Assim que a porta da diretoria se fechou atrás de nós, um silêncio desconfortável se instalou. Sasha olhava para o lado, como se quisesse sair logo dali. Leena apenas ajeitava o cabelo, sem encarar ninguém. Lee Han estava quieto, mas alerta. E Yuma... Yuma ainda me observava.
Mesmo sem falarmos muito, havia algo não dito pairando no ar. Todos ali sabiam: não fomos convocados só por causa das nossas bestas raras. Tinha algo mais.
Respirei fundo. O sistema, como sempre, aproveitou o momento.
[Sistema de Progresso Universal Integrado]
ATENÇÃO: Você ativou o início do ATO 1.
Título: As Raízes da Corrupção
Objetivo principal: Descubra e elimine os magos negros infiltrados na Academia Ludik.
Penalidade por falha: MORTE.
Recompensas: Fornecidas de acordo com sua contribuição individual.
“Ótimo”, pensei. “Finalmente começou.”
Me virei para os outros. Mesmo sem termos proximidade, eu precisava plantar sementes. Esse ato… não era algo que eu conseguiria lidar sozinho.
— Ei, Lee Han.
Ele ergueu uma sobrancelha, surpreso por eu chamá-lo pelo nome.
— Hm?
— Lembra quando o diretor falou que a Academia tava observando a gente?
— Sim... — ele respondeu, desconfiado.
— Eu tenho a impressão de que tem coisa demais acontecendo por aqui. Coisa suja. Gente de dentro se mexendo por trás. — Fiz uma pausa, depois continuei. — Só tô dizendo... se algo estranho acontecer, talvez seja melhor a gente manter um olho aberto. Um no outro também.
Ele cruzou os braços.
— Tá sugerindo que a gente trabalhe junto?
— Nada tão direto. — Dei de ombros. — Mas se cruzarmos com o mesmo inimigo... seria burrice lutar separados.
Ele analisou minhas palavras por alguns segundos. Por fim, assentiu lentamente.
— Eu não gosto de você — respondeu, direto. — Mas seria mais idiota ainda ignorar o que tá acontecendo aqui. Se algo aparecer… eu escuto. Só não tente me manipular.
— Nem preciso — respondi, com um leve sorriso. — Você é esperto demais pra isso.
Enquanto ele virava o rosto, uma nova janela do sistema apareceu — só para mim:
[Missão Secundária Oculta – Vínculo Estratégico]
Você iniciou uma colaboração forçada com o protagonista da narrativa original.
Objetivo: Ganhe confiança parcial de Lee Han sem causar suspeitas.
Recompensa: +1 Runa Intermediária (sorteada aleatoriamente), +100 EXP
Por trás de mim, ouvi Leena murmurando algo para Sasha. Yuma me lançou mais um daqueles olhares... como se quisesse ler minha alma.
Sim... o jogo tinha começado.
De volta ao meu quarto, deixei o uniforme sobre a cadeira e me joguei na cama. A noite caía lá fora, mas o cansaço ainda não tinha espaço. A adrenalina mantinha meu corpo atento.
Eu fechei os olhos por um segundo. Um mapa flutuante da academia apareceu diante de mim — cortesia do sistema após o Ato 1 começar.
[Dados Reunidos - Classificação Sombra]
Possíveis Alvos Corrompidos:
Professor de Teologia (atividade noturna suspeita nas catacumbas).
Um assistente da ala médica (acesso irregular a materiais de sangue).
Aluno da Classe A: “Deren Vayel” (relatos de mana negativa constante).
Observações: Os alvos não estão totalmente confirmados. Movimente-se com cautela. Rastrear fluxos de corrupção com sua habilidade “Percepção Abençoada” pode ajudar.
— Tch... o professor de teologia, hein? Irônico.
Levantei da cama, peguei meu cristal de registro, e comecei a desenhar runas de detecção por sobre ele. A runa “Chave do Vazio” tremeluziu na palma da mão enquanto analisava os traços ocultos do mapa.
Uma onda de energia sutil percorreu minha pele.
No centro do mapa, abaixo do setor religioso, uma pequena marca pulsava... escura.
— Bingo.
[Sistema: Rastreio inicial confirmado.]
Você localizou uma zona de influência abissal. Nível de corrupção: Baixo, mas crescente.
Você recebeu: +25 EXP
Deixei o quarto às escondidas. As luzes dos corredores estavam reduzidas. A maioria dos alunos ainda se recuperava da aula intensa de domadores. Mas eu? Eu estava apenas começando.
Meus passos eram silenciosos. Ativei “Percepção Abençoada”, e o ar se preencheu de tons suaves — azul claro para bênçãos, vermelho para maldições.
Na bifurcação antes da ala da teologia, vi uma tênue trilha vermelha se arrastar pelo chão como se fosse uma veia viva.
Segui.
Cheguei até uma porta simples. Deveria levar a uma sala de materiais, mas estava entreaberta. Puxei de leve.
O som de alguém murmurando uma oração... distorcida.
Me escondi atrás da estante. Meus olhos se ajustaram à escuridão.
Lá estava ele: o professor de teologia. De costas, diante de um altar improvisado com velas negras e símbolos proibidos. A energia ao redor... vibrava em dissonância com o restante do prédio.
Estava corrompido, sem dúvidas.
Eu podia tentar atacá-lo ali. Mas algo me impediu. Ele não estava sozinho. Havia... uma sombra atrás dele. Algo que sussurrava direto na alma.
Me afastei. Devagar. Não era hora de morrer por arrogância.
Voltei para o quarto sem ser notado. Quando fechei a porta, uma nova notificação apareceu.
[Relatório Parcial Enviado ao Sistema]
Você detectou um dos pontos de corrupção do Ato 1.
Contribuição: 5%
Recompensa Parcial: +100 EXP | +1 ponto de INT
Sentei na cama.
— Se eu continuar assim... talvez consiga sobreviver. Talvez até vencer esse jogo.
Mas dentro de mim, algo respondia. O pacto.
A voz do esquecido.
Você viu apenas a superfície, Siuk. A verdadeira podridão está mais perto do que imagina.
Sorri de canto.
— Então vamos cavar mais fundo.
O sol da manhã filtrava pelas janelas da biblioteca mágica, e o cheiro de pergaminhos antigos me dava uma leve dor de cabeça.
Lee Han estava lá. Como sempre, cercado por livros, com uma postura impecável e um olhar firme. Os outros alunos evitavam se aproximar dele — talvez intimidados por sua reputação, talvez pela aura estranhamente poderosa que ele exalava desde que invocou aquela besta divina.
Me aproximei com cautela.
— Você é Lee Han, certo?
Ele ergueu o olhar, e por um instante, seus olhos analisaram cada camada da minha alma.
— Han Siuk. O garoto que quase foi expulso no julgamento da diretoria. Precisa de algo?
Direto. Frio. Como um espelho da minha antiga vida.
— Só... uma pergunta. Você acredita que todos aqui são exatamente o que dizem ser?
Ele fechou o livro com calma.
— Claro que não. Essa escola fede a segredos. — Fez uma pausa. — E você não é exceção.
Sorri, forçado.
— Digamos que... estou interessado em manter certas coisas no lugar.
Ele cruzou os braços, ainda me encarando com firmeza.
— Está me convidando para alguma coisa?
— Uma cooperação informal. Nada muito comprometedor. Mas se você notar algo estranho... me avisa.
Lee Han riu de leve, como se fosse absurdo, mas não recusou.
— Você tem coragem, Siuk. Isso é bom. Mas cuidado: se pisar em falso, não serei eu quem vai te derrubar... vai ser o próprio sistema.
[Sistema: Afinidade com Lee Han: 1/100]
Recompensa: Registro de Presença Compartilhada — Suas ações não geram suspeita mútua enquanto estiverem próximos.
Saí da biblioteca. O coração batia forte.
Lee Han havia aceitado, mesmo que de forma velada.
Talvez eu tivesse conquistado o aliado mais perigoso da história original.
—
Mais tarde, durante o clube de pesquisa arcana, uma figura se aproximou de mim.
Cabelos cor de vinho escuro, olhos violeta e um colar com símbolo de uma deusa lunar. Seris Velan.
Uma das heroínas ocultas da obra original. E uma médium poderosa.
— Han Siuk. Você mexeu com algo profundo... e ele te respondeu.
Arregalei os olhos por um segundo.
— Você consegue sentir?
Ela tocou meu ombro e sussurrou:
— Seu pacto é antigo. Algo que até os deuses evitam. Mas eu gosto disso.
Me afastei um passo, e ela sorriu.
— Me procure quando quiser respostas. Ou quando estiver pronto pra ver além da névoa.
[Sistema: Afinidade com Seris Velan: 2/100]
Recompensa Oculta Ativada: “Olhos da Intuição Lv.1” — permite sentir intenções ocultas durante interações sociais.
De volta ao dormitório, joguei-me na cama, ofegante.
O Ato 1 havia começado. E eu não estava mais sozinho.
[Sistema – Ato 1 Ativo]
Missão: Derrote ou exponha todos os magos negros infiltrados na Academia Ludik antes da Lua do Sangue (15 dias restantes).
Contribuição mínima para sobreviver: 15%
Penalidade por fracasso: Morte
Recompensas variam conforme o impacto de suas ações.
Fechei os olhos e respirei fundo.
O som abafado dos passos ecoava pelas escadarias escuras. A entrada da catacumba oculta atrás da estátua do Fundador só era conhecida por quem tivesse lido os apêndices secretos da novel original… ou tivesse vivido como eu.
— Você tem certeza que isso é seguro? — perguntou Sasha, franzindo o cenho. Sua varinha tremia levemente em sua mão.
— Segura não é a palavra certa — respondi, sorrindo de canto. — Mas com a minha presença aqui… é menos mortal do que parece.
Yuma me lançou um olhar desconfiado, mas curioso. — E como você sabe o caminho?
— Eu sou bom com mapas... e segredos — desconversei. “E porque o autor deixou isso bem detalhado, principalmente as armadilhas escondidas.”
Lee Han caminhava em silêncio à frente, mas seus olhos estavam afiados. Ele sabia que algo estava fora do normal, mas ainda assim aceitava minha liderança. Aos poucos, eu estava ganhando espaço com ele.
E então, como um sussurro maligno, a primeira armadilha se ativou.
Clack.
— PAREM! — gritei, avançando e empurrando Yuma para o lado e puxando Sasha para trás.
Lanças de mana negra surgiram do chão em estocadas traiçoeiras. Uma teria atravessado Yuma no peito se eu não tivesse me movido a tempo. O susto foi tão grande que ela caiu sentada no chão, ofegante.
— Isso... era uma armadilha de morte instantânea — murmurou Sasha, pálida.
— É... bem-vindas às catacumbas — disse, estendendo a mão para Yuma com um sorriso meio idiota.
Ela olhou pra mim por dois segundos. Depois pegou minha mão e se levantou com um sorrisinho contido.
Avançamos.
Outras duas armadilhas quase pegaram Sasha — dardos envenenados e uma parede esmagadora. Nas duas vezes, eu me antecipei.
Na terceira vez, Yuma tropeçou em um piso de runas amaldiçoadas. De novo, fui rápido. Quebrei a runa com um golpe de mana precisa antes que ela ativasse.
— Você tem algum tipo de sorte insana ou um pacto com o próprio deus da trapaça — ela murmurou, se encostando na parede, sem fôlego.
— Talvez os dois — respondi, coçando a nuca com um sorriso torto. — Ou talvez só passei tempo demais lendo livros inúteis sobre armadilhas esquecidas.
Sasha me olhou com olhos diferentes. Antes era desconfiança. Agora… era algo mais suave. A forma como ela segurou meu braço quando o chão tremeu indicava que estava começando a me ver como alguém confiável.
Chegamos à câmara central da primeira parte das catacumbas. No centro, uma criatura de ossos dourados se levantava. Um cão monstruoso com três olhos e presas de cristal: Can Ceris, o Vigia de Setekh, um guardião abençoado por um antigo deus da sabedoria.
— Isso... não devia estar aqui — sussurrei, sentindo um arrepio. — Essa criatura só aparece no final do Ato 1…
Yuma e Sasha se armaram. Lee Han puxou sua espada curta encantada. Eu avancei.
— Han Siuk! Vai fazer o quê?! — Sasha gritou.
— Acertar o ponto cego dele. Entre a terceira costela da lateral esquerda — falei como se fosse óbvio. — É onde o núcleo dele está instável.
Lee Han me encarou por um momento. Depois assentiu e avançou comigo.
A batalha foi violenta. Lee Han mostrava sua força natural, mas foi com minhas instruções que conseguimos virar o jogo. Cada comando, cada orientação de fraqueza, me deixava mais próximo deles.
Sasha me cobriu com feitiços de contenção. Yuma usou magia de reforço em mim. E no final, fui eu quem perfurou o núcleo.
O monstro caiu com um grito seco, virando poeira brilhante.
Você derrotou: Guardião Abissal Can Ceris (Rare – Divino).
EXP: +2.300
Reputação entre aliados aumentada.
Afinidade com Sasha Luniz: 9/100
Afinidade com Yuma Renei: 6/100
Você recebeu: Fragmento de Sabedoria de Setekh (Raro)
Condição especial cumprida: Estratégia Decisiva
Habilidade adquirida: “Instinto de Batalha Lv.1”
— Você... realmente sabia o que estava fazendo — disse Lee Han, suado, mas em pé.
— Aparentemente, você não é só boca — Sasha completou, cruzando os braços com um meio sorriso.
— Isso foi impressionante… e meio idiota. Mas impressionante — Yuma comentou, rindo baixo.
Eu cocei a cabeça, corando levemente. — Eu só não queria que vocês... explodissem.
Elas riram.
Por mais idiota que eu fosse… hoje eu ganhei um pouco mais do que só experiência.