O silêncio da casa após a partida de Lara era um novo tipo de barulho.
Jonas agora viajava com frequência, representando a fundação.
Vivian dividia seu tempo entre as mulheres da sede e novos grupos de escrita.
E Lou… Lou começava a descobrir quem era, pela primeira vez sem medo.
— Quero estudar psicologia — repetia ela. — Mas não só pra entender os outros.
Quero entender a mim mesma.
E saber onde é que eu terminei… e a dor começou.
Lou foi aceita na Universidade de Lausanne, com apoio da Fundação Teresa.
No primeiro dia de aula, ligou-me chorando.
— Mãe, entrei na sala e fiquei paralisada.
Todo mundo parecia saber de onde veio.
E eu… só sei que vim de um segredo.
— Então começa com isso.
Diz que vieste da coragem de uma mulher que te quis viva, mesmo à distância.
Ela respirou fundo.
— Vou tentar.
Mas e se ninguém me entender?
— Tu não precisas que todos te entendam.
Só que alguém escute.
Enquanto isso, Vivian recebeu um e-mail inesperado.
Convite para ser palestrante na Conferência Internacional de Imagem e Comunicação Global, em Tóquio.
Mas havia um porém.
— Eles querem que eu me apresente como "modelo de reconstrução de imagem feminina".
Querem que eu use os mesmos trajes, a maquiagem que abandonei.
Querem minha versão anterior… como vitrine.
— E tu?
— Estou tentada.
Mas se for… não estarei indo como eu.
— Então vais como quem?
Ela ficou em silêncio.
— Talvez… como alerta.
Talvez como armadilha.
— Só não esqueças quem tu és agora.
Vivian suspirou.
— Já me escondi tempo demais pra voltar ao palco como outra máscara.
Já Lara, a milhares de quilômetros, enfrentava a própria tempestade.
Ligou no meio da noite:
— Mãe… fui acusada de plágio.
— O quê?
— Uma autora publicou que o meu novo livro tem trechos semelhantes a um ensaio dela. Mas é mentira. Meu texto é original. As coincidências são temáticas — trauma, mulheres, irmãs.
— Já falaste com teus editores?
— Eles querem aguardar. Mas a internet… já está julgando.
— E tu?
— Eu me sinto traída pela própria voz. Como se minha verdade tivesse sido roubada antes de ser ouvida.
— Então escreve sobre isso.
E mostra que tua voz é maior do que a dúvida.
Em Genebra, recebi uma carta escrita à mão.
Sem remetente.
Assinada apenas como “o último leal de Teresa”.
*“Ela sabia que o inimigo não estava apenas fora.
Alguns dormiam ao lado dela.
E agora… um deles voltou.
Nome: Elias B.
Última localização: Istambul.
Ele quer calar o legado.
De novo.”*
Elias B.
O nome ecoou em mim como um veneno esquecido.
Ele foi um dos primeiros homens a discordar da independência de Teresa dentro da Aliança.
Um homem que acreditava que mulheres como ela deviam ser símbolo — mas nunca líderes.
E agora, ele voltava.
Convoquei Vera, Jonas e Júlia.
— Precisamos rastreá-lo.
Antes que ele nos destrua de dentro.
— Achas que ele já está em movimento? — perguntou Vera.
— Não duvido. E Lara sendo atacada agora… pode ser parte disso.
— E se for maior do que só ele?
— Então precisamos de todas nós.
Na última cena do dia, sentei na varanda com Lou e Vivian.
— As vozes estão se levantando contra nós.
Mais uma vez.
— E o que faremos? — perguntou Lou.
— Vamos responder.
Com verdade.
Com coragem.
Vivian segurou minha mão.
— E com o rosto limpo.
Sempre.