Capítulo 85 – A Minha Favorita Filha
Narrado por Isabel
Fechei o diário de Teresa pela última vez.
Não porque terminei de ler.
Mas porque, pela primeira vez, não havia mais perguntas.
As respostas estavam diante de mim.
Nas vozes.
Nos olhos.
Nos caminhos que cada filha decidira seguir.
Lou partiu para a sede da ONG em Nova Deli.
Levava o colar de flor-de-lis no peito, e no coração, as meninas que conheceu em abrigos, as palavras que calou por anos, e o brilho de quem encontrou força dentro do próprio nome.
Ela me escreveu antes de embarcar:
“Não sou a filha perfeita.
Mas fui a que mais quis ser real.
E isso… já é muito.”
Vivian lançou seu documentário:
“A Reconstruída”
Não contou só a própria história, mas a de todas que se reinventaram entre máscaras, espelhos e rotinas comuns.
Viralizou.
Foi elogiada.
Mas ela mesma disse:
— O que mais importa não é o que disseram.
É que eu me vi ali. Pela primeira vez.
Lara republicou seu livro com um novo prefácio:
“Fui filha de uma mulher amada e temida.
Mas precisei escrever para ser lida como pessoa.
Se estás aqui, obrigado por me escutar sem pedigree.
Agora… sou autora da minha própria dor.”
Clara lidera a Iniciativa Eulália com firmeza.
Usa o nome da mãe que ninguém escreveu em monumentos, mas que vive em cada mulher invisível que recebe apoio, acolhimento e dignidade.
Júlia criou uma exposição fotográfica chamada:
“As Que Não Couberam no Retrato”
Nela, colocou imagens antigas e atuais das filhas de Teresa — e de tantas outras que foram apagadas da história de alguém.
Na entrada da exposição, uma frase:
“Ser esquecida não é o fim.
É o começo de quem aprende a gritar.”
Eu, Isabel…
Voltei a escrever.
Não discursos.
Não relatórios.
Escrevo agora crônicas curtas sobre coisas pequenas:
mulheres nos cafés, mães no metrô, filhas no espelho.
Pela primeira vez, escrevo sem precisar representar ninguém.
Hoje caminhei por Lisboa com o caderno de Teresa na bolsa.
Sentei à beira do Tejo.
Abri uma nova página.
E escrevi:
“Nunca tive uma filha favorita.
Tive filhas que me desafiaram.
Que me confrontaram.
Que me salvaram de mim mesma.
Tive filhas que fugiram, que voltaram, que me olharam sem medo.
Mas se hoje preciso escolher…
A minha favorita filha…
fui eu.
Porque, enfim…
me permiti existir como mulher,
e não só como espelho das outras.”
Fechei o caderno.
Olhei para o céu.
E pensei:
“Vai em paz, Teresa.
Aqui…
nós ficamos inteiras.”
FIM.
Parabéns por chegar até aqui!