Apêndice – O Que Aprendi Após Perder Três Civilizações e Meu Cão de Guerra de 6 Toneladas
Reflexões finais de Zolomon Hendrick
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A esta altura, você já leu o manual inteiro (ou apenas folheou em busca de partes engraçadas ou dicas de genocídio funcional, não julgo). Mas agora chegou o momento em que deixo a armadura de conquistador intergaláctico e visto a túnica suada do filósofo que já teve tudo — e perdeu.
Este apêndice não é um guia.
É um aviso.
Ou, se preferir: um testamento cínico de quem já viu o fim de três civilizações e precisou enterrar um cão de guerra com o nome de “Demolidorzinho”.
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1. A Primeira Civilização – Os Devotos de Luar-Vermelho
Eles me adoraram. Literalmente. Eu fui anunciado como o "Herdeiro Cósmico", uma profecia sobre um deus com olhos brilhantes e voz metálica. Eu? Brilhei.
Eles construíram templos. Cantaram meu nome. Me ofereceram sacrifícios.
E então… começaram a pedir coisas.
Chuvas. Currais. Reversão de infertilidade genética. Reformas tributárias.
Eu não sabia como dizer ‘não’ sem parecer falho.
Então, disse sim. A tudo.
Três ciclos depois, eu era um escravo glorificado com coroa.
A revolta foi liderada por um bebê profeta com voz adulta.
Hoje, aquele planeta é um retiro espiritual onde ninguém diz meu nome — por medo de invocar infecções emocionais.
Lição: Se te chamarem de deus… corra. É uma armadilha com incenso.
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2. A Segunda Civilização – A Liga dos Iguais (só que eu mandava)
Aqui fui pragmático. Nada de culto. Nada de adoração. Apenas... administração eficaz.
Implementei meritocracia autoritária. Implantação de implantes neurais. Educação em 4 turnos.
Tínhamos produtividade. Estabilidade. Excelentes números de aprovação em pesquisas feitas por mim mesmo.
Então eles evoluíram.
Literalmente.
Um dos cientistas locais ativou um salto cognitivo coletivo baseado em cognição compartilhada.
No fim de uma semana, eles pensavam em uníssono.
No fim de um mês, não precisavam mais de mim.
Me desligaram com a mesma gentileza com que se fecha um pop-up irritante.
Lição: Se fizer tudo certo demais... eles aprendem a fazer sem você.
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3. A Terceira Civilização – Os Que Nunca Me Levaram a Sério
Ah, esse foi o pior.
Eu invadi. Eu dominei. Eu me impus.
Eles… riram.
Riram das roupas. Dos discursos. Das naves.
Fizeram memes. Fizeram bonequinhos. Fizeram um musical.
Quando tentei retaliar com força, me chamaram de “drama queen cósmico”.
Quando reprimi protestos, postaram vídeos com legendas engraçadas.
Quando iniciei um ataque orbital, o sinal foi hackeado e substituído por um episódio especial do desenho animado "Zolomonzinho e o Cão da Treta".
Fui vencido pela irreverência.
Nem bomba de antimatéria sobrevive a um planeta onde ninguém te leva a sério.
Lição: O respeito é essencial. Mas o medo sem respeito... vira piada. E piadas matam impérios.
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Sobre o Cão de Guerra de 6 Toneladas
Seu nome era Demolidorzinho.
Engenho biotecnológico de guerra. Dentes de titânio, sensor de lealdade, latido de frequência supersônica que quebrava cerâmica e egos frágeis.
Morreu defendendo meu clone inútil numa festa diplomática.
No funeral, só eu chorei.
Acho que ele foi o único ser vivo que nunca quis me substituir, adorar, ou sabotar.
Lição final: Às vezes, o único que realmente te entende é o monstro que você criou para destruir os outros.
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Última Palavra (Sim, Só Uma)
Se você chegou até aqui e ainda quer conquistar um planeta…
Boa.
(Porque "sorte" é para os tolos, e "sucesso" é para os mentirosos.)
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Fim de “Derrotando a Si Mesmo”
por Zolomon Hendrick
(Última localização confirmada: desconhecida. Alguns dizem que abriu um café interestelar. Outros, que ainda observa... esperando.)