Capítulo 10 – O Eco da Vitória
Gabriel caminhava para fora da caverna, o peso da missão cumprida ainda presente em seus ombros. A luta contra os goblins havia sido fácil, rápida e sem grandes dificuldades. Não houve esforço físico ou mental, apenas uma simples execução do que já era esperado. No entanto, ele não sentia a satisfação que imaginava que viria com a vitória. Algo estava faltando.
O ar da floresta ao redor da caverna parecia mais fresco enquanto ele se afastava do local da batalha. A tranquilidade que envolvia a área contrastava com a intensidade da luta, mas também trazia a paz necessária para ele refletir. Gabriel respirou fundo, sentindo o frescor do ambiente ao seu redor, mas sua mente ainda estava inquieta. A vitória não havia sido gratificante. Ele não se sentia mais forte por isso. E, no fim das contas, isso o deixava desconfortável.
A caminhada até a cidade foi tranquila, mas seus pensamentos estavam distantes. A experiência passiva que ele ganhava sem fazer nada o deixava ainda mais desconectado de si mesmo. Ele não precisava lutar ou se arriscar para crescer, e isso o fazia questionar o verdadeiro significado de seus objetivos. Será que ele realmente queria isso? O que ele estava buscando, se nem mesmo suas vitórias lhe traziam alegria?
Chegando à cidade, ele se dirigiu até a associação para entregar os itens que coletara. O atendente, sempre atencioso, avaliou rapidamente os itens recolhidos e fez as anotações necessárias.
— "Boa missão, Gabriel. Aqui está a recompensa."
Gabriel aceitou as moedas de prata e cobre com um aceno de cabeça, agradecendo, mas sua mente estava em outro lugar. Mais uma missão concluída, mais uma etapa, mas nada parecia mudar internamente. Ele não estava se sentindo realizado.
Com a recompensa em mãos, ele saiu da associação e se dirigiu de volta para sua casa. O silêncio da noite envolvia a cidade enquanto ele caminhava pelas ruas vazias. Ao chegar em sua casa, ele se sentou na cama e olhou para a janela de status, como fazia todos os dias.
[Progresso: 47%]
Gabriel passou os dias seguintes em sua casa, decidido a fazer uma pausa. Não havia mais missões urgentes nem monstros para caçar. Ele estava cansado de seguir a rotina de sempre: caçar lobos, coletar ervas e entregar tudo à associação. A sensação de estar sempre fazendo a mesma coisa, sem nenhum desafio real, começou a incomodá-lo.
Sem querer, ele começou a refletir sobre o motivo de continuar nessa jornada. O que ele realmente queria? Ele sabia que estava ganhando experiência sem fazer nada, mas isso ainda não lhe trazia satisfação. Era como se seu crescimento fosse vazio, uma linha de progresso que subia sem nenhum esforço físico, sem a emoção de superar algo difícil.
Decidido a não se apressar, Gabriel passou os dias descansando e pensando. Ele se permitiu ficar em casa, sem se preocupar com missões ou com o que as outras pessoas pensariam. A experiência continuava sendo adquirida, mas ele não sentia nenhum progresso verdadeiro. Sua mente estava mais focada em questionar suas próprias escolhas do que em coletar mais recompensas.
Durante esses dias de pausa, ele começou a observar mais o mundo ao seu redor. Ele ficava no silêncio de sua casa, sentindo que algo estava faltando, como se o sistema de experiência passiva não fosse suficiente para preencher o vazio que ele sentia. A sensação de ser constantemente puxado para o próximo nível sem que ele tivesse de fazer qualquer esforço só aumentava a desconexão que ele sentia com seu próprio crescimento.
A janela de status ainda mostrava seu progresso em direção ao próximo nível, mas isso não o empolgava mais. Ele sabia que, ao acordar, estaria um pouco mais forte, mas o que realmente importava para ele? Ele queria mais do que isso, mais do que números.
[Progresso: 53%]
Ele observava a porcentagem de progresso e pensava: “Será que isso é tudo o que há?” O que ele estava buscando, se até o momento ele não sentia nenhuma conquista verdadeira? Talvez fosse hora de começar a procurar algo mais, algo que realmente o desafiasse.
Por enquanto, Gabriel permaneceu em silêncio. A experiência continuava a subir, mas ele precisava de algo mais do que apenas isso. E talvez fosse essa busca que o motivasse, mais do que qualquer número ou recompensa.
O que o futuro reservava, ele ainda não sabia.
Mais alguns dias se passaram. Gabriel ainda mantinha sua rotina de descanso, longe das missões e longe da agitação da associação. Sem espadas empunhadas, sem magias lançadas, e ainda assim — ele estava ficando mais forte.
[Progresso: 70%]
O número na tela crescia lentamente, refletindo o avanço passivo proporcionado pelo sistema.
Com um leve suspiro, Gabriel se levantou da cama. Já fazia tempo que não saía de casa. O ar parado, o silêncio constante — tudo começava a incomodá-lo. Não era exatamente tédio, mas uma necessidade de se movimentar. Não para lutar, nem para caçar, mas apenas... sair.
Vestiu suas roupas, prendeu a capa e ajeitou o cinto de utilidades. Não tinha destino certo. Só queria caminhar um pouco, respirar outro ar, ver a cidade viva ao seu redor.
Ao cruzar a porta de casa, sentiu a brisa suave no rosto. Era uma sensação simples, mas que há dias ele não experimentava. Talvez sair um pouco fosse o que ele realmente precisava.
Ao andar pela cidade, Gabriel deixou que seus passos o levassem sem rumo certo, apenas observando o movimento ao seu redor. Foi então que seus olhos se fixaram em alguém que se destacava na multidão.
Uma jovem caminhava pela calçada oposta, com um ar sereno e confiante. Seus cabelos loiros brilhavam sob a luz do sol, caindo em ondas suaves até a cintura. Os olhos verdes, intensos e vívidos, pareciam capturar tudo ao redor com atenção. Ela tinha um porte elegante, e seu corpo delineado chamava a atenção com naturalidade, sem esforço ou exagero.
Gabriel continuou andando pela cidade, ainda com o pensamento meio distante. Enquanto desviava das pessoas nas ruas movimentadas, acabou se virando para olhar uma vitrine — e nesse momento, esbarrou em alguém.
O impacto não foi forte, mas o suficiente para desequilibrar levemente ambos.
— Ei! — a voz do homem soou áspera.
Gabriel virou-se imediatamente. À sua frente estava um caçador, identificável pela armadura leve e o emblema da associação preso ao peito. Seus olhos eram duros e seu semblante irritado.
— Não sabe olhar por onde anda? — o homem resmungou, cruzando os braços. Ele era um pouco mais velho que Gabriel, com expressão de superioridade estampada no rosto.
Na janela de status que se abriu por reflexo, Gabriel notou: Nível 3.
Ele permaneceu calmo, como sempre. Não era do tipo que gostava de confusão, muito menos por algo tão trivial.
— Foi mal. Não vi você ali — disse Gabriel, com sinceridade.
O caçador olhou para ele de cima a baixo, talvez tentando medir se valia a pena criar encrenca. Depois de alguns segundos de silêncio, bufou e deu um passo para o lado.
— Fica esperto da próxima vez.
Gabriel apenas assentiu, continuando seu caminho sem olhar para trás. A cidade estava cheia de gente assim — pronta para explodir a qualquer empurrão.