando. — O príncipe... está mesmo acordando.

Ele desapareceu na névoa, deixando apenas a promessa:

— Da próxima vez, vou arrancar tudo que você ama.

Eu tremia. Não de medo. Mas de certeza.

Eu não podia mais fugir de quem eu era.

E dessa vez... eu não estava mais sozinho.