Um Destino Quebrado

Meu nome é Han Siuk. Tenho 20 anos.

E sou um fracasso.

Faz três anos que tento entrar em uma universidade. Três anos de tentativas, promessas para mim mesmo, noites sem dormir... E tudo o que recebo de volta são resultados miseráveis. Meus pais já desistiram de mim. Amigos? Não sobrou nenhum. E na escola... eu sou o alvo. Sempre fui.

Não lembro mais quantas vezes escutei alguém dizer que eu não tinha futuro. E, pior, comecei a acreditar nisso também. Cheguei a um ponto em que até o silêncio gritava. E hoje, de pé no topo do prédio do meu apartamento, eu fiz minha escolha.

Sem palavras dramáticas, sem carta de despedida. Só o som do vento nos meus ouvidos e o céu nublado me observando.

"Se existe outra vida... por favor, que seja melhor que essa."

Saltei.

O impacto não veio. Nem a dor. Nem mesmo o fim.

Pelo contrário...

"Uaaaawww... eu... eu não morri? O que tá acontecendo?!", engasguei, minha voz fraca e trêmula, como se minha garganta estivesse se acostumando novamente a existir.

[Iniciando sistema...]

Meu corpo tremeu. Não de dor, mas de susto. Uma janela flutuante surgiu na minha frente, como um holograma de jogo.

[Integrando Consciência: Han Siuk]

[Vínculo com a Alma estabelecido]

[Carregando informações do novo corpo...]

[Análise completa. Status inicial disponível.]

Eu pisquei, tentando entender se era algum tipo de ilusão. Mas... tudo era real. Pude sentir o chão sob meus pés, uma textura de madeira polida. Pude ver o reflexo de uma janela. Um rosto que não era o meu.

Eu me aproximei.

Olhos azuis intensos, quase brilhantes. Cabelos pretos, bagunçados e sedosos. Pele clara, traços afiados... um rosto bonito demais pra ser o meu. Definitivamente, esse não era o Han Siuk fracassado que pulou de um prédio.

Foi então que eu entendi.

Esse quarto... essas roupas... o cenário. Eu conhecia isso tudo.

"Não... isso não é possível... Isso aqui é A Academia do Herói!"

Minha mente girou. Aquela era a novel que eu lia todas as noites. A que me fazia esquecer da vida de merda que eu tinha. Mas se isso é A Academia do Herói, então esse corpo...

Corri até a escrivaninha e vi o brasão dourado cravado em um livro com capa de couro. Um nome. Um nome que me congelou por completo.

[Identidade: Raven Arcnoir]

"...Não, não, não... NÃO!"

Raven Arcnoir. O vilão que morria no primeiro capítulo. Um mago promissor que nunca aprendeu magia corretamente, odiado por todos, com uma reputação no fundo do poço. Aquele que foi humilhado, esquecido, e executado pelo protagonista principal, Lee Han, logo após o exame de entrada na academia.

Mas... alguma coisa estava errada.

Ele ainda não tinha aprendido magia negra.

Nada no quarto sugeria que o pacto sombrio havia sido feito. Nenhum grimório, nenhum artefato amaldiçoado. A janela do sistema ainda pairava no ar, esperando ser lida. Respirei fundo e li com mais atenção.

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[Sistema de Progresso Universal Integrado]

Nome: Han Siuk (Corpo original: Raven Arcnoir)

Classe: Runomante Arcano (lendário)

Subclasse: Mestre de Pactos (selado)

Nível: 1

Experiência: 0 / 100

Atributos Iniciais:

FOR: 5

AGI: 8

INT: 14

DEF: 2

MP: 120

HP: 100

Reputação: Péssima

Afinidade Social: Nula

Recompensas de Afinidade: ???

Inventário: Uniforme da Academia Ludik (emblema de barão), Varinha Básica, 1 Cristal de Registro

Habilidades Atuais:

[Runas Básicas - Lv.1]: Permite desenhar runas de amplificação mágica simples.

[Leitura de Fluxo]: Capacidade de visualizar levemente o fluxo de mana ao redor.

Missões Ativas:

[Objetivo Principal: Sobreviva até o Ato 1]

[Matrícula obrigatória: Academia de Magia Ludik — 5 dias restantes.

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Respirei fundo. Então é isso.

O antigo Raven Arcnoir nunca chegou a aprender magia negra. Era apenas o desejo dele... mas fui eu quem reencarnou antes disso. Isso significa que eu tenho a chance de mudar tudo.

E esse sistema... é meu guia.

Eu estava cinco dias antes da academia abrir as portas para os novos alunos. O ponto zero da novel.

"Ok... Se eu ficar na minha, não chamar atenção, estudar as pessoas e evitar o Lee Han e suas heroínas... eu posso me manter vivo."

Uma missão impossível. Mas era melhor que morrer logo no primeiro capítulo.

Ali, olhando para o sistema aberto, algo despertou em mim. Uma vontade de viver. Pela primeira vez em anos, eu não queria desaparecer.

Eu queria vencer.

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Cinco dias.

Esse era o tempo que eu tinha para reorganizar tudo antes da linha do tempo da história começar. Cinco dias antes dos heróis principais aparecerem. Cinco dias antes de Lee Han pisar na Academia Ludik e o verdadeiro enredo começar.

Meu novo corpo, Raven, era de um barão de reputação patética. Mesmo com um reservatório de mana surpreendente, ele nunca foi capaz de canalizar poder de verdade. Eu sei por quê. Era um inútil com uma mente fechada e obcecada pela magia negra, incapaz de aprender as bases.

Mas agora, com o sistema... as coisas seriam diferentes.

Ainda naquela manhã, uma mensagem surgiu quando decidi abrir o grimório deixado sobre a mesa:

[Sistema: Você deseja iniciar o tutorial de Runomancia?]

Claro que sim.

Eu precisava aproveitar ao máximo cada recurso.

Três horas depois, eu já conseguia desenhar runas básicas de amplificação e dispersão. Era difícil no começo — desenhar runas exigia precisão mental e concentração absurda. Mas o sistema corrigia meus erros, destacando falhas em vermelho e sugerindo ajustes.

Eu também testei minha habilidade de "Leitura de Fluxo". Bastava ativá-la, e filetes de luz azul e dourado começavam a dançar no ar, revelando traços de mana escondida — um espetáculo visual e prático.

Um novo caminho estava se abrindo, mesmo que lentamente.

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Do lado de fora da mansão, uma carruagem simples me esperava para me levar até a estrada principal, onde me juntaria a outros nobres de baixo escalão rumo à Academia.

Enquanto o cocheiro ajeitava os cavalos, me sentei dentro do compartimento com o coração acelerado. Era ali que minha nova vida começava.

Durante o trajeto, o céu escureceu levemente. Nuvens pesadas se acumulavam, embora nenhuma gota de chuva caísse. Um clima estranho, quase como se o mundo estivesse me testando.

Foi então que ouvi um estrondo.

BOOOOM!

A carruagem da frente, uma elegante construção de madeira escura adornada com brasões prateados, foi atingida por uma pedra enorme vinda do lado da estrada. Um ataque? Um deslizamento?

A carruagem tombou parcialmente.

"Merda...!" murmurei, meu corpo se movendo por instinto.

Eu saltei da minha própria carruagem, correndo em direção à outra mesmo sem saber o porquê. Era estúpido. Eu nem deveria estar me envolvendo com outras figuras importantes da novel. Mas meu corpo se moveu sozinho — ou talvez fosse o medo de morrer esmagado como efeito colateral que me fez reagir tão rápido.

Quando outra pedra veio voando do alto, eu rolei no chão e abracei a primeira pessoa que vi saindo da carruagem avariada.

Uma garota.

Alta, pele clara como porcelana. Olhos vermelhos que brilhavam como rubis, transbordando julgamento. Seus cabelos prateados, quase acinzentados, estavam soltos, batendo nos ombros com elegância. E sua roupa... um uniforme nobre, de corte militar e acabamento refinado, típico das famílias influentes de espadachins.

Ela me olhou com frieza.

"...Pode se soltar agora." Sua voz era baixa, mas firme.

Eu a soltei na mesma hora, engolindo em seco.

Essa era Sasha Luniz.

A vilã do Ato 3.

A mulher que faria um pacto com o demônio cinzento e traria ruína à Academia inteira. Na novel, ela era arrogante, fria e extremamente poderosa. E aqui estava eu... um barão falido, abraçando a filha de um duque como um completo lunático.

"O que... foi isso?" ela perguntou, erguendo uma sobrancelha, seus olhos cravados nos meus.

"Eu só... instinto. Achei que a pedra fosse cair em mim."

"...E usou meu corpo como escudo?"

"Não foi bem isso...!"

Ela ficou em silêncio por um instante, observando minha expressão desconfortável. Então perguntou:

"Seu nome?"

Engoli em seco. Eu sabia que deveria mentir. Se desse meu nome verdadeiro, ela me reconheceria futuramente. Essa era a abertura... o momento em que tudo poderia desandar.

Mas eu hesitei.

"...Han Siuk," respondi, quase sussurrando.

Ela inclinou levemente a cabeça. "Um nome estranho para um nobre."

"Sou um barão. Nada de mais."

Ela me encarou por mais dois segundos antes de simplesmente virar as costas e entrar em outra carruagem que parou para socorrê-la. Em silêncio.

Eu subi de volta à minha, ainda suando frio.

"Garoto... eu não sei o que você fez, mas tome cuidado. Essa é Sasha Luniz, a Espada Prateada. A família dela tem influência em metade do continente," disse o cocheiro, com a voz tensa.

"Eu sei..." murmurei, me encostando no assento.

Na verdade, eu sabia de muito mais.

[Sistema: Afinidade com Sasha Luniz aumentou para 1/100.]

[Recompensa oculta desbloqueada: ???]

O quê?

Não foi só a curiosidade que me pegou, mas também o pânico. Aquela pequena ação — um abraço por puro medo — já havia desencadeado uma mudança na história.

Isso significava que qualquer movimento meu... poderia alterar o enredo.

Eu não era mais só um espectador.

Eu era uma variável.

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A Academia Ludik surgiu no horizonte como uma colina de castelos empilhados. Torres de pedra mágica, cúpulas flutuantes, pontes aéreas e brasões em chamas flutuando no céu. Era exatamente como descrito na novel... e ainda mais imponente ao vivo.

Na entrada, centenas de jovens nobres, plebeus talentosos, e descendentes de heróis aguardavam em fila, sendo guiados por guardas vestidos com armaduras encantadas.

Eu me juntei ao grupo, tentando passar despercebido.

Dois professores — um velho com barba de névoa e uma mulher de pele bronzeada e olhos mágicos — se colocaram à frente do grupo.

"Sejam bem-vindos à Academia de Magia Ludik. Aqui, vocês aprenderão não só a manipular o poder arcano, mas também a sobreviver em um mundo que não perdoa a fraqueza," disse o homem.

"Todos vocês serão avaliados. Cada um tirará três disciplinas por semestre. O primeiro nome a ser chamado poderá escolher suas matérias livremente. Os demais serão sorteados."

"Por favor... por favor..." sussurrei, desejando silenciosamente não ser o último.

"Han Siuk, apresente-se."

O mundo parou.

"Você tem prioridade de escolha."

Minhas pernas bambearam, mas caminhei até o pódio sob o olhar de centenas.

"Três disciplinas, por favor," disse a professora.

"Teologia," respondi. Magia sagrada. Eu precisava aprender isso.

"Hyuksuu."

"Domadores?" ela arqueou uma sobrancelha, surpresa. "Interesse incomum."

"Tenho meus motivos."

"Última disciplina?"

"Matemática mágica." Eu queria algo que me permitisse passar despercebido e não chamar atenção.

Ela anotou. "Muito bem. Próximo."

Voltei ao meu lugar, com a mente girando. A primeira etapa havia sido vencida.

Mas o jogo apenas começara.