Capítulo 31: Pedra, Sangue e Sombra

Capítulo 31: Pedra, Sangue e Sombra

A manhã estava nublada quando Gabriel alcançou a região montanhosa ao nordeste da cidade. O chão era irregular, repleto de rochas soltas e pequenos desfiladeiros. O silêncio era denso, quebrado apenas pelo som do vento cortando entre as pedras. Era o lugar perfeito para uma emboscada… ou para alguém se esconder por dias.

Gabriel havia passado parte da noite estudando o perfil de Darion Krav. O bandido não era apenas um criminoso comum — era experiente, astuto, e já havia escapado de três caçadores. O tipo de homem que se escondia para matar, e não para fugir.

Com passos controlados, Gabriel subia uma encosta quando notou pegadas recentes no solo. Diferentes das marcas comuns de caçadores: botas pesadas, com sulcos fundos e espaçados. Alguém estava ali. Talvez observando-o.

— Já esperava que viesse até aqui — disse uma voz grave, surgindo do alto de uma pedra.

Gabriel ergueu os olhos. Darion Krav estava parado sobre um rochedo, com uma lança de duas pontas nas mãos. Sua armadura de couro escuro parecia feita para não produzir som algum. Um lenço vermelho envolvia seu pescoço, escondendo parcialmente a cicatriz. Seus olhos estavam fixos em Gabriel, como os de uma fera analisando a presa.

— Achei que mandariam um grupo. Mas mandaram só você?

— Achei que você fosse mais esperto do que isso — respondeu Gabriel, friamente.

Darion saltou da rocha e pousou com agilidade. Assim que seus pés tocaram o chão, ele ergueu uma muralha de pedra à sua frente, tentando bloquear Gabriel. Mas o jovem já havia estendido a mão.

— Psicocinese.

As rochas se despedaçaram no ar, lançadas para os lados como folhas ao vento. Gabriel avançou, concentrado. Darion tentou uma estocada com a lança, mas Gabriel desviou por pouco e contra-atacou com um raio de eletricidade que percorreu o cabo da arma. O bandido gritou e recuou, largando a lança no processo.

Mas ele não desistiu. Puxou uma adaga presa à cintura e invocou estacas de pedra do chão, tentando empalar Gabriel. O terreno virou uma armadilha viva, mas Gabriel apenas ergueu a mão novamente.

— Magia de Gelo, Nível 7.

Uma onda de frio se espalhou rapidamente, congelando o chão e quebrando as estacas. Darion escorregou, cambaleando. Era a brecha que Gabriel esperava. Com um gesto rápido, invocou sua magia de veneno. Uma névoa esverdeada começou a circular pelo campo.

Darion tossiu, caiu de joelhos e tentou se levantar — mas seus movimentos estavam ficando mais lentos. A névoa paralisava os músculos, entorpecia os sentidos.

— Você... não é normal — disse ele, antes de desmaiar no chão.

Gabriel se aproximou, respirando com calma. Usou cordas mágicas para amarrar o bandido e começou a arrastá-lo de volta à cidade.

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Ao chegar na associação horas depois, Maria arregalou os olhos ao ver o corpo desacordado de Darion jogado no chão.

— Você… conseguiu?

— Está vivo. Pode registrar a captura.

Ela olhou para Gabriel com um misto de surpresa e respeito. Nem parecia real — em dois anos, Gabriel havia feito o que muitos demorariam décadas para tentar. E tudo isso… com aquela calma constante.

Ela apenas assentiu e começou a preencher os papéis. Gabriel não disse mais nada. Após tudo, só queria uma boa refeição… e talvez, uma noite de descanso.

De volta à sua casa, o silêncio reinava. Gabriel empurrou a porta, largando a capa reforçada no suporte logo na entrada. Estava coberta de poeira, lascas de gelo seco e um leve cheiro de veneno que ainda pairava no tecido.

Andou até o banheiro, seus passos ecoando no chão de madeira polida. Ele girou o registro e deixou a água quente correr. O vapor começou a preencher o espaço, turvando o espelho diante dele. Quando retirou a camisa e viu o reflexo, observou as marcas da batalha: arranhões leves, manchas de fuligem e um pouco de sangue seco no braço esquerdo — nada grave, mas sinais de uma rotina que poucos sobreviviam por muito tempo.

Entrou no chuveiro. A água quente bateu sobre sua pele como um lenitivo. Sentia os músculos relaxarem, a tensão escoando pelos ralos junto com a sujeira do dia. Seus pensamentos vagavam. Lembrava-se do olhar de Darion Krav antes de desmaiar, e também do olhar de Maria quando ele retornou com o bandido amarrado. Era um misto de surpresa e… admiração?

Gabriel não buscava reconhecimento, mas não podia ignorar o fato de que, pouco a pouco, estava se tornando alguém notado.

A água cessou. Ele se enxugou, vestiu uma calça leve de tecido escuro e uma camisa simples. Caminhou pela casa silenciosa e foi até a varanda. A noite estava estrelada, e a brisa era fresca. Gabriel encostou-se à madeira da grade e ficou observando o céu por alguns minutos.

Ele sabia que em breve, caçadores mais fortes ou mesmo organizações maiores começariam a prestar atenção em seu nome. Mas não se importava. Ele apenas faria o que sempre fez: seguir em frente.

Suspirou, voltou para o quarto e se deitou. O cansaço, acumulado após a longa caçada, finalmente o alcançou.

Pouco depois, adormeceu em silêncio, enquanto a lua cheia brilhava sobre Nova City.