Narrado por Akira
Um ano.
Um ano desde que enterrei o último fragmento da minha infância com a lâmina banhada em vingança.
Um ano desde que me tornei aquilo que jurei odiar.
E agora... eles estão diante de mim.
— Akira... — disse Seth, dando um passo à frente, hesitante.
Seu olhar ainda era o mesmo: sincero, esperançoso, idiota. Velka estava logo atrás, mais contida. Os olhos dela... por um momento hesitaram. Mas ainda carregavam um calor que eu não merecia.
— Vocês não deviam ter vindo — falei, frio como gelo. — Esse caminho não é mais o de vocês.
— Você está vivo. É isso que importa — disse Seth, sorrindo como se tudo pudesse voltar a ser como antes.
— Akira... — Velka tentou se aproximar, a voz trêmula. — Você não precisa carregar tudo sozinho.
— Eu não carrego sozinho — respondi, virando as costas. — Eu me tornei o que precisava ser.
Minha aura explodiu num instante.
A branca, familiar, agora tingida com tons dourados que pulsavam como trovões engaiolados.
Meus olhos brilharam, não mais como o sol... mas como um eclipse prestes a consumir o mundo.
Velka recuou. Seth arregalou os olhos. Até Ryujin, escondido entre as árvores, pareceu prender o fôlego.
— Essa... essa aura... — murmurou Velka. — Isso não é só o poder herdado de Caos...
— É a minha versão — eu disse. — A segunda etapa. A minha vontade sobre a maldição que me deram.
Minhas costas arderam. Linhas douradas surgiram em minha pele, como runas vivas. Um manto espectral se ergueu de minha sombra, com o rosto distorcido de Caos piscando por um instante — antes de se dissipar.
— Eu sou o príncipe que virou rei. E agora... vocês não fazem mais parte do meu reino.
Sem mais palavras, desapareci na névoa branca que minha própria aura gerou.
Deixei para trás apenas o silêncio... e os corações partidos de quem ainda acreditava em mim.