Capítulo 9 – O Ritmo do Tempo
Alguns dias se passaram desde que Gabriel voltou à rotina de missões simples. O progresso continuava, ainda que devagar, e o tempo parecia se esticar em uma sequência interminável de tarefas cotidianas. A cidade ao redor de Gabriel seguia sua vida apressada, mas ele, isolado em sua rotina, sentia como se o mundo girasse mais devagar ao seu redor.
As missões de coleta, que antes pareciam uma escolha prudente, agora começavam a parecer mais um fardo. As ervas, as peles, as garras — tudo se tornava uma repetição cansativa. Seu corpo não sentia o peso, mas sua mente já começava a desejar algo mais. Algo que não fosse apenas o acúmulo de itens e recompensas modestas.
O progresso estava lá, mas o desejo de mais — mais desafios, mais ação, mais do que aquilo — crescia com cada dia que passava.
[Progresso: 46%]
Gabriel sabia que, em algum lugar, em algum momento, ele precisaria buscar algo maior. Algo que tirasse a monotonia de sua vida, algo que realmente o desafiasse. O sistema ainda lhe dava tudo o que ele precisava, mas ele já não se sentia tão motivado com as pequenas vitórias. Subir de nível estava ficando previsível, sem graça.
Na manhã seguinte, após mais uma missão de coleta, Gabriel decidiu dar uma pausa. Ele sabia que precisava de algo novo para manter sua mente focada.
E então, enquanto caminhava pela cidade, ele se deparou com um cartaz pendurado na parede de uma taverna próxima.
"Caçadores Procurados - Missões de Nível 3 Disponíveis"
Era o que ele precisava. Algo que fizesse sua jornada mais interessante, que o tirasse da mesmice. Um desafio. E o nível 3, embora ainda arriscado, era o próximo passo. Além disso, ele já estava no limite da paciência com as missões simples. Não queria mais se esconder nas sombras da cidade. Queria fazer mais.
— “Talvez seja a hora de seguir em frente.” — pensou, seus olhos fixos no cartaz.
Gabriel olhou para o cartaz com um novo brilho nos olhos. O desafio estava ali, bem na sua frente. Ele sabia que aceitar aquela missão de nível 3 poderia ser um risco — e, ao mesmo tempo, uma oportunidade de sair da monotonia e, quem sabe, acelerar seu progresso.
Respirou fundo e entrou na taverna. O ambiente estava tranquilo, com caçadores e aventureiros conversando em grupos, alguns planificando suas próximas missões. O cheiro de carne assada e cerveja misturava-se no ar, mas Gabriel não estava ali para socializar. Ele se aproximou do balcão, onde o taverneiro, um homem robusto e de olhar atento, o observou enquanto ele se aproximava.
— "Procurando uma missão?" — perguntou o taverneiro, com um sorriso simpático.
Gabriel acenou com a cabeça, sentindo a expectativa crescer dentro de si.
— "Vi o cartaz na entrada. Estou interessado nas missões de nível 3."
O taverneiro franziu a testa, avaliando-o por um momento. Ele estava acostumado a ver novatos buscando aventuras, mas esse parecia diferente, talvez por sua postura tranquila e determinada. Por fim, o homem assentiu.
— "Você tem certeza disso? Não é uma missão leve. Pode ser perigoso para quem não está preparado."
Gabriel não hesitou. Ele já estava ciente dos riscos, mas sua vontade de evoluir, de superar os limites que ele mesmo impunha, era maior.
— "Tenho certeza. Quero essa missão."
O taverneiro não disse mais nada. Apenas entregou-lhe um mapa e indicou o local exato onde ele deveria ir: uma caverna no extremo norte da cidade, onde os monstros de nível 3 estavam localizados. Ele também mencionou um detalhe importante — a missão envolvia eliminar um grupo de goblins que estavam saqueando as vilas ao redor da floresta. Não era uma tarefa simples, mas Gabriel já estava determinado.
Sem perder tempo, ele pegou o mapa, agradeceu ao taverneiro e saiu da taverna, sentindo a adrenalina começar a subir. A missão estava definida, e agora o que restava era seguir em frente.
Gabriel partiu para o norte, sentindo-se mais animado do que nos últimos dias. A monotonia havia sido quebrada, e uma nova fase da sua jornada estava prestes a começar. Ele não sabia exatamente o que o esperava, mas uma coisa era certa: ele estava pronto para esse novo desafio.
Com um passo firme, ele seguiu pelo caminho que o levaria até a caverna e para o desconhecido que o aguardava.
Gabriel chegou à entrada da caverna, o local onde sua missão o aguardava. O ar estava mais frio ali, e a vegetação ao redor parecia mais densa, com árvores retorcidas e musgo cobrindo rochas antigas. A caverna em si era uma enorme fenda na terra, uma abertura escura que parecia engolir a luz do dia. Um som de água pingando ecoava de dentro, misturado ao som distante de grunhidos e vozes abafadas.
Ele parou por um momento na entrada, observando o ambiente. O mapa que o taverneiro lhe dera mostrava claramente o caminho até o coração da caverna, onde o grupo de goblins deveria estar se escondendo. Mas havia algo mais no ar, algo que ele não podia identificar. Talvez fosse o silêncio tenso, ou a sensação de que havia algo esperando ali dentro, pronto para atacar.
Gabriel ajustou sua espada na cintura, a lâmina agora mais familiar em sua mão. A capa de couro reforçada lhe dava uma sensação de segurança adicional. Seu nível 3 já trazia algumas vantagens, e ele sabia que sua experiência passiva ajudava a manter sua calma, mesmo diante do desconhecido. Ele respirou fundo, absorvendo o ar fresco antes de se decidir.
— "Aqui vou eu." — murmurou, entrando na caverna com passos cautelosos.
As paredes da caverna eram escorregadias, e o piso irregular dificultava os passos, mas ele seguia em frente com precisão, ouvindo atentamente qualquer som que pudesse alertá-lo sobre o que estava por vir. À medida que avançava, o som de grunhidos ficava mais forte, e os ecos dentro da caverna tornavam a tarefa de se orientar um pouco mais difícil. Mas sua intuição o guiava.
Alguns metros adiante, ele viu uma curva no túnel, e ao virar, se deparou com o que parecia ser o acampamento dos goblins. O grupo estava em uma pequena clareira dentro da caverna, aquecendo uma fogueira improvisada e preparando suas armas. Eles não perceberam sua presença ainda, o que dava a Gabriel uma vantagem.
O grupo era composto por cinco goblins, cada um armado com clavas e facas rudimentares, suas peles esverdeadas refletindo a luz da fogueira. Eles pareciam distraídos, rindo e falando entre si, inconscientes do intruso que estava prestes a se aproximar.
Gabriel analisou a cena rapidamente. Ele poderia atacar de forma direta, mas sabia que se fizesse barulho ou se precipitasse, poderia chamar a atenção de mais goblins ou até de outras criaturas na caverna. Ele precisava ser preciso.
Com calma, ele ajustou a empunhadura da espada e começou a se mover para uma posição mais vantajosa, buscando uma maneira de atacar sem ser notado. O silêncio era seu aliado, e ele soubera usar isso a seu favor.
Agora, ele estava à beira do confronto.
Gabriel deu um passo silencioso, mantendo os sentidos aguçados enquanto avançava para a borda da clareira onde os goblins estavam reunidos. A tensão no ar era palpável, e ele sabia que não podia desperdiçar essa chance. Ele precisava ser rápido e preciso.
Com um movimento ágil, ele puxou a espada de ferro e a levantou, fazendo um único e rápido movimento de ataque. Seu alvo inicial foi o goblin mais próximo da fogueira, que estava distraído e rindo com os outros. Gabriel não hesitou. Com um golpe rápido, ele cortou a garganta do goblin, e o monstro caiu silenciosamente no chão, sem tempo de sequer gritar.
O restante dos goblins se virou ao ouvir o som do corpo caindo, mas já era tarde. Gabriel estava em movimento, indo direto para o próximo inimigo. O segundo goblin tentou levantar a clava para reagir, mas Gabriel foi mais rápido. Com um movimento preciso, ele fez um corte na lateral do goblin, o ferindo gravemente. O monstro tentou gritar, mas a dor foi tão intensa que ele mal conseguiu emitir um som antes de cair de joelhos.
Agora, os outros três goblins estavam em alerta máximo. Eles começaram a gritar e a brandir suas armas, tentando cercar Gabriel. Mas o jovem caçador já estava preparado. Ele fez um movimento de esquiva para o lado, evitando a clava de um dos goblins que desceu com força em direção a ele. Com o golpe desviado, ele contra-atacou, cortando a perna do goblin e fazendo-o cair no chão com um grito.
Os dois últimos goblins avançaram simultaneamente, mas Gabriel estava em um estado de foco total. Ele se esquivou de um golpe, dando uma pirueta rápida para trás, e com um único movimento de sua espada, cortou a mão do goblin que estava tentando atingi-lo. O monstro soltou um grito de dor e recuou, enquanto Gabriel aproveitou a oportunidade para finalizar o ataque. Ele cortou a cabeça do goblin com um movimento fluido e eficiente, sem deixar espaço para reação.
O último goblin, agora completamente amedrontado, tentou fugir, mas estava em pânico. Gabriel não deu chance. Com um salto rápido, ele o alcançou, cortando seu caminho e golpeando o goblin com precisão fatal. O monstro caiu sem vida, deixando para trás apenas o eco de sua queda no chão rochoso.
Silêncio.
Gabriel ficou parado por alguns momentos, respirando fundo, avaliando a situação. Seus músculos estavam tensos, mas ele se sentia em controle. A batalha tinha sido rápida e eficiente, e ele não havia sofrido dano algum. Ele sabia que o sistema de experiência passiva não fazia a luta mais fácil, mas lhe dava um foco e uma clareza mental que poucos caçadores podiam manter.
Com a clareza do momento, ele olhou para os corpos dos goblins caídos, a missão estava cumprida. Eles eram apenas obstáculos para o que ele queria alcançar, mas ainda assim, ele não se sentia feliz ou satisfeito com a morte deles. Era o trabalho de um caçador, nada mais.
Agora, ele precisava recolher as recompensas da missão. Seguiu até os corpos, pegando as armas dos goblins e colocando tudo em sua bolsa. Além disso, pegou o que restava de útil: algumas gemas pequenas, moedas e um pedaço de pele que poderia ser vendido. A missão havia sido cumprida, mas ele sabia que ainda havia mais pela frente. Esse era apenas o começo.
Gabriel se virou e saiu da caverna, sua mente já voltando à tranquilidade, o progresso silencioso que ele havia conquistado. O que o aguardava fora dali? Ele não sabia, mas estava pronto para enfrentar o que viesse.