Capítulo 34: Ecos da Selva Sombria

Capítulo 34: Ecos da Selva Sombria

Algum tempo havia se passado. Três anos e alguns meses, para ser mais preciso, desde o despertar do sistema em Gabriel. O tempo parecia voar para ele, enquanto para muitos outros caçadores, os dias eram longos e cheios de dificuldades. A maioria ainda estava entre os níveis 3 e 5, suando para sobreviver a cada missão. Mas Gabriel… Gabriel agora estava no nível 8. Seu Rank na cidade? 20.289.

Seu avanço era simplesmente inacreditável.

Naquela manhã, ele acordou com o céu nublado, um vento morno soprando pelas janelas abertas de sua casa. Sentado na beira da cama, Gabriel olhava o horizonte como se sentisse uma inquietação no peito. Era hora de desaparecer por um tempo... de voltar às raízes. Ele não iria atrás de missões na associação, nem se preocuparia com recompensas. Apenas ele, seus feitiços e as criaturas que ousassem cruzar seu caminho.

— Hoje, só quero caçar — murmurou para si mesmo, vestindo sua túnica reforçada e colocando a braçadeira que monitorava os dados do sistema.

Seu destino? A Selva Sombria de Kaorun, um território inexplorado por muitos caçadores de níveis baixos. Diziam que as árvores ali eram tão densas que o sol mal conseguia tocar o chão, e que criaturas ferozes se escondiam na escuridão, esperando pela menor chance de atacar.

Gabriel avançava por entre as raízes retorcidas quando ouviu o farfalhar de folhas e passos leves, quase rituais. Um grupo de Globins surgiu em sua frente, armados com lanças rústicas e armaduras feitas com ossos de animais. Eles tinham pele esverdeada escura, olhos pequenos e malignos, dentes afiados e uma estatura entre um metro e um metro e vinte. Seus corpos eram ágeis, e sua inteligência tática era muito maior que a dos monstros comuns — sabiam se organizar, fazer emboscadas e até usar venenos primitivos.

Um deles apontou na direção de Gabriel e grunhiu em sua língua gutural. Mais quatro globins surgiram pelas laterais, tentando cercá-lo.

— Vocês são bem organizados… Isso vai ser divertido.

Gabriel ergueu a mão direita, conjurando magia de fogo nível 8. As chamas que nasceram em seus dedos não eram comuns — dançavam com tons azulados, quentes o suficiente para vaporizar pedra.

Um dos globins arremessou sua lança. Gabriel desviou com leveza e respondeu disparando uma rajada flamejante que incinerou dois dos inimigos na hora. Os outros recuaram em desespero, mas ele não pretendia deixá-los fugir. Usou magia de vento para impulsionar seu corpo à frente, fechando a distância em um piscar de olhos, e então lançou um golpe de área com fogo, formando um círculo incandescente ao redor.

As árvores próximas foram poupadas pela precisão do feitiço, mas os globins? Queimados até não restar quase nada além de fumaça e restos chamuscados.

Gabriel se abaixou para examinar os itens deixados: colares de ossos mágicos, pequenas pedras de mana, e estranhamente, uma adaga encantada com um símbolo tribal gravado. Era um tipo de magia primitiva, mas eficiente — talvez valesse algo na associação, ou revelasse informações sobre os clãs dos globins daquela floresta.

Ele permaneceu caçando por horas. Cada grupo de globins parecia mais agressivo e melhor armado que o anterior, e mesmo assim, nenhum deles foi páreo. Gabriel estava em outro patamar. O instinto de caçador tomava conta de seu corpo e sua mente, e quanto mais tempo ele passava em meio à selva, mais a adrenalina corria em suas veias.

Ao entardecer, sentado sobre um tronco caído, limpando o sangue escuro dos globins de sua roupa, Gabriel respirou fundo.

— Isso sim é vida.

Ele sabia que ainda enfrentaria criaturas muito mais perigosas nos níveis seguintes, mas por ora, ele era o predador supremo daquela floresta. E a cada inimigo derrotado, ele sentia: o nível 9 se aproximava.

No dia seguinte, o céu permanecia fechado, encoberto por nuvens grossas que ameaçavam uma chuva pesada. O clima, no entanto, não abalava Gabriel — pelo contrário, ele se sentia ainda mais disposto em dias como aquele. Depois de uma noite tranquila em meio à floresta, usando um abrigo improvisado de folhas e magia térmica para manter o calor, ele se levantou ao nascer do sol e partiu novamente.

Dessa vez, Gabriel avançou por uma trilha nova, mais profunda na Selva Sombria. Era um território inexplorado até mesmo para ele, e isso fazia seu sangue ferver de antecipação.

Ele caminhou por uma hora entre cipós e raízes cobertas de musgo, quando ouviu um som diferente. Passos leves, mas rápidos. Uma movimentação coordenada. Ele se escondeu atrás de uma árvore larga e espiou.

Um grupo maior de globins se reunia em um pequeno acampamento improvisado. Eram cerca de doze. Entre eles, um mais alto, usando uma túnica negra com ossos pendurados ao redor do pescoço e um cajado feito de espinhos — um Xamã Globin.

Gabriel estreitou os olhos. Ele nunca havia enfrentado um desse tipo.

O Xamã começou a entoar uma melodia gutural e cavernosa. As pedras ao redor começaram a brilhar em tons púrpura. Um ritual? Um feitiço?

— Se eu esperar mais, talvez fique perigoso. Hora de agir.

Gabriel correu pelas sombras, aproximando-se em silêncio. Quando estava a poucos metros, ergueu as mãos e conjurou magia de terra nível 8. Do solo, pilares de rocha surgiram, empurrando os globins para o alto, interrompendo o ritual e quebrando a formação do grupo.

Alguns gritaram, outros tentaram correr. O Xamã, mesmo surpreso, ergueu o cajado e lançou um raio de energia escura em Gabriel. Mas Gabriel respondeu com um escudo de vento, desviando o ataque, e logo em seguida, lançou magia de fogo, criando uma explosão concentrada no centro do acampamento.

O calor da explosão carbonizou cinco globins imediatamente. Os demais tentaram cercá-lo, mas Gabriel já havia dominado a situação. Ele pairava levemente acima do chão com ajuda do vento, lançando feitiços de raio em rajadas rápidas, como flechas luminosas cortando a escuridão da floresta.

O Xamã tentou conjurar novamente seu feitiço, mas antes que completasse o cântico, Gabriel arremessou uma lança de pedra diretamente em seu peito. O corpo do globin caiu com um baque seco, o cajado rolando para longe.

Gabriel se aproximou, recuperando os itens. O cajado do Xamã tinha uma inscrição incomum. Magia tribal, provavelmente com alguma ligação à terra. Ele guardou o item para estudar mais tarde.

Ao olhar ao redor, o acampamento agora era apenas cinzas, fumaça e corpos. Gabriel suspirou, não de cansaço, mas de satisfação.

— Vocês estão ficando mais organizados… e mais perigosos. Isso está começando a ficar interessante.

Ele continuou caçando por toda a manhã, enfrentando mais pequenos grupos, e mesmo com o aumento da resistência e variedade de táticas dos globins, ele sempre saía vitorioso.

Quando o sol começou a descer no horizonte, Gabriel já havia enfrentado mais de trinta criaturas. Seu corpo estava intacto, mas sua mente fervilhava de pensamentos.

O sistema permanecia silencioso, mas ele sentia — estava mais forte. Muito mais forte.

E no fundo da selva, onde as árvores eram mais densas e o ar mais pesado, algo o observava.

Ele não estava sozinho ali.

Mas para Gabriel… isso só tornava tudo mais empolgante.