Depois das aulas sempre tenho o mesmo costume, me esgueira tentando não chamar atenção de ninguém.
Normalmente é fácil, sempre fui um cara meio esquecível, então as pessoas costumam me ignorar. O que é perfeito para essa situação!
No caminho, encontrei o que sempre acontece por esse lugar, uma briga. Mas essa é diferente, é o pior tipo de briga que poderia haver.
Me escondo dentro de uma lixeira para não ser visto, pouco me importo ficar um pouco sujo, seria muito pior se encontrado por eles.
Vejo um aluno cair no chão, ele estava completamente espancado. No contador do Brasão, tinha uma enorme mensagem piscando. “Aluno Abatido”. Isso significava que não podia mais bater nele!
Nesse colégio você pode bater em alguém até deixá-lo em coma, mas é proibido matar aqui dentro. Pelo menos isso, nossas vidas não estão em xeque nesse jogo doentio.
Logo vejo o autor daquela surra, seu nome era Bruno, e ele era o veterano de jaqueta de couro do primeiro dia. Aquele que derrubou o novato
Realmente, sorte não é algo que eu tenha. Ele estava acompanhado. No caso seu grupo e outras cinco pessoas.
Também pude ver vários alunos caídos pelo chão, aparentemente, houve uma briga de gangues.
— eu disse que cuidaria desse grupo sozinho! Em pouco tempo teremos controle total dessa área. —
Bruno disse para o líder daqueles cinco. Esse era um cara alto, só uns centímetros abaixo do Bruno. Ele tinha uma estatura magra, apesar de aparentar ter músculos.
Usava uma camiseta preta, e uma calça folgada escura. Tinha cabelos roxos, com uma franja tampando o lado esquerdo do rosto. Ele portava uma touca preta, e usava uma blusa de frio amarrada na cintura.
Apesar de parecer mais forte, Bruno tratava ele como alguém superior. Eu não entendo bem o motivo para Bruno aceitar esse cara como líder.
Quer dizer, o Bruno é maior e mais forte que esse cara, qual o sentido de obedecer ele?
— Muito bem Bruno, suas ações são esforços reconhecíveis para meu objetivo. Você pode ficar com os P.G deles, já recebemos o suficiente dos calouros que você extorquiu. —
Aquele cara estranho falar de uma forma um tanto quanto vergonhosa. O Tom da sua voz soava de uma forma caricata e claramente forçada, ele até engrossava a voz para falar. O que esse cara acha que é, um vilão de anime?
A forma como ele puxava as palavras, o tom que ele tomava na voz, até os gestos e caretas que ele fazia eram algo doloroso de ver.
Parecia um adolescente fã de anime, imitando um vilão estiloso. Juro que em um momento nessa conversa, ele simplesmente vez posse como se estivesse mesmo em algum anime.
Eu realmente tinha medo do Bruno, mas saber que ele trabalhava pra esse cara, o fez perder muita aura para meu gosto.
— Obrigado senhor. Com esse grupo derrotado, vão faltar apenas mais três gangues de bullying. Deixo garantido que vou conseguir, e vai ser ainda esse ano! —
Ele estava literalmente ajoelhado, não me diga que isso era algo que o chefe dele mandou fazer, porquê se fosse, esse cara é meio maluco das ideias.
Mas se isso foi algo da parte do Bruno, então ele cai ainda mais no meu conceito. Imagina sofre bullying de uns malucos desses.
— Estou confiando que sim, falta pouco para eu estabelecer meu reinado aos mais medíocres. Mas agora preciso ir, tenho assuntos a tratar pelas redondezas. —
E aquele esquisito vai embora. Ele é tão teatral e caricato! Parece que foi feito por algum escritor ruim, para ser um vilão secundário, ou algo assim.
Mas isso não importa, Bruno e companhia saem logo em seguida. Finalmente posso sair do lixo onde entrei. Não tenho orgulho disso, mas né, sobrevivência.
Vejo todos os alunos caídos. Normalmente quando alguém se machuca tanto assim, o Brasão automaticamente, chama a equipe da enfermaria.
Então não tenho motivos para ajudar ninguém aqui, sem falar que são todos bullying, então não vou mesmo me envolver.
Continuo meu caminho até o mercadinho onde sempre compro. Era um quiosque no meio de uma área comum entre os prédios escolares.
Eu gostava desse lugar por ser calmo e afastado. Como só tinha esse estabelecimento aqui, a maioria dos alunos não ficavam muito tempo, por isso não havia muitas brigas.
O lugar era tranquilo, dês que você não irrite a dona. Estava escolhendo algo nos gelados, tinha uma promoção de duas tabelas de iogurte por 14 pontos. Provavelmente eu iria me alimentar disso por meses.
Olhei pro lado e vi um aluno retirando os produtos da geladeira, nada demais, o erro dele foi não ter fechado ela depois.
Eu já estava pronto pra o que iria acontecer, lembra o que eu disse? Que os donos das lojas usavam as regras para roubar pontos de clientes chatos.
Em poucos segundos, uma mulher de cabelo curto e rosa, usando o uniforme do mercadinho. Acertar uma voadora no aluno, que é jogado para as geladeiras, fechando a porta que ele deixou apertar.
Eu me afasto dos dois, e vou ver o que tinha no hortifruti. Mas vejo outra confusão vindo.
Outro cliente tira uma maçã, que faz todas as outras frutas empilhadas cair. E sem demora, a mesma mulher vem com um chute na cabeça dele.
Ela então pega os dois e joga para fora do estabelecimento, como se os dois fossem cães. No contador do Brasão dela, marcava o ganho de mais pontos, o que ela reage apenas com um sorriso triunfante e satisfeito. Ela com toda a certeza, gostava de fazer aquilo!
Tudo o que eu pude comprar foi, as cartelas de iogurte e três maçãs. Graças a deus estava na promoção, se não eu poderia morrer de fome pelas próximas semanas.
As coisas não têm sido fáceis, mas eu estou sobrevivendo o que eu posso a cada dia.
Não tenho interagindo com ninguém, as pessoas aqui não são muito confiáveis, ou só estranhas mesmo. O único que eu venho conversando é o cara que me recebeu na lírio verde, o nome dele é Léo, e ele não é um cara legal.
Não que ele seja uma pessoa ruim, só é muito indiferente e zombeteiro, sem falar que gosta de capitalizar até mesmo conversas.
Ele ganha a vida aqui, vendendo informações, mas às vezes ele solta uma coisa ou outra de graça. Tenho sobrevivido com algumas coisas que ele solta aqui ou alí.
E essa é minha vida nesse lugar, o mais desconfortável possível, mas podia ser pior, e eu não gosto disso.
Já parou pra pensar o quão triste é o fato, que sua situação seja tão livre de coisas boas, que o único motivo de gratidão que você tenha é a garantia que as coisas podiam ser piores?
Você não tem coisas boas na vida, é só que as coisas ruins nela, não são horríveis. Olha que legal, fiquei grato por isso
Saber disso não me conforta em nada, só deixa mais claro a minha falta de esperança por algo bom.
Acho que estou um pouco melancólico, mas meus sentimentos são válidos!
Agora estou indo a uma farmácia, queria comprar algumas pomadas, quem sabe assim eu não alivie os vermelhos ao redor do meu corpo.
A farmácia ficava em um lugar parecido com o mercadinho, a diferença era que ela ficava em um pequeno morro, com alguns outros estabelecimentos à volta.
Como tinha uma lanchonete ali, o lugar era bastante movimentado. Por preparo, eu vou em um horário onde não tinha muita gente.
A farmácia era pequena, só tinha o balcão, o atendente e as prateleiras com os produtos.
Abaixo minha cabeça com frustração, não ia conseguir pagar por nada. O atendente não estava presente, mas tanto faz a presença dele.
Suspiro enquanto sentia a dor na minha pele. Ela estava doendo tanto, que eu inevitavelmente, soltava algumas lágrimas de dor e frustração.
— você não parece muito bem, está tudo certo com você? —
Eu me assusto, estava sempre com os sentidos em modo de alerta. Mas a voz era suave e gentil.
Mas gentileza aqui é só ilusão. Quem quer que fosse, poderia ser só mais uma predadora atraindo sua presa.