Eu não sabia que era diferente até que eu me machuquei. Eu devia ter uns 5 anos e caí de bicicleta. Meus pais correram para me ajudar, mas eu não estava chorando. Eu não estava sentindo nada. Eles me levaram ao médico e eu fui diagnosticada com analgesia congênita, uma doença rara que me tornava incapaz de sentir dor.
Meus pais ficaram preocupados. Eles me levaram a vários médicos e especialistas, tentando entender o que estava acontecendo comigo. Eu me lembro de todas as consultas, dos exames e dos tratamentos. Eu me sentia como um rato de laboratório.
Mas não era apenas a doença que preocupava meus pais. Eu também tinha problemas de comportamento. Eu era impulsiva, agressiva e difícil de controlar. Meus pais me levaram a psicólogos e psiquiatras, e eu comecei a tomar medicamentos para tentar me acalmar.
Apesar de tudo, meus pais nunca desistiram de mim. Eles me apoiaram e me incentivaram a seguir em frente. E quando eu cresci, eles me disseram que eu deveria fazer faculdade. Eu não sabia o que queria fazer, mas meus pais me disseram que eu deveria fazer medicina. E eu fiz.
Eu me formei em medicina e comecei a trabalhar como médica. Mas algo estava faltando. Eu não sabia o que era, até que eu entrei na sala de cirurgia...
Eu entro na sala de cirurgia como se estivesse entrando em um mundo próprio. O som dos monitores, o cheiro do desinfetante, a luz intensa. Tudo isso me faz sentir viva.
Eu não me importo com os pacientes. Não me importo com suas histórias, suas famílias, seus sonhos. Eu só me importo com o momento. O momento em que eu estou no controle, em que eu sou a única que pode decidir quem vive ou morre.
A adrenalina é minha droga. Eu a sinto quando estou trabalhando, quando estou no limite. É uma sensação de liberdade, de poder. E é o que me faz continuar.
Eu não tenho apego à vida. Não tenho medo de morrer. E isso me faz sentir... livre. Eu posso fazer o que quiser, sem consequências. E é isso que eu faço.
A sala de cirurgia é meu santuário. É onde eu me sinto mais viva. E é onde eu vou continuar a viver.
Mas nesse dia, algo mudou. Uma paciente baleada chegou ao hospital, acompanhada por dois homens altos de terno preto. Eu era a cirurgiã encarregada do caso.
Eu entrei na sala de exame e vi a paciente. Ela era jovem, não devia ter mais de 20 anos. Os dois homens de terno preto estavam ao lado dela, olhando para mim com uma expressão séria.
Eu senti um calafrio, uma sensação ruim que não consegui explicar. Mas eu ignorei e comecei a examinar a ferida da paciente. Ela estava grave, mas eu sabia que podia salvá-la.
Enquanto eu trabalhava, eu notei que os homens não diziam nada. Eles apenas olhavam para mim, como se estivessem me avaliando. Eu senti um desconforto, mas eu continuei trabalhando.
A paciente estava estável, mas eu sabia que precisava agir rápido. Eu comecei a preparar a cirurgia e os homens se afastaram, deixando-me trabalhar.
Mas quando eu olhei para a paciente, eu vi algo que me fez parar. Algo nos seus olhos... Eu não sabia o que era, mas eu senti uma conexão estranha.
E quando eu menos esperava, ouvi barulhos de tiros. As enfermeiras e os funcionários que estavam comigo saíram correndo ou se jogaram no chão. Eu, por incrível que pareça, não me desesperei. Talvez fosse a adrenalina da situação, ou talvez fosse a minha falta de apego à vida, mas eu me senti... tranquila.
Os dois homens que haviam vindo com a paciente entraram correndo na minha sala de cirurgia, pegaram a paciente da mesa cirúrgica e começaram a carregá-la para fora. Um deles veio até mim, me pegou pelo braço e gritou:
__ Me fala o que você precisa para terminar a cirurgia! Fala rápido.
Eu apontei para os anestésicos e para o material cirúrgico que eu precisava para terminar a cirurgia. O homem pegou tudo rapidamente e saiu me arrastando para fora da sala de cirurgia.
Nós corremos pelos corredores do hospital, com os tiros e os gritos ao fundo. Eu não sabia para onde estávamos indo, mas eu sabia que precisava ir com ele se queria ter alguma chance de salvar a paciente.
Eu me sentia estranhamente calma, como se isso fosse normal, como se fosse algo diário.