Capítulo 32: A Máquina Selvagem

Capítulo 32: A Máquina Selvagem

Algum tempo se passou desde a última caçada mais intensa de Gabriel. Sua rotina estava mais espaçada, mas ele ainda não havia perdido o costume de vagar pelas regiões mais perigosas nos arredores de Nova City. Naquela manhã, sentia-se inquieto, como se algo diferente estivesse à sua espera.

Vestiu sua capa reforçada, ajustou o cinto de utilidades e partiu com passos firmes em direção ao leste, atravessando uma planície parcialmente coberta por névoa matinal. Não demorou para chegar a uma antiga instalação abandonada, algo que lembrava uma base tecnológica em ruínas. Um lugar incomum para encontrar monstros... mas ali, algo estava se movendo.

Foi quando ouviu o zumbido.

Não era o som de asas, nem o rugido de criaturas, mas um ruído mecânico — grave e ritmado. De uma sombra metálica surgindo entre os escombros, emergiu o que parecia ser uma máquina viva.

Drone Caçador — Nível 7.

Era um monstro completamente diferente dos habituais. Seu corpo era uma mistura de ligas metálicas negras, com lâminas retráteis nas laterais e propulsores pequenos que o mantinham flutuando a pouco mais de um metro do chão. Seu "rosto" era uma placa oval escura, com uma única lente vermelha brilhante no centro, que piscava com uma luz sinistra. Em seus flancos, canhões compactos surgiam e desapareciam como braços ocultos.

Gabriel estreitou os olhos.

— Um monstro tecnológico?

O drone emitiu um chiado estridente, como se analisasse o alvo. Em seguida, disparou. Um projétil de energia cruzou o espaço entre eles, rápido o suficiente para deixar um rastro luminoso no ar.

Gabriel ergueu uma barreira de gelo a tempo. A explosão contra o gelo rachou o chão abaixo. Ele respondeu com uma rajada de raio, que ricocheteou contra a armadura do drone. O impacto gerou faíscas, mas não causou danos reais.

— Casca dura… — murmurou.

O drone avançou. Girava no ar com velocidade surpreendente e disparava pequenos mísseis que explodiam em chamas ao redor de Gabriel. Ele ativou sua psicocinese, desviando um dos mísseis com um gesto da mão, e revidou com lâminas de vento cortante. Dessa vez, um dos propulsores do drone falhou por um momento, fazendo a máquina oscilar no ar.

Aproveitando a brecha, Gabriel concentrou energia mágica nas palmas.

— Corrente Gélida.

Uma sequência de lanças de gelo foram disparadas como uma tempestade perfurante. Três delas se cravaram no ponto onde o propulsor havia falhado, causando uma explosão interna. O drone caiu no chão com um baque metálico, tremendo levemente.

Mas não parou.

Da estrutura danificada, estendeu uma última lâmina. Gabriel agiu rapidamente: sua mão brilhou com energia elétrica condensada e ele lançou um raio direto no núcleo do monstro.

O golpe atravessou a armadura quebrada e atingiu o centro do drone. A lente vermelha piscou uma última vez… e apagou.

O silêncio retornou.

Gabriel se aproximou e observou os restos do monstro. Nunca havia enfrentado algo assim. Não era apenas uma criatura com aparência metálica — aquilo era tecnologia viva, controlada por algum tipo de código mágico e inteligência artificial primitiva.

— Que tipo de lugar é esse? — murmurou, olhando para os arredores da base destruída.

Com calma, recolheu os restos do drone. Algumas partes poderiam ter alto valor na associação, talvez até algum material raro.

No caminho de volta, Gabriel permanecia pensativo. Algo naquele monstro parecia… fora de lugar. Como se tivesse sido criado, e não nascido.

Ele guardaria essas perguntas para outro dia. Por enquanto, era mais uma vitória para adicionar ao seu nome — um nome que, dia após dia, subia no ranking da cidade.

No dia seguinte, o céu estava nublado. Uma névoa fina cobria os arredores da antiga instalação tecnológica onde Gabriel havia enfrentado o drone caçador no dia anterior. Intrigado com o surgimento daquele tipo de monstro, ele decidiu voltar ao local para investigar mais — e, claro, caçar.

Gabriel não era do tipo que deixava perguntas sem resposta. Além disso, os restos do drone que ele havia vendido na associação renderam bons lucros. Se mais daquelas criaturas estivessem por ali, seria uma boa chance de enriquecer mais um pouco e avançar sua experiência.

Equipado com sua armadura leve, um manto resistente a explosões e seus feitiços prontos na mente, ele adentrou a instalação novamente. As paredes de concreto rachado estavam cobertas de musgo, fios elétricos pendiam como raízes negras e o ar tinha um cheiro metálico.

Desta vez, três drones surgiram quase ao mesmo tempo.

Eles vieram zumbindo pelas laterais, voando em círculos ao redor de Gabriel. Dois deles pareciam mais reforçados, com blindagem extra e lâminas maiores nas laterais. Ele percebeu rapidamente que seriam mais resistentes que o anterior.

— Já vêm em grupo agora? Interessante.

O combate começou. Gabriel saltou para trás desviando de um disparo concentrado de energia, e contra-atacou com psicocinese, agarrando pedaços de metal e lançando-os com força telecinética contra um dos drones. Em seguida, conjurou raios gêmeos, que atingiram os dois alvos da esquerda, causando curto-circuitos visíveis nas estruturas metálicas.

Um dos drones mergulhou em sua direção como uma flecha de aço. Gabriel saltou e girou no ar, criando uma lâmina de gelo giratória, que acertou o centro do drone em cheio, partindo-o em dois.

Antes que pudesse continuar, um som humano cortou o zumbido das máquinas: um grito.

— Aaaah! Alguém! Me ajuda!

Gabriel virou-se rapidamente. Em uma passarela estreita, na parte mais alta da estrutura, uma garota corria, tentando escapar de dois drones caçadores que a perseguiam com lasers piscando nas laterais.

Ela parecia jovem, talvez 16 ou 17 anos, de cabelos ruivos ondulados que voavam enquanto ela corria desesperadamente. Usava um uniforme civil simples, e em sua cintura havia uma pequena bolsa — parecia ser uma pesquisadora, ou alguém que entrou onde não devia.

— Merda — murmurou Gabriel.

Sem hesitar, correu em sua direção, desviando de mais um drone que tentou interceptá-lo no caminho. Ele subiu rapidamente por um lance de escadas corroídas, alcançando a plataforma onde a garota se equilibrava.

Um dos drones já se preparava para disparar contra ela.

— Magia de Gelo: Lança Congelante!

Gabriel apontou o braço e lançou uma lança de gelo que atravessou o drone segundos antes do disparo. A explosão lançou faíscas para todos os lados. O segundo drone virou-se para ele, mas antes que pudesse atirar, foi atingido por uma onda de psicocinese que o esmagou contra a parede com força brutal.

Silêncio.

A garota caiu de joelhos, ofegante, tremendo. Gabriel se aproximou, mantendo os olhos atentos ao redor.

— Você tá bem?

— E-eu... acho que sim. M-muito obrigada!

— O que está fazendo aqui? Essa área é considerada zona de risco.

Ela respirou fundo.

— Sou aprendiz de uma engenheira. Vim recuperar dados de um servidor antigo. Mas eu... não sabia que essas máquinas estavam vivas! Achei que fossem sucata!

Gabriel estreitou os olhos.

— Então alguém está tentando acessar os sistemas antigos dessa base? Isso é mais sério do que parece.

A garota assentiu com a cabeça, ainda assustada.

— Me chamo Lara...

— Gabriel.

Ele olhou ao redor. Nenhum outro drone parecia ativo.

— Vamos sair daqui. É melhor conversar longe dessas paredes.

Ajudando-a a se levantar, ele a guiou para fora da estrutura. No caminho, Gabriel não parava de pensar: monstros tecnológicos, drones autônomos, dados antigos… tudo aquilo indicava que o mundo estava mudando — ou que coisas enterradas no passado estavam finalmente acordando.

E ele estaria lá para enfrentar o que quer que viesse.