Capítulo 30: O Uivo da Mente
Algum tempo havia se passado desde sua última grande caçada. Gabriel estava diferente. Não só mais forte — agora no nível 7 — mas também mais curioso sobre as próprias habilidades. Sua aura estava mais intensa, e a cada dia, o tempo parecia ter menos impacto sobre seu corpo. Era como se sua própria presença impusesse respeito onde quer que fosse.
Naquele dia, ele decidiu que era hora de um novo desafio. Queria testar uma combinação diferente de poderes. Magias mentais.
Psicocinese e Controle, ambas no nível 7.
A floresta ao norte da cidade era conhecida por abrigar criaturas mais ferozes, e entre elas estavam os Lobos de Nível 7, uma espécie que nem mesmo os caçadores mais experientes enfrentavam com frequência. Eram rápidos, inteligentes e caçavam em bandos organizados. Gabriel foi até lá sozinho.
Assim que chegou à região, o clima mudou. O ar estava mais denso, o som das folhas sendo esmagadas sob seus pés era abafado, e uma sensação incômoda de estar sendo observado tomou conta dele.
Então, ele os viu.
Lobos de Nível 7:
Possuíam cerca de dois metros de comprimento. Seus pelos eram cinza-escuros com manchas negras que pareciam fumaça viva se movendo sobre o corpo. Os olhos eram brancos como gelo, e de suas bocas escorriam filetes de saliva azulada — uma substância corrosiva. As patas eram largas, com garras que deixavam marcas profundas no chão. Além disso, tinham presas enormes e afiadas como adagas, e as costas eram adornadas por cristas ósseas que emitiam um brilho pulsante quando se preparavam para atacar.
Gabriel contou cinco deles, espalhados ao redor, em formação. Estavam se comunicando entre si por meio de uivos e gestos quase imperceptíveis. Era um bando treinado pela própria natureza.
Ele sorriu.
— Inteligentes... vai ser perfeito.
Fechou os olhos por um breve instante, e as energias mentais começaram a se concentrar.
Psicocinese Nível 7.
As pedras e galhos ao redor começaram a flutuar suavemente.
Controle Nível 7.
Sua mente estendeu-se como uma rede invisível, procurando fissuras na vontade das feras.
Os lobos avançaram ao mesmo tempo.
Gabriel ergueu as mãos, e várias pedras dispararam com força brutal contra os dois primeiros lobos, que foram lançados longe com o impacto. Um deles caiu com o crânio rachado. O outro, atordoado, tentou se levantar, mas Gabriel o imobilizou com sua mente e o lançou contra uma árvore.
Os outros três chegaram mais perto. Um saltou com a boca aberta, mirando o pescoço de Gabriel. Nesse instante, o jovem ativou a magia de Controle, mirando a mente do lobo em pleno voo. A criatura hesitou. Seus olhos piscaram. Sua trajetória vacilou por milésimos de segundo — o suficiente para Gabriel desviá-lo com um golpe de psicocinese, fazendo-o girar no ar e cair de costas com um baque seco.
Os dois últimos cercaram Gabriel, tentando confundi-lo. Mas ele já havia fixado sua vontade em um deles. Sua mente penetrou a barreira instintiva da criatura, forçando-a a parar, os olhos arregalados.
— Abaixe-se.
E o lobo obedecia. A fera controlada começou a atacar o companheiro ao lado, confuso e furioso. A batalha entre os dois foi breve: o lobo dominado mordeu o pescoço do outro, derrubando-o com um estalo horrível.
Gabriel soltou o controle mental e finalizou o último lobo com uma rocha afiada disparada com força telecinética.
O silêncio voltou. Gabriel olhou ao redor — cinco corpos estendidos, sangue azul-escuro tingindo a grama. Ele se aproximou, colheu os materiais mágicos dos lobos: peles resistentes, presas cristalizadas, e glândulas com o estranho fluido azul.
Tudo aquilo serviria para armas, poções ou armaduras raras.
Com tudo guardado no cinto de utilidades, ele começou a caminhar de volta pela floresta. Sentia-se cada vez mais no controle do mundo ao seu redor — e, principalmente, da própria mente.
Mesmo que ninguém o visse naquele momento, ele sabia: o verdadeiro poder não vinha da força bruta, mas do domínio absoluto sobre si mesmo e sobre os outros. E nisso, Gabriel estava se tornando mestre.
Após derrotar os lobos de nível 7, Gabriel voltou para a cidade, com os itens cuidadosamente guardados. O céu começava a escurecer quando ele chegou à associação. O local estava mais tranquilo do que o habitual. A maioria dos caçadores só retornava ao anoitecer, cansados, feridos ou de mãos vazias. Gabriel, por outro lado, entrava com passos calmos e confiança nos olhos.
Maria, a atendente, estava no balcão como sempre. Ao vê-lo, ergueu uma sobrancelha.
— De novo, Gabriel? Lobos de nível 7?
Ele apenas assentiu e começou a retirar os itens. Peles densas, presas afiadas e glândulas brilhantes foram colocadas sobre o balcão. Maria examinou os materiais com atenção e espanto contido.
— Impressionante. Esses materiais são muito valiosos. Você realmente enfrentou um bando sozinho?
Gabriel deu de ombros com um leve sorriso.
— Eles eram inteligentes, mas não o bastante.
Maria anotou os dados, carimbou os papéis e completou a venda. Gabriel recebeu o valor e agradeceu. Antes de sair, trocou um último olhar com Maria. Ela parecia estar começando a se acostumar com a presença dele… e com o fato de que a cada semana ele se tornava mais forte.
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Já em casa, Gabriel relaxou por algumas horas, deitado no sofá, olhando para o teto. Sua mente, porém, não conseguia descansar por muito tempo.
Já havia enfrentado lobos, zumbis, salamandras, esqueletos e muito mais. Mas... bandidos? Eles eram diferentes. Pensavam. Planejavam. Corriam. Gritavam. E, às vezes, imploravam. Isso tornava tudo mais... humano. E, talvez por isso mesmo, mais interessante.
Na manhã seguinte, o céu estava limpo, e o ar carregava o frescor de um novo dia. Gabriel saiu cedo, com passos firmes e o olhar decidido. Ele chegou à associação e, como sempre, Maria já estava no balcão, organizando alguns papéis.
Gabriel se aproximou.
— Hoje quero algo diferente. Uma missão de caçador de recompensa. Alvo... nível 7.
Maria parou o que estava fazendo e olhou para ele, surpresa.
— Um bandido de nível 7? Isso é sério. Esses caras costumam ser extremamente perigosos. São poucos os que se arriscam com eles... geralmente em grupos.
— Eu quero sozinho — respondeu Gabriel, com firmeza. — Pode me passar os dados?
Ela respirou fundo e pegou uma ficha mais abaixo da pilha. Entregou a ele uma pasta com o retrato do alvo. Era um homem de cerca de trinta anos, olhar frio, cabelos pretos curtos, rosto com cicatrizes e uma cicatriz profunda no pescoço. Seu nome: Darion Krav, conhecido por ser implacável, rápido, e usuário de magia de terra e armas longas. Seu histórico incluía assassinatos, sequestros e deserção de um clã.
— Ele foi visto em uma região montanhosa a nordeste da cidade — explicou Maria. — Terreno difícil, cheio de pedras e caminhos estreitos. Não subestime esse tipo de oponente, Gabriel.
Ele observou o rosto na ficha por alguns segundos e então a fechou.
— Não vou.
Virou-se e saiu da associação, sentindo a leve tensão de um novo desafio que exigiria mais do que magia ou força — exigiria estratégia. Um bandido de nível 7 não era como um monstro selvagem. Ele saberia que alguém viria. Ele estaria preparado.
Mas Gabriel também.