Capítulo 67:Os caminhos que nos chamam pelo nome

O silêncio da casa após a partida de Lara era um novo tipo de barulho.

Jonas agora viajava com frequência, representando a fundação.

Vivian dividia seu tempo entre as mulheres da sede e novos grupos de escrita.

E Lou… Lou começava a descobrir quem era, pela primeira vez sem medo.

— Quero estudar psicologia — repetia ela. — Mas não só pra entender os outros.

Quero entender a mim mesma.

E saber onde é que eu terminei… e a dor começou.

Lou foi aceita na Universidade de Lausanne, com apoio da Fundação Teresa.

No primeiro dia de aula, ligou-me chorando.

— Mãe, entrei na sala e fiquei paralisada.

Todo mundo parecia saber de onde veio.

E eu… só sei que vim de um segredo.

— Então começa com isso.

Diz que vieste da coragem de uma mulher que te quis viva, mesmo à distância.

Ela respirou fundo.

— Vou tentar.

Mas e se ninguém me entender?

— Tu não precisas que todos te entendam.

Só que alguém escute.

Enquanto isso, Vivian recebeu um e-mail inesperado.

Convite para ser palestrante na Conferência Internacional de Imagem e Comunicação Global, em Tóquio.

Mas havia um porém.

— Eles querem que eu me apresente como "modelo de reconstrução de imagem feminina".

Querem que eu use os mesmos trajes, a maquiagem que abandonei.

Querem minha versão anterior… como vitrine.

— E tu?

— Estou tentada.

Mas se for… não estarei indo como eu.

— Então vais como quem?

Ela ficou em silêncio.

— Talvez… como alerta.

Talvez como armadilha.

— Só não esqueças quem tu és agora.

Vivian suspirou.

— Já me escondi tempo demais pra voltar ao palco como outra máscara.

Já Lara, a milhares de quilômetros, enfrentava a própria tempestade.

Ligou no meio da noite:

— Mãe… fui acusada de plágio.

— O quê?

— Uma autora publicou que o meu novo livro tem trechos semelhantes a um ensaio dela. Mas é mentira. Meu texto é original. As coincidências são temáticas — trauma, mulheres, irmãs.

— Já falaste com teus editores?

— Eles querem aguardar. Mas a internet… já está julgando.

— E tu?

— Eu me sinto traída pela própria voz. Como se minha verdade tivesse sido roubada antes de ser ouvida.

— Então escreve sobre isso.

E mostra que tua voz é maior do que a dúvida.

Em Genebra, recebi uma carta escrita à mão.

Sem remetente.

Assinada apenas como “o último leal de Teresa”.

*“Ela sabia que o inimigo não estava apenas fora.

Alguns dormiam ao lado dela.

E agora… um deles voltou.

Nome: Elias B.

Última localização: Istambul.

Ele quer calar o legado.

De novo.”*

Elias B.

O nome ecoou em mim como um veneno esquecido.

Ele foi um dos primeiros homens a discordar da independência de Teresa dentro da Aliança.

Um homem que acreditava que mulheres como ela deviam ser símbolo — mas nunca líderes.

E agora, ele voltava.

Convoquei Vera, Jonas e Júlia.

— Precisamos rastreá-lo.

Antes que ele nos destrua de dentro.

— Achas que ele já está em movimento? — perguntou Vera.

— Não duvido. E Lara sendo atacada agora… pode ser parte disso.

— E se for maior do que só ele?

— Então precisamos de todas nós.

Na última cena do dia, sentei na varanda com Lou e Vivian.

— As vozes estão se levantando contra nós.

Mais uma vez.

— E o que faremos? — perguntou Lou.

— Vamos responder.

Com verdade.

Com coragem.

Vivian segurou minha mão.

— E com o rosto limpo.

Sempre.